Viver a longevidade com orgulho é uma conquista que precisa ser respeitada. Contudo, ainda está longe de ser garantida à população LGBTQIA+ idosa no Brasil. Embora o país tenha aumentado sua expectativa de vida para mais de 76 anos, especialistas alertam que as pessoas LGBTQIA+ enfrentam uma série de vulnerabilidades no processo de envelhecimento. Em junho, mês do Orgulho LGBTQIA+, o tema ganha destaque, mas os desafios persistem ao longo do ano.
A invisibilidade dessas pessoas nos serviços de saúde é um dos maiores entraves, o que impede que muitos vivam a longevidade com orgulho. A ativista Dora Cudignola, de 72 anos, é presidente da associação EternamenteSOU, que acolhe pessoas idosas LGBTQIA+. Em entrevista à Agência Brasil, ela afirmou que “tanto o SUS como qualquer local voltado para a saúde deveria ter profissionais e médicos preparados para nos receber. Muitos não entendem ou não sabem como lidar. Mesmo com as dificuldades e demoras, o SUS ainda é o melhor lugar para a gente, mas os profissionais precisam saber como lidar”.
Dora defende que o envelhecimento deve ser vivido com autonomia, identidade e prazer. “Envelhecer não pode ser ficar com dó de você mesma, porque aí envelhecemos o corpo e a mente, e nossa mente precisa ser a melhor, é ela que nos ajuda a viver melhor”, reforçou.
Para ter longevidade com orgulho é preciso políticas públicas específicas
Diego Felix Miguel, especialista em gerontologia e presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG-SP, destaca que o Estado precisa agir. “A gente sabe que existem muitas pessoas idosas LGBT, mas não sabemos a quantidade e quais são as demandas reais dessas pessoas. Temos uma questão da rede de suporte social fragilizada dessas pessoas e temos uma invisibilidade das demandas reais por parte do poder público”, disse à Agência Brasil.
Segundo ele, a rede de suporte social é fragilizada e o poder público ignora essas demandas. “Na velhice, em nome de um cuidado digno, essas pessoas tendem a retornar para o armário [sufocar suas identidades]. Principalmente na fase final da vida, quando elas dependem daquele ambiente, dependem daqueles profissionais”, afirma. Ele defende serviços específicos para garantir que essas pessoas cheguem vivas e com dignidade ao envelhecimento.
Dados apresentados por Diego no Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia revelam que a maioria das instituições de longa permanência não está preparada para atender essa população. “Muitas dessas instituições, principalmente as filantrópicas, vêm de cunho religioso. Além disso, tem o desafio também dos profissionais e como essas pessoas lidam com esse cuidado, e como entendem sobre gênero e orientação sexual”, apontou.
As agressões não partem apenas dos profissionais. Muitas vezes, vêm de familiares de outros residentes, que se opõem à convivência com pessoas LGBTQIA+. “Até mesmo os familiares de outros residentes, que, por exemplo, podem dizer que não querem que seus familiares compartilhem quarto com essas pessoas. Isso é extremamente perverso, violento, e evidencia uma desigualdade de poder”, disse Diego.
Crédito: Nuva Frames/Shutterstock
Solidão e acesso à saúde ainda são obstáculos para ter longevidade com orgulho
O geriatra Milton Crenitte, doutor em ciências pela USP e apoiador da EternamenteSOU, destaca que a solidão é um dos maiores inimigos da longevidade LGBTQIA+. “A solidão, infelizmente, pode matar. A gente tem dados, hoje, na literatura médica, mostrando que solidão e isolamento social são tão nocivos quanto fumar, quanto ter hábitos não saudáveis, quanto não controlar algumas doenças crônicas”, alertou em entrevista à Agência Brasil.
Em sua pesquisa, Crenitte identificou que pessoas 50+ LGBTQIA+ sentem mais medo de morrer sozinhas e de sofrer discriminação no fim da vida. Ele afirma que o acesso à saúde vai além da porta de entrada da unidade de saúde.
O especialista aponta ainda desafios específicos para cada letra da sigla. Mulheres lésbicas fazem menos exames preventivos que mulheres heterossexuais. Homens gays sofrem com a pressão estética. Pessoas trans enfrentam exclusão desde cedo, o que afeta a saúde física e mental na velhice.
“Ser LGBT no Brasil é um fator independente para a pessoa estar num grupo de pior acesso à saúde”, afirmou. O geriatra reforça que envelhecer com saúde é um direito, mas não está sendo garantido. Para o especialista, se uma população está deixada de lado, esse direito não está garantido para ninguém.
Travestis e mulheres trans enfrentam envelhecimento com dor e exclusão
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) tem investigado o envelhecimento de travestis e mulheres trans com mais de 45 anos. A presidente Bruna Benevides denuncia que a negligência médica acompanha essas pessoas desde a infância. “Na velhice, esse abandono se manifesta em dores físicas, doenças não tratadas, saúde mental devastada”, comentou.
Bruna afirma que essa é a primeira geração trans a envelhecer no Brasil. “Mas este envelhecimento não ocorre ocorre de uma forma confortável, segura e tranquila. Há muitas mazelas e dores físicas e psicológicas nesse processo”, apontou. A associação exige acesso à saúde básica e também a uma atenção transespecífica, com profissionais preparados.
Viver longevidade com orgulho só será uma realidade se o envelhecimento for acompanhado de respeito à diversidade. Especialistas reforçam que o direito a envelhecer com dignidade, cuidado e saúde não pode depender da orientação sexual ou identidade de gênero. É preciso garantir, agora, políticas que acolham e respeitem todas as formas de existir.
Quer ter acesso a uma série de benefícios para viver com mais qualidade de vida? Torne-se um associado do Instituto de Longevidade MAG e tenha acesso a Tele Saúde, descontos em medicamentos, mais de 200 cursos com certificado, Seguro de Vida e assistência residencial e outros benefícios.
Fale com nossos consultores e saiba mais!
Leia também:
Longevidade com qualidade de vida é um desafio global para o futuro
Envelhecer bem e com qualidade: 8 sinais de que você está fazendo da forma correta