De ambiente familiar a um local asséptico. De símbolo de status a área de isolamento. Em quase 200 anos, o escritório mudou – e, com ele, seu significado para os funcionários. É essa a trajetória que o escritor e jornalista Nikil Saval traça em 'Cubiculados – a história secreta do local de trabalho'.

Mais do que apenas traçar a evolução dos escritórios ao longo do tempo, Saval tenta explicar o porquê do ódio ao espaço. Para isso, ele lança mão de pesquisas – como a promovida por uma empresa de móveis, feita em 1997, que demonstrava que 93% dos atendentes preferiam outro ambiente. Ou, uma mais recente, de 2013, realizada na Austrália, na qual os trabalhadores de escritório eram os apresentavam a maior insatisfação com o local de trabalho.

Casos também são usados por ele. O escritor, que também é editor da revista literária “n+1”, começa a obra relembrando o caso de um homem que destrói seu terminal de trabalho, jogando o monitor do computador em direção a outra baia e chutando divisórias. Ele só para quando é imobilizado, no chão, incapacitado por uma arma de eletrochoque. O vídeo do dia de fúria foi parar nas redes sociais.

Até filmes entraram na narrativa. Quem não se lembra de “Uma Secretária de Futuro”, com Harrison Ford e Melanie Griffith, em que a funcionária toma o lugar da executiva? “Como Eliminar Seu Chefe”, em que três trabalhadoras assediadas pelo chefe o prendem em sua própria casa, também está entre os longas analisados.

 Autor usa cena de “Como enlouquecer seu chefe” para falar sobre ódio ao espaço. Crédito: Reprodução

Esses recursos dão leveza para que, com humor, ele também acene para as transformações sociais e econômicas do período estudado – fundamental para o entendimento da transformação dos escritórios. E para abordar de que forma as gerações têm lidado com mudanças nesse ambiente, que já foi familiar, passou a ser a segunda casa de milhões de trabalhadores e chegou a ser execrado, de forma que o lema fosse separar “o trabalho e a vida”.

Saval aborda os recentes coworkings, espaços compartilhados entre pessoas que precisam de uma mesa, uma cadeira e uma sala de reuniões para o ofício. Agora, escreve ele, esse “fenômeno atrai apenas um pequeno segmento da força de trabalho. Mas espera-se que esse segmento cresça”.

E completa, sobre a adoção das empresas de um modelo que dá mais autonomia de trabalho para os funcionários: “A flexibilidade não precisa mais ser um chamariz no manual do empresário para manter os empregados dóceis e aquiescentes. A flexibilidade, como a tecnologia, é uma ferramenta, uma oportunidade: fica lá, inerte, até que alguém a utilize”.


Segundo ele, “a complacência dos funcionários ao abrir mão de privilégios e status, como mesas e salas individuais, não é apenas um sinal de estar cedendo às demandas de controle de custos por parte dos executivos, mas sugere também que a trajetória da carreira que definiu o colarinho-branco durante gerações – do cubículo à sala acarpetada, ou da equipe de estenógrafas ao altar – está chegando ao fim, e uma nova modalidade de trabalho, ainda indefinida, está tomando seu lugar.” Cabe aos trabalhadores, finaliza o escritor, usar essa liberdade para tornar os espaços verdadeiramente seus.

'Cubiculados – a história secreta do local de trabalho'


Autor:
Nikil Saval
Tradução: Angela Lobo de Andrade
Editora: Rocco
Preço: R$ 49,50

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