Falar sobre família não é uma tarefa tão fácil. As mudanças que ocorrem na sociedade interferem na construção das novas relações, a família adquire novos vínculos, que exige interação dos seus membros, pois convivem em condições culturais e sociais diferenciadas.
A família é uma instituição social que independente das variantes de desenhos e formatações da atualidade, se constitui num canal de iniciação e aprendizado dos afetos e das relações sociais. (Carvalho, 1994).
Consideramos como família, pessoas que vivem juntas, podendo ter laços consanguíneos ou não, mas que assumem compromissos e dividem responsabilidades.
Elencamos a seguir três características da família na atualidade, e pontuamos estratégias de intervenção no trabalho profissional com famílias. As características pontuadas sobre a família, não é uma condição permanente, pois as relações se constroem e se modificam.
Família extensa:
Aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (art.25, parágrafo único, ECA).
- Famílias monoparentais:
Família do tipo monoparentais, isto é, composta por pessoas que vivem sem cônjuge, com um ou vários filhos (Lefaucheur, 1997; Vitale, 1999).
- Família reconstituída:
É a família na qual ao menos um dos adultos é um padrasto ou uma madrasta. (GRYSARD FILHO, 2010, p. 85).
Independente do arranjo familiar, são inúmeros desafios para enfrentar no dia a dia, principalmente, quando se tem um membro que possui algum tipo de deficiência, seja ela intelectual, física ou múltipla, mas não podemos esquecer, que toda família tem sua capacidade protetiva.
Pensar em intervenção no trabalho com famílias, nos remete a pensar em rede de relações sociais, agrupamento humano com necessidades e obrigações mútuas. Na área de Envelhecimento da APAE DE SÃO PAULO, um dos instrumentos utilizados no trabalho com famílias, é a elaboração do Projeto Terapêutico Singular, conhecido como PTS. Esse instrumento possibilita o compartilhamento dos saberes entre os diferentes profissionais e atenção em todas as áreas da vida.
O PTS é definido como conjunto de propostas terapêuticas compartilhadas entre os membros de uma equipe multidisciplinar, com a coparticipação da pessoa atendida ou do seu grupo social primário. Os objetivos do PTS consistem em promover a autonomia da pessoa sobre seu próprio plano terapêutico compreender as suas demandas e condição de saúde e consequentemente, poder definir propostas de ações para mudar a sua relação com a vida ou com a própria doença.
A abordagem dos profissionais de forma integrada amplia os cuidados para além da família conjugal, promovendo a inserção social. Conhecer a rede de parentesco em que a pessoa atendida está inserida permite encontrar fontes de apoio.
A inclusão da pessoa com deficiência em seu território, assim como trazer a família para uma maior participação e envolvimento, é essencial para que tenhamos efetividade das ações. A inclusão da pessoa em equipamento do seu território faz parte dos objetivos do PTS.
Muitas vezes, a família não tem informação dos recursos disponíveis em seu bairro. É importante que o profissional tenha conhecimento da disponibilidade dos serviços e como a família pode ter acesso.
Nesse sentido, Santos (2007) cita que o território tem que ser entendido como o território usado, não o território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho; o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida.
Outra intervenção no trabalho com famílias é a participação em grupos. Os grupos são espaços importantes de apoio, troca de informação, participação e discussão. Os grupos educativos representam uma ferramenta valiosa por permitir a interação entre os participantes, as pessoas se sentem encorajadas quando estão entre iguais. Perceber que há outras pessoas com problemas semelhantes encoraja a expressão e fortalece a solidariedade grupal.
Quando nos referimos ao grupo socioeducativo, a tarefa a que se propõe é contribuir para que as famílias possam perceber-se enquanto sujeitos de direitos, com a autonomia e a cidadania como elementos norteadores do trabalho social junto a elas. Aprender em grupo significa uma leitura crítica da realidade, uma atitude investigadora, uma abertura para as dúvidas e para as novas inquietações.
Para realizar um trabalho efetivo junto às famílias, seja para esclarecer sobre os recursos do território em que a família reside ou para inseri-la em grupos o profissional precisa estabelecer um vínculo. O vínculo é uma ferramenta eficaz e auxilia na participação da família e na continuidade da procura aos serviços. O profissional deve se atentar para não ter pré-julgamento, ter uma escuta qualificada, possibilitando reconhecer as reais necessidades.
A participação do assistente social possibilita a exposição de opiniões e o mais importante, ouvir o que o outro tem a dizer. Com foco não somente na participação e organização para defesa de direitos, mas também no fortalecimento dos vínculos afetivos da família e de seus membros, espaço para trocas, para o exercício da escuta e da fala, da elaboração de dificuldades e de reconhecimento de potencialidades.
REFERÊNCIAS:
Revista Quadrimestral de Serviço Social-Ano XXIII---N.71-Setembro 2002
http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Pesquisa/pibic/publicacoes/2011/pdf/dir/iara_de_santana.pdf.
Envelhecimento e deficiência intelectual: uma emergência silenciosa./Laura Maria de Figueiredo Ferreira Guilhoto (Org.); Cynthia Helena Marlin (Coord.). 2.edrev.e ampl. São Paulo: Instituto APAE DE SÃO PAULO, 2013.
http://redehumanizasus.net/90344-gestao-da-clinica-e-pts/.
AUTORA:
Por Rode Dias Pereira é Assistente Social da área de Envelhecimento da APAE DE SÃO PAULO. Assistente social, formada pela Universidade Nove de Julho. Pós-graduação pela FMU em Trabalho Social com Famílias.