O dicionário de Oxford oferece várias definições do significado de viver, incluindo "desfrutar ao máximo a vida" e "passar por determinada experiência; vivenciar". Cada jornada de vida, cada vivência e cada experiência são únicas. É exatamente por essa razão que se pode afirmar que envelhecer não é igual para todos.

Durante a infância e a adolescência, muitos pais incentivam os filhos a cultivarem sua autenticidade e singularidade. No entanto, ao longo do processo de envelhecimento, frequentemente surge uma ideia preconcebida de como é uma pessoa idosa ideal.

Essa representação estereotipada pode simplificar a diversidade da experiência do envelhecimento. A realidade é que as pessoas idosas são tão diversas quanto as jovens, com uma ampla gama de interesses, estilos de vida e aspirações.

Se envelhecer não é igual para todos, pessoas idosas também não são iguais. Mas por que o rótulo “idoso” muitas vezes carrega uma conotação negativa para tantas pessoas?

Por que ser chamado de idoso incomoda tanto?

De acordo com a Constituição Brasileira, uma pessoa idosa é aquela que atinge a idade de 60 anos. O que significa dizer que é apenas uma classificação etária. No entanto, juntamente com essa definição de "pessoa idosa" surgem algumas percepções e estereótipos.

Fran Winandy, Consultora e Palestrante especializada em Diversidade Etária e Etarismo, diz que “temos um estereótipo formado na cabeça de como é a imagem física de uma pessoa velha. Em geral, é essa pessoa de cabelos branquinhos, com o rosto enrugado, muitas vezes com a coluna curvada, usando roupas meio ‘sem graça’, de cores mais pálidas e que cobrem partes do corpo que não querem mostrar. Esquecemos que um idoso, nos dias de hoje, pode ter várias idades e vários jeitos!”.

Fran explica que é possível fazer um paralelo com a questão de gênero. As mulheres de 60 anos, por exemplo, podem ser bem diversas:

  • As que circulam em vários ambientes, trabalham, estudam e sentem-se incluídas socialmente;
  • As que não trabalham nem estudam, mas cuidam da casa, de um ou outro filho ou de um neto, além da sogra doente.

Mesmo sendo diferentes, podemos considerar que esses grupos possuem mulheres ativas, que se sentem parte da sociedade e que não se consideram velhas.

Por outro lado, existem aquelas com pouca interação social, que não demonstram interesse em adquirir novos conhecimentos, não cuidam da saúde ou da aparência e acreditam que têm pouca contribuição a oferecer à sociedade. A sensação de envelhecimento as aproxima ainda mais da velhice.

“Quando nos sentimos velhos, envelhecemos de fato.”

Uma pessoa idosa é uma pessoa velha?

Fran, que também é autora do livro “Etarismo, um novo nome para um velho preconceito”, pontua que é necessário mudar a narrativa sobre o que é ser uma pessoa idosa. Segundo a especialista:

“Citei as mulheres de 60 anos, perfil no qual me encaixo, mas um idoso no Brasil pode ser alguém de 70, 80, 90, 100 anos ou mais! O tempo que passamos como idosos é maior do que qualquer outra fase da nossa vida e tende a aumentar, já que estamos vivendo mais! Por isso, temos que mudar essas narrativas sobre o que é ser um(a) idoso(a).

Começando pelas terminologias. Aqui, do meu lugar de fala, de mulher com 60 anos de idade, não gosto de ser chamada de velha ou de idosa. São termos que trazem uma carga mais pesada, que não combinam com a forma como me sinto. Nomenclaturas que apontam para algo desatualizado, antigo, invisível e não para algo descolado, interessante e com repertório, que é o que a palavra deveria trazer.”

Ela ainda acredita que a longevidade é um assunto que deveria interessar a toda sociedade. Por isso, os esforços para abordá-lo deveriam vir de várias áreas sociais, como, por exemplo, dos veículos de comunicação. Como formadores de opinião, muitas vezes esses são os meios são os responsáveis por nos induzir a uma imagem estereotipada de pessoas com mais de 60 anos. Os próprios veículos ainda possuem dificuldade em compreender que envelhecer não é igual para todos.

Se envelhecer não é igual para todos, é preciso buscar o seu motivo para viver mais e melhor

Manter-se ativo é uma maneira eficaz de envelhecer com saúde. Ao mantermos nosso corpo e mente envolvidos em atividades que nos interessam, podemos desfrutar de uma vida mais gratificante, independentemente da idade.

Marilton Alves, mais conhecido como DJ MAAF, tem 60 anos e trabalha com faturamento hospitalar. Em sua perspectiva, envelhecer faz parte de um processo natural. Brinca dizendo: “se me chamam de velho eu digo que sou vintage”.

DJ MAAF tem a música como uma grande conexão entre amigos e família. Sua paixão pela Rádio Cidade, que acompanha desde 1977, fez parte desse processo. Para ele, o afeto pela emissora criou um carinho por aqueles que compartilham do mesmo sentimento. Assim nasceram novos amigos e ciclos sociais.

“As novidades fizeram com que tivéssemos acesso aos locutores e aos ouvintes, facilitando assim as novas amizades. Algumas até pessoalmente. Meu aniversário de 60 anos foi comemorado junto da galera [da Rádio Cidade] na Quinta da Boa Vista”. E com bom humor, Marilton completa “como diz a música do Ira, envelheço na cidade”.

É fundamental socializar e descobrir atividades pelas quais nos apaixonarmos para envelhecer de maneira saudável. Como envelhecer não é igual para todos, a jornada de autoconhecimento é essencial. Para Marilton, a idade não importa; o que realmente importa é ser feliz.

“O que vale é manter a sua idade mental sempre ativa e com pensamentos positivos. Ouçam rock, dancem, seja música eletrônica ou forró. É isso que nos põe para cima. Como diz a Pitty: o importante é ser você.”

Envelhecer não é igual para todos e sonhos não envelhecem

E nesse processo de redescoberta da felicidade, as artes podem desempenhar um papel importante. A dança, por exemplo, foi um marco na vida de Márcia Brandão, mais conhecida como Marcinha. Com um profundo amor pela dança, aos 53 anos Marcinha decidiu começar aulas de balé.

Atualmente com 56 anos, Márcia é aposentada e trabalha com artesanato, pintura e bazar. Quando era criança, costumava dizer que seria bailarina. No entanto, nunca teve a oportunidade de fazer balé, pois vinha de uma família numerosa, com uma mãe batalhadora que não podia atender a todos os desejos dos filhos. Mesmo assim, o sonho de dançar nunca a abandonou.

“E o tempo foi passando. As pessoas voltando naquela velha história de ‘ você está velha para isso, você está velha para aquilo’. Eu falava sempre nunca estaria velha para fazer balé. E que na hora que tivesse uma oportunidade, entraria em uma academia e faria aula. Eu ia ser bailarina.”

Há três anos, ela viu a propaganda de uma professora de São Paulo que ensina balé para pessoas com mais de 50 anos. A mensagem parecia estar sendo direcionada para ela. Imediatamente tomou a decisão de se inscrever. Para Marcinha, era a oportunidade única para realizar seu desejo.

“Então não falta mais nada na dança, porque eu consegui realizar esse sonho.”

Marilton e Márcia, personagens da matéria sobre o tema envelhecer não é igual para todos.Na esquerda, Marilton. Na direita, Márcia. Divulgação: Arquivo Pessoal

Envelhecer não é igual para todos, portanto, aproveite o momento presente

Marilton acredita que o processo de envelhecimento saudável é impactado pelas relações que fazemos na vida. O amor e o respeito, nesse processo, são fatores essenciais e indiscutíveis. Para ele, “é preciso estar sempre em contato com todas as faixas etárias, pois além de ensinar o que sabemos, também temos muito a aprender. Além disso, não devemos focar só nas coisas ruins, o que passou fez parte da nossa missão”.

Já Marcinha relaciona uma vida longeva à saúde e cuidados ao corpo e à mente. Ela conta que “se cuidar, cuidar do corpo, cuidar da mente, cuidar do espírito é o que a gente tem que fazer nessa vida. Temos que nos cuidar. Até para podemos cuidar de alguém ou se expressar em relação às coisas que acontecem no mundo, eu acho que a gente tem que estar bem. Na vida temos que escolher coisas que a gente acha que pode melhorar, sempre”.

“Eu estou aqui, estou vivendo. Enquanto eu tiver saúde e força para fazer o que eu quiser, eu vou fazer. Não importa a minha idade”

Fran ainda pontua que o combate ao preconceito etário deve vir de todos os âmbitos sociais. Seja com a implementação de ações dentro de empresas dando oportunidades para profissionais de todas as faixas etárias, seja com a execução de projetos na esfera pública. Para ela:

“A multiplicidade de ações seria a forma mais eficaz de se combater os vieses inconscientes que todos temos com relação às questões da longevidade.”    

Entender que envelhecer não é igual para todos é fundamental para viver mais e melhor. Neste Dia da Pessoa Idosa, celebre a sua idade e todas as coisas boas que foram construídas até agora. Ainda há muito pela frente.


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