O médico receita um remédio com uma dose de 5 mg, mas, na farmácia, você encontra uma promoção tentadora na dose de 10 mg. É só cortá-lo ao meio, certo? Errado. Este é apenas um dos 7 erros de medicação mais comuns cometidos pelos brasileiros, segundo farmacêuticos ouvidos pelo portal do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon. Veja quais são e como evitá-los.
- Abrir a cápsula para dissolver o conteúdo na água
“Se o paciente abre a cápsula para ingerir o pó de maneira isolada, com líquidos, além de o princípio ativo poder perder suas propriedades, também corre o risco de irritar a mucosa gástrica ou intestinal”, explica a farmacêutica e bioquímica Márcia Sena, fundadora da Senior Concierge.
A cápsula faz com que o medicamento seja dissolvido, liberado e absorvido aos poucos. Se a pessoa tiver dificuldade de ingeri-la, deve avisar o médico para ele veja se o mesmo princípio ativo existe sob outra forma farmacêutica: dispersão, emulsão, lâmina de absorção sublingual, solução ou xarope.
- Cortar o medicamento
“Nenhum comprimido deve ser partido”, alerta a farmacêutica. Os revestidos são os que merecem mais atenção. “O revestimento protege o medicamento da ação da luz, do ar e da umidade, que provocam a degradação da substância ativa e a perda da ação.”
E nada de aproveitar uma promoção de uma dosagem maior e parti-lo ao meio. “É praticamente impossível cortar em metades iguais”, justifica. “Vamos dizer que seja um medicamento para regular a pressão. Quando a pessoa toma uma parte, com 53%, por exemplo, a pressão fica ok, mas, quando toma a dos 47%, essa dosagem pode não segurar a pressão, que acaba subindo. Ao longo do tempo, esse sobe-e-desce pode ser extremamente deletério à saúde.” Além disso, estudos mostram que, mesmo usando equipamentos de corte, há diferença na dosagem de cada porção.
- Dobrar a dose em caso de esquecimento
Esqueceu-se de tomar o remédio? “Volte a tomá-lo assim que lembrar. Mas nunca dobre a dose”, alerta Sena.
- Guardar os remédios na cozinha ou no banheiro
Os medicamentos devem ser mantidos longe do calor, da umidade e da luz, ou seja, jamais podem ser deixados na cozinha perto do fogão ou forno, no banheiro ou no carro. Também recomenda-se conservá-los dentro de suas respectivas caixas, com a bula.
Outro ponto importante é retirá-los do blister (invólucro de alumínio) somente na hora da ingestão, pois foi desenvolvido para resistir a agressões normais, como excesso de exposição a calor e umidade. “Tirar das embalagens pode fazer com que o fármaco reaja com o ambiente e sofra contaminações”, diz o farmacêutico Rafael Ferreira, doutorando em medicina celular e molecular pela Faculdade de Medicina do ABC.
“Quem faz uso de muitos medicamentos e costuma utilizar embalagens fracionadas com todos eles juntos deve ficar atento à higiene do suporte”, lembra Sena. “O ideal é que se organizem esses medicamentos para, no máximo, uma semana. O prazo de validade escrito na caixinha diz respeito àquela embalagem. Ao modificá-la, modifica-se também o medicamento.”
- Ingerir o medicamento com leite
Por ser rico em cálcio, o leite pode diminuir o efeito de alguns medicamentos, especialmente dos remédios usados no tratamento de problemas da tireoide, como a Levotiroxina; de alguns antibióticos, como Levofloxacina, Quinolonas, Tetraciclina ou Norfloxacino; ou dos suplementos de ferro.
“Isso acontece porque o cálcio se liga às substâncias presentes nesses remédios, tornando-as mais difíceis de absorver no estômago, especialmente se for ingerido duas horas antes ou depois da tomada do medicamento”, explica Sena.
“A alimentação pode interferir na ativação ou inativação do fármaco”, assinala Ferreira. Por isso ele recomenda perguntar ao médico qual seria o momento ideal para tomar cada tipo de medicação.
Ele explica que “alguns podem ser favorecidos, como o ferro, uma vez que sua associação com vitamina C é positiva, mas, em outros, é fundamental não ter interação com a alimentação, como os gastroprotetores”.
- Misturar com bebida alcoólica
“Essa mistura pode potencializar o efeito do remédio e intoxicar o organismo, ou ainda atrapalhar o efeito terapêutico”, adverte a farmacêutica. A maioria dos medicamentos, assim como o álcool, é metabolizada no fígado, e essa mistura pode demandar muito trabalho do órgão. Algo semelhante pode acontecer com os anti-inflamatórios, mas, neste caso, as alterações ocorrem nos rins.
E atenção: “Ansiolíticos, antidepressivos e antialérgicos com álcool nunca”. O mais comum, afirma Sena, é potencializar os efeitos colaterais, causando sintomas como náuseas, tonturas, sonolência e diminuição da habilidade motora, principalmente no caso dos antialérgicos. Já no caso de ansiolíticos ou antidepressivos, a mistura pode ocasionar depressão do sistema nervoso central, parada respiratória, coma e até morte.”
- Tomar de uma vez vários remédios
Quem toma muitas drogas deve pedir auxílio para o médico ou para o farmacêutico para elaborar um calendário diário. Deve mencionar os medicamentos prescritos por todas as especialidades e não esquecer dos suplementos (como vitaminas, ômega 3 e ginseng) e fitoterápicos.
Para melhores resultados, avalia Ferreira, o ideal é a administração fracionada, com intervalos de duas horas entre os fármacos. “Mesmo não sendo o mais prático, é o mais aconselhável para bons resultados terapêuticos”, destaca ele. E exemplifica: não se deve tomar sulfato ferroso com antiácido ou antibiótico com antiácido, sem ao menos uma hora de intervalo entre eles. “Eles competem entre si, sofrendo desativação.”
“O consumo de múltiplos remédios [mais de 5], chamado de polifarmácia, aumenta consideravelmente os riscos como toxidades cumulativas e menor adesão ao tratamento das doenças”, complementa Sena. “Portanto, o consumo deve ser feito de maneira segura e consciente.”
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