Você é daquelas pessoas que pensa que não adianta reclamar? Acredita que assinar abaixo-assinados é perda de tempo? Pois saiba que nem sempre é assim. Recentemente, uma turma muito aguerrida conseguiu reverter uma causa que parecia perdida. Por mobilização de diversos grupos de ativistas (particularmente de países latinos, como Brasil, Portugal e América Latina), a classificação do envelhecimento como uma doença foi barrada.
Como assim? Existe um catálogo oficial das doenças existentes, a CID (Classificação Internacional de Doenças). É um documento fundamental para identificar tendências estatísticas sobre as enfermidades e para facilitar o trabalho e colaboração de profissionais da saúde mundo afora. A CID é revista periodicamente. Algumas doenças deixam o catálogo, outras passam a constar. Estas mudanças se dão por diferentes razões. Às vezes, é por conta de questões culturais. Um bom exemplo disso é que a homossexualidade já esteve listada como doença na CID, décadas atrás.
Para a próxima edição, que deve ser lançada em 2022, um grupo de empresas e profissionais vinha advogando a entrada do envelhecimento como doença catalogada na CID. A grande questão por trás dessa posição é a seguinte: a indústria farmacêutica é movida por pesquisas. A criação de remédios requer grande investimento em conhecimento e a realização de testes que levam anos. Ou seja: gasta-se muito antes de se fazer dinheiro. Ter uma determinada condição categorizada como doença na CID é uma forma de facilitar às indústrias o acesso a recursos para realização das pesquisas, junto às agências de financiamento. Isso tudo é compreensível.
Crédito: Bricolage/Shutterstock
O problema que fez com que muitos se posicionassem contra esta categorização é só um: envelhecimento não é doença, para precisar de remédios que o combatam. Por mais que fosse útil para os pesquisadores de certas áreas que houvesse esse reconhecimento, ele seria extremamente prejudicial em vários aspectos. Já discutimos muito aqui no portal do Instituto de Longevidade MAG a questão do preconceito etário, que se manifesta em diversas esferas da sociedade (no mercado de trabalho, nos serviços de saúde, na publicidade e comunicação pública etc.). Ter o envelhecimento oficialmente reconhecido como doença poderia reforçar ainda mais esses preconceitos e os seus impactos na vida das pessoas.
Outra consequência negativa seria a negligência no combate e busca de tratamento de outras doenças que, com frequência, acometem pessoas mais velhas, e que deixariam de ter sua frequência corretamente avaliada. Um idoso poderia ter seu óbito atribuído à doença “envelhecimento”, em vez de ao Parkinson, ao Alzheimer ou a qualquer outra enfermidade. A decisão final sobre a questão ainda não foi tomada. O uso de outros termos estão em estudo, como “Declínio da capacidade intrínseca”. Por ora, o debate segue aberto, mas uma coisa ficou certa: a sociedade não aceita nenhuma categorização que coloque os idosos como pessoas doentes e improdutivas.
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