A contadora Dina Barile é a pessoa certa para negar aquele dizer do “nem tanto ao céu, nem tanto ao mar”.
Por sinal, a frase tem origem na mitologia grega e foi um conselho de Dédalo para seu filho Ícaro, que ganhara asas para fugir do labirinto de Creta. O zeloso pai queria evitar que elas fossem queimadas pelo Sol ou destruídas pela umidade do oceano.
Pois, com essa brasileira de 61 anos, não tem dessas precauções com extremos: ela já voou mais alto do que se pode imaginar. E mergulhou a fundo nas águas marinhas. Afinal, conhecer todos os cantos do mundo – e até alguns fora dele – são a sua especialidade.
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E atenção aos números. Aliás, Dina Barile é formada em estatística também, além de ser bacharel em ciências atuariais. Então, calcular é com ela mesma: já soma 138 a quantidade de países que ela visitou em suas andanças pelo planeta.
“Faltam 52 para chegar aos 190 listados pela ONU”, afirma. Em relação ao turismo em território brasileiro, ela só não esteve, ainda, em Rondônia.
A esta altura, você, leitor, já deve estar se perguntando como ela consegue bancar tantas viagens. Não se trata de riqueza herdada ou algo parecido. E ser questionada sobre a origem dos recursos para tantas jornadas é algo que a tira do sério. Isso porque, já que mencionamos as asas de Ícaro, pode-se dizer que seu estilo de vida foi conquistado a duras penas.
Aurora Boreau, fenômeno observado à noite em regiões polares causado pelo impacto de partículas de vento solar com a alta atmosfera da Terra. Créditos: Arquivo pessoal
Filha única de imigrantes italianos, ela se recorda de uma infância de posses financeiras limitadas, morando na cidade em que nasceu e está até hoje, São Paulo.
“Meus pais chegaram a viver em um cortiço”, afirma. Desde cedo, então, aprendeu bem a lição de ser econômica. “Nunca gastei com roupas de grife, por exemplo”, diz. “Sempre guardei todos os meus ganhos para viajar.” E, mesmo durante as viagens, garante que faz de tudo para não esbanjar.
“Ano após ano, alternava uma viagem para o exterior com outra para algum lugar no Brasil”
Durante os 30 anos em que foi funcionária do banco Banespa – que depois se tornou Santander –, Dina Barile, hoje aposentada, manteve um constante e prazeroso hábito em todas as férias que tirou. “Ano após ano, alternava uma viagem para o exterior com outra para algum lugar no Brasil”, afirma.
O gosto por desbravar caminhos mundo afora foi despertado já na primeira viagem, quando tinha 20 anos e já ganhava o próprio dinheiro. Assim, decidiu levar a mãe, junto com dois tios, para uma visita à sua terra natal, a Itália.
Deserto de Dubai, nos Emirados Árabes. Créditos: Arquivo pessoal
“Também pegamos um trem para percorrer a Suíça e a Áustria”, completa. O pai não foi – não são dele, aliás, os genes da inquietude espacial que ela herdou. “Meu pai [que morreu há 11 anos] odiava viajar”, conta.
Dina Barile e seu pulo no espaço
Logo depois desse pulinho na Europa, a aposentada resolveu conhecer os Estados Unidos. Até então, seguia um roteiro meio básico para quem aprecia o turismo.
A partir da terceira saída do Brasil, porém, abraçou de vez aquela que considera sua principal característica como viajante: a preferência por lugares exóticos.
Caça MiG 29, utilizado em combates aéreos. Créditos: Arquivo pessoal
“Escolhi, assim, ir para a Índia e o Egito, por causa dos templos e das pirâmides”, justifica. E entrega duas de suas grandes paixões: “Tenho fascinação por desertos e vulcões”.
Dina Barile diz gostar de fato de localidades que têm algo único e especial a oferecer como atração. Caso das paisagens da Islândia, que fizeram da viagem para esse país uma de suas prediletas de todos os tempos.
E, mesmo quando integra excursões, ela dá um jeito de driblar protocolos e encontrar refúgios inusitados que estão fora do radar dos organizadores dos passeios.
No Turcomenistão, na Ásia, arrebanhou dois outros membros do grupo de viagem para dar uma escapada até o Portal do Inferno, campo de gás natural que forma uma espécie de cratera com um fogo que queima sem parar desde 1971. O ponto não fazia parte do roteiro.
Deserto da Namíbia, na África Austral. Créditos: Arquivo pessoal
Mergulho no Taiti, ilha da Polinésia Francesa. Um total de 1.200 degraus escalados para entrar em um templo no Butão. Comer carne de cavalo no Cazaquistão. Realizar incontáveis cruzeiros pelos mares mundo afora.
O capricho de não ter achado Paris “nada de mais”: “É só uma cidade bonita”, resume. Entre tantos feitos, um se destaca pelo caráter mais que inusitado: um verdadeiro e literal ponto fora da curva.
Em 2015, Dina Barile se tornou a primeira e única mulher brasileira a chegar até a estratosfera, em uma viagem organizada pelo astronauta Marcos Pontes, hoje ministro da Ciência e Tecnologia.
O programa exigiu uma “escala” na Rússia, em uma base de lançamento espacial, de onde a contadora foi “catapultada” para além da atmosfera. Ela pilotou um caça MiG 29, utilizado em combates aéreos, e viu com os próprios olhos a curvatura da Terra – para a desilusão dos terraplanistas.
Ilha de Madagascar, na costa leste da África. Créditos: Arquivo pessoal
Ela também se orgulha de ter sido uma das escolhidas para conduzir a Tocha Olímpica em São Paulo, por ocasião dos Jogos do Rio de 2016. E até criou um portal para, além de relatar suas aventuras, abordar outros temas, como beleza e gastronomia, e ainda divulgar ONGs e entidades assistenciais que não têm verba para se promover.
As aventuras amorosas de Dina Barile
Mesmo suas idas e vindas amorosas estão relacionadas às viagens. Namorou um inglês observador de pássaros que conheceu na Antártida. E um alemão que encontrou no Alasca. Eles, no entanto, não acompanharam seu pique de turista. “Quando viajei com o namorado da Alemanha para as Maldivas, muitas vezes ele preferia ficar lendo enquanto eu praticava mergulho”, lembra.
Tailândia, no Sudeste asiático. Créditos: Arquivo pessoal
E, na única vez que resolveu acompanhar o ritmo estacionário de um amor, o resultado não foi dos melhores. Em 2017, reencontrou, 43 anos depois, um namorado da adolescência, e voltaram a ficar juntos. Ele, avesso aos deslocamentos geográficos, também a impedia de viajar, “por ciúmes”.
“Quero ainda conhecer uns 20 países mais”
De qualquer forma, acabaram indo juntos para Aruba e Curaçao, ilhas do Caribe. “Ele não gostou de nada”, afirma Dina. Quando voltaram, o homem começou a “dar perdidos” na contadora. A relação terminou em sofrimento. “Chorei durante oito meses”, diz ela.
Depois desse episódio, Dina Barile se define como “aposentada” das incursões amorosas. Das viagens, por sua vez, nem pensar. Já planeja, por exemplo, uma trilha na África para ver gorilas.
Vietnã, república socialista do Sudeste da Ásia. Créditos: Arquivo pessoal
“Quero ainda conhecer uns 20 países mais”, contabiliza. Afinal, sua conta preferida é mesmo a do número de cantos do mundo – e até fora dele – que já visitou. Ou que ainda vai visitar.