Prevenção é a palavra-chave para evitar 90% dos casos de AVC (acidente vascular cerebral), uma das doenças mais temidas tanto pela letalidade – é a segunda causa de mortes no Brasil – como pelas sequelas que deixa em quem sobrevive. Essa é a conclusão de um estudo internacional, que listou 10 fatores de risco para AVC que são controláveis e o impacto que a vigilância sobre cada um eles causa na redução de ocorrências.
Confira a lista:
- Hipertensão - lidera o ranking e seu controle pode diminuir em 47,9% o número de casos de AVC
- Sedentarismo (35,8%)
- Colesterol (26,8%)
- Alimentação inadequada (23,2%)
- Obesidade (18,6%)
- Estresse (17,4%)
- Tabagismo (12,4%)
- Doenças cardíacas, principalmente um tipo de arritmia, a fibrilação atrial (9,1%)
- Alcoolismo (5,8%)
- Diabetes (3,9%)
Esses itens foram associados a 90% dos casos, em todas as regiões estudadas, entre jovens e idosos, homens e mulheres. O estudo, que envolveu 26.919 participantes em 32 países, inclusive o Brasil, foi publicado em 2016 na revista especializada “The Lancet”.
Para o neurologista Eli Faria Evaristo, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a principal contribuição do estudo Interstroke foi quantificar o impacto que o controle desses fatores de risco tem na prevenção dos casos. Segundo ele, os itens da lista já são conhecidos pelos médicos como situações danosas. Mas não havia informações comprovadas sobre a influência de cada um deles em termos de risco atribuível.
“Era sabido que hipertensão é fator de risco bastante comum. Vê-la como, de longe, a principal responsável, isso realmente o estudo trouxe de maneira mais clara, mais contundente”, afirma o médico. E completa: “Se a gente tivesse que escolher um único fator de risco e atacá-lo com toda a intensidade, atacar a hipertensão contribuiria com uma prevenção maior do que os outros [fatores]. Essa dimensão da importância da hipertensão como fator de risco foi algo com que o estudo contribuiu”.
A lista se aplica à população geral, mas alguns fatores podem variar de região para região, dependendo dos hábitos e do acesso à saúde preventiva, diz Evaristo. Nas urbanas e industrializadas, por exemplo, o estresse pode ser um problema maior. Já em locais onde o acesso à saúde básica é precário, os moradores podem apresentar pior controle da pressão e do diabetes, além de ter maior ingestão de bebidas alcoólicas.
Incidência
O AVC é caracterizado pela perda rápida da função neurológica, decorrente do entupimento (AVC isquêmico) ou rompimento (AVC hemorrágico) de vasos sanguíneos cerebrais.
É hoje a segunda maior causa de morte no Brasil, com cerca de 110 mil casos por ano, ou um óbito a cada 5 minutos. Fica só um pouco atrás do infarto agudo do miocárdio, embora em algumas regiões menos desenvolvidas seja ainda a principal causa de mortes.
Envelhecimento
O envelhecimento, segundo o neurologista, é uma fase crítica, por aumentar o risco de ocorrência desses fatores que contribuem para o AVC. “As mudanças que o organismo tem do ponto de vista do metabolismo fazem com que a glicemia fique pior, que os controles de pressão se alterem”, afirma.
Além disso, uma das doenças cardíacas de maior risco para AVC, a fibrilação atrial (um tipo de arritmia), tem sua incidência muito aumentada com a idade. “De 10% a 15% das pessoas acima de 80 anos têm fibrilação atrial, simplesmente pelo envelhecimento do sistema elétrico do coração”, afirma Evaristo.
Estatísticas apontam que, a partir dos 55 anos, o número de casos de AVC dobra a cada década.
O que fazer
O combate a esses 10 fatores de risco começa com a adoção de hábitos saudáveis, como atividade física regular, alimentação balanceada, controle do peso e do estresse, redução da ingestão de bebidas alcoólicas e abandono do tabagismo.
As visitas regulares ao médico são importantes para manter sob controle a hipertensão, o colesterol, o diabetes e as eventuais doenças cardíacas.