Órfãos com lares temporários, vítimas de violência com assistência jurídica ou psicológica, animais de rua com abrigo, desabrigados com um teto. O primeiro e mais óbvio resultado de um trabalho voluntário está na transformação da comunidade – em ações que podem ser vistas ou sentidas por quem precisa de ajuda. Mas, se os impactos são claros para quem recebe, também são para quem pratica. Há benefícios surpreendentes do voluntariado, que deixam marcas na saúde física e mental, na empregabilidade, na concepção de tempo e nas relações sociais.
Confira, a seguir, como o trabalho voluntário pode mudar sua vida.
- Sensação de mais tempo
Doar seu tempo a outras pessoas pode fazer com que você se sinta com mais horas no relógio. Pode parecer paradoxal, mas essa foi a constatação da professora Cassie Mogilner, da Wharton School da Universidade da Pensilvânia, nos EUA.
Em dois estudos, ela pediu a pessoas que escrevessem cartas para crianças doentes e que dedicassem algumas horas na manhã de sábado para ajudar alguém. Quem colaborou tinha mais chances de dizer que o futuro parecia “infinito”. Em um terceiro experimento, voluntários ajudaram a editar dissertações de alunos de ensino médio em situação de risco. Além de estarem menos propensos a classificar o tempo como escasso, tinham maior probabilidade de dizer que havia algum tempo de sobra.
Segundo ela, foram levantadas teorias para explicar essa percepção, como o aumento de conexões sociais, o surgimento de um significado e a alegria em ajudar. Mas a explicação principal foi que pessoas que doam seu tempo se sentem mais capazes, confiantes e úteis. Essa eficácia faz com que sintam que o tempo é mais expansível.
- Visibilidade em seleções
Uma pesquisa feita pela consultoria Deloitte com 2.506 pessoas em 2016 mostrou que apenas 30% dos currículos apresentam experiência em voluntariado. A maioria dos respondentes (82%), no entanto, afirmou que estaria mais propensa a escolher um candidato que doasse seu tempo e expertise a uma causa.
- Dose extra de inspiração
“Doar conhecimento, na base de 10 horas por semana, não é drama nenhum pra quem gosta de doar. Por uma razão simples: com o tempo, descobrimos que é o melhor valor a compartilhar, porque recebemos inspiração para inovar mais ainda”, assinala a consultora Marcia Catherine Wright, 57 anos, que foi voluntária no planejamento de negócios sociais e organizações do terceiro setor.
- Melhora na pressão arterial
Pessoas com mais de 50 anos de idade que foram voluntárias por, pelo menos, 200 horas por ano estiveram menos propensas a ter pressão alta do que as que não praticaram voluntariado. Os dados são de uma pesquisa longitudinal feita por quatro anos nos Estados Unidos e publicada no periódico científico “Psychology and Aging”. O mesmo estudo mostrou que 200 horas ou mais de voluntariado por ano melhora também o bem-estar psicológico.
- Aumento na longevidade
Quer viver mais? Tenha uma atividade voluntária sem motivos pessoais, mas tão somente por razões altruísticas. É o que mostra um estudo da Universidade de Michigan, nos EUA, que acompanhou quem tinha atividade voluntária por dez anos e quem não atuava em uma causa. O risco de mortalidade era menor no primeiro grupo e, especialmente, entre quem mantinha mais regularidade e frequência.
- Salto no bem-estar
Ter uma atividade voluntária impacta positivamente seis aspectos: felicidade, satisfação com a vida, sensação de controle sobre a vida, saúde física e depressão. Os pesquisadores da Universidade Vanderbilt, nos EUA, comprovaram ainda que pessoas com uma grande sensação de bem-estar investem mais horas em voluntariado.
- De novo o bem-estar
Na pesquisa acima e na que relacionava atividade voluntária à melhora na pressão (item 4), já havia sido previsto um aumento no bem-estar. E isso vale também para quem tem mais de 60 anos de idade, segundo um estudo inglês com dados do English Longitudinal Study of Ageing, que envolveu 5.512 pessoas. Por dois anos, quem dedicava seu tempo a uma causa apresentou uma melhora em relação a quem não investia em atividades voluntárias em quatro indicadores: sintomas de depressão, qualidade de vida, satisfação com a vida e isolamento social.
- Impacto na depressão
Americanos com 25 anos ou mais de idade que faziam trabalho voluntário tiveram níveis mais baixos de depressão dos que não se dedicavam à atividade, segundo estudo da Universidade de Tennessee, em Knoxville. Tem mais: o voluntariado afetou o declínio do transtorno em quem havia passado dos 65 anos de idade.
- Conexões sociais
“Cheguei lá sem conhecer ninguém”, diz a aposentada Luiza Rizzi, 74 anos, sobre o grupo de voluntariado ligado à Igreja Católica. Duas vezes por semana, num total de 32 horas por mês, ela desenvolvia atividades nas áreas de vestuário e alimentação de moradores de rua, num grupo de oito pessoas. “Tudo era muito gratificante”, conta, acrescentando que o bate-papo trafegava por sonhos, pesadelos e atividades na semana. Quando interromperam o serviço de almoço – que, mais tarde, se transformou em lanche da madrugada –, desligou-se da atividade. Mas manteve as amizades que formou no voluntariado.
- Novas habilidades
E se os impactos na saúde física e mental, na empregabilidade, nas conexões sociais e na sensação de aumento de tempo ainda não forem suficientes para se engajar em uma atividade voluntária, considere isso: você pode desenvolver novas habilidades. Muitas empresas têm permitido que seus funcionários computem o voluntariado corporativo como hora trabalhada, de olho no desenvolvimento de competências como liderança, empatia e resolução de problemas.
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