Esta semana, assim do nada, me lembrei do show de Tony Bennett e Lady Gaga. Tonny Vemnett aos 95 anos, e Lady Gaga, aos 39, subiram juntos ao palco do Radio City Music Hall para a série de shows “One Last Time”. Foi o último grande ato de Tony na carreira – diagnosticado com Alzheimer em 2016, ele ainda cantava com clareza cristalina, lembrava todas as letras e, segundo a própria Gaga, “era o mesmo Tony de sempre” quando a música começava. 

Lady Gaga e Tony Bennett no MusiCares 2015 Person Of The Year Gala, no Centro de Convenções de Los Angeles, em 6 de fevereiro de 2015, em Los Angeles, Califórnia. Imagem para ilustrar a matéria nunca é tarde para brilhar. Crédito: Adam McCullough/Shutterstock

A ciência explica o milagre. Estudos publicados em 2023 e 2024 na revista Neurology e no Journal of Alzheimer’s Disease mostram que a prática musical intensa ao longo da vida cria uma “reserva cognitiva” excepcional. Cantores profissionais como Tony apresentam até 40% menos atrofia no hipocampo e no córtex pré-frontal do que pessoas da mesma idade sem treinamento musical. 

Em resumo: quem cantou, tocou ou dançou a vida inteira tem um cérebro mais “blindado” contra o envelhecimento patológico. Outro dado apresentado no Alzheimer’s Association International Conference de 2025 (julho, Filadélfia): músicos diagnosticados com demência leve a moderada mantêm a capacidade de reconhecer e reproduzir melodias familiares mesmo quando já não reconhecem parentes próximos. A música acessa áreas do cérebro que a doença ainda não conseguiu destruir. Quando Gaga cantava “The Lady is a Tramp” com Tony, ela literalmente estava “ligando” o cérebro dele de novo. E não é só Alzheimer. 

Um estudo longitudinal de Harvard com mais de 120 mil pessoas (2024) mostrou que aprender um instrumento musical após os 60 anos reduz em 36% o risco de declínio cognitivo em dez anos. Dançar regularmente (foxtrote, tango, samba, o que for) diminui em 76% o risco de demência, segundo meta-análise da New England Journal of Medicine de 2023. Tony e Gaga não foram só um show. Foram prova científica em forma de arte. Aqui no Brasil já vemos isso acontecendo. Na última Virada Cultural de São Paulo, uma senhora de 87 anos, Dona Neuza, subiu ao palco da Praça das Artes para cantar “Garota de Ipanema” com a banda da casa. O público chorou. Ela disse depois: “Enquanto eu canto, eu não envelheço”. 

A ciência concorda com ela. Em 2025, o Instituto do Sono de São Paulo começou um protocolo pioneiro: pacientes com Alzheimer leve participam de corais semanais. Resultado preliminar (dados divulgados em outubro): melhora de 28% na fluência verbal e 31% na memória episódica após apenas seis meses. Então, quando alguém te disser que “já passou da idade” para aprender piano, dançar forró, cantar no karaokê ou fazer aula de teatro, mostre este artigo. Mostre Tony Bennett aos 95 anos, de terno impecável, cantando “I Left My Heart in San Francisco” com a mesma voz de 1962. 

Mostre Lady Gaga chorando nos bastidores, dizendo: “Ele é minha maior inspiração”. Porque a ciência já provou: o cérebro que canta, dança e se emociona simplesmente se recusa a envelhecer. E se Tony Bennett pôde, aos 95, fazer um dos shows mais emocionantes da história da música americana com Alzheimer avançado, imagine o que você ainda pode fazer aos 60, 70, 80 – com o cérebro 100% saudável e cheio de vontade. A idade não apaga o brilho. Às vezes, ela só muda a tonalidade da luz. E que luz foi aquela no Radio City Music Hall. Que a gente nunca pare de cantar. Porque enquanto houver música, haverá vida. E enquanto houver vida, haverá palco. Sua, sempre em movimento! 

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