As Olimpíadas de Tóquio começaram nesta sexta-feira (23) com uma belíssima cerimônia de abertura no Estádio Nacional, na capital japonesa, mas sem a presença do público devido à pandemia de Covid-19. E mesmo com o estádio vazio, as comitivas de atletas não desanimaram e desfilaram acenando para as câmeras de TV do mundo todo.
Das 28 edições realizadas dos jogos olímpicos, esta é a 22ª que o Brasil participa. E como sempre, o país segue cheio de promessas de medalha. Embora o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tenha evitado estabelecer uma meta para não colocar pressão nos atletas, a expectativa é de que o desempenho da delegação brasileira seja semelhante ao dos jogos do Rio 2016, quando o Brasil teve a melhor colocação de sua história, terminando na 13ª colocação e faturando 19 medalhas (7 de ouro, 6 de prata e 6 de bronze).
Para as Olimpíadas de Tóquio, o Brasil aposta em sete jogadores com grandes chances de trazer o ouro para casa. São eles: Alison dos Santos (400m com barreiras), Pâmela Rosa (skate - street), Isaquias Queiroz (canoagem), Beatriz Ferreira (box), Arthur Zanetti (ginástica artística), Tatiana Weston-Webb (surfe) e a dupla Martina Grael e Kahena Kunze (vela).
Muitos nomes brasileiros foram verdadeiras estrelas nos jogos olímpicos ao longo do tempo. Dezenas de atletas fizeram fama e fortuna com a assinatura de contratos milionários capazes de garantir segurança financeira por toda a vida, não somente do atleta, mas de algumas gerações de familiares. No entanto, infelizmente, esses casos foram poucos.
Poucas são as histórias de campeões olímpicos que tiveram educação financeira para se manterem confortáveis após o final de suas carreiras e muitos são os motivos para isso. Muitos vieram de famílias muito pobres, de realidades bem distantes das que alcançaram com a fama no esporte. Ganharam dinheiro muito rapidamente e, da noite para o dia, viram seu padrão de vida mudar da água para o vinho. Eram jovens, cheios de sonhos e ambições, sem educação financeira e com uma família que também não sabia lidar com o dinheiro. Os gastos cresceram, a vida mudou e logo se adequaram à nova realidade. Mas carreira de atleta é muito curta, logo eles saem da crista da onda e perdem contratos. O dinheiro para de entrar e o atleta precisa se readequar a essa nova realidade, o que na maioria das vezes é muito difícil.
Educação financeira é fundamental para manter o padrão após uma vida dedicada aos esportes. Foto: kovop58 / Shutterstock.
Foi assim que muitos ex-esportistas se afundaram em dívidas. Estrelas como Garrincha, o ex-piloto Emerson Fittipaldi e o capitão do penta, Cafu, apesar de todo o dinheiro que ganharam, não conseguiram garantir estabilidade financeira até a velhice.
Mas há os que trilharam caminhos diferentes e conseguiram alcançar a tão sonhada longevidade financeira, como o rei Pelé, a rainha Hortência e o ex-jogador de basquete Guilherme Giovannoni, que trocou os troféus e as medalhas pelas planilhas financeiras, estudou e passou a atuar como assessor de investimentos para outros atletas.
“Eu tenho encarado como uma missão a orientação financeira para os atletas, para depois que param de jogar terem um colchão para fazer a transição de carreira. Eu tento dar o meu exemplo, mas também trazer o hábito de cuidar do patrimônio, para quando chegar o momento ele possa ter tranquilidade para escolher um novo caminho”, disse Giovannoni e, entrevista ao Valor Investe.
Ele explica que a carreira de um jogador é bem mais curta que a de outros profissionais, durando de 15 a 20 anos. Na maioria das vezes, quando o atleta encerra seu período ativo, ele ainda é muito jovem, com muitos anos pela frente. E aí vem o desafio da longevidade: como fazer para ganhar mais, gastar bem, poupar certo, investir melhor e proteger o patrimônio.
Com uma linguagem fácil, Giovannoni prepara os atletas para a transição da vida de competições para os muitos anos que ainda estão por vir. “No período produtivo, para economizar e investir pode ser em aplicações de médio e longo prazo”, exemplifica.
“Depois, quando vai chegando mais próximo do tempo de pensar em parar de jogar, faltando um ou dois anos, pode fazer uma transição para ter uma renda e poder decidir com tranquilidade no período que fica sem ocupação”, conclui o ex-jogador.
Pode gastar, mas com educação financeira
O jogador de futebol William Machado, mais conhecido como William Capita, seguiu caminho semelhante a Giovannoni. Após abandonar os campos, formou-se em Ciências Contábeis e fez prova para a Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord), tirando certificado para atuar como agente autônomo.
Logo cedo, Machado entendeu que o valor do contrato não era suficiente para garantir o sucesso financeiro do atleta. Era preciso educação financeira. Como qualquer outro profissional, o atleta que começa a ganhar dinheiro está sujeito a cometer erros. A diferença está na escala, porque eles conseguem ganhar muito dinheiro em pouco tempo e perder grandes quantias rapidamente, quando já lhes resta pouco tempo para repor.
"Diferentemente de outras profissões, o valor do passe dele é divulgado, sai na mídia. E assim atrai muita gente que quer tirar algo do novo milionário. É visto como oportunidade de negócio. Vira alvo", explica.
Para Giovannoni, os sonhos das pessoas podem e devem ser realizados, seja o de comprar uma casa, um carro ou viajar o mundo todo. O importante, para o assessor de investimentos, é que tudo seja realizado com consciência e planejamento para evitar o endividamento.
Ele lembra que é importante se preparar para essa transição durante a vida ativa porque, muitas vezes, os problemas acontecem ainda nesta fase, como uma contusão ou uma fratura que obriguem o atleta a encerrar sua carreira antes do tempo.
Diferentemente das decisões tomadas na quadra, durante o jogo, Giovannoni explica que, nas finanças, vale a pena agir com mais calma, ter cautela, estudar mais o mercado para então escolher a melhor opção. "A paciência é um dos maiores ativos que você tem que ter no mundo dos investimentos”, garante.
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