A administradora Denise Mazzaferro, 45 anos, mestra em gerontologia pela PUC-SP, diz que se considera uma missionária em relação ao tema longevidade. “A velhice sempre foi para mim sinônimo de amor, de positividade, e me incomoda muito o que tem sido feito com os idosos”, afirma. “Precisamos dar visibilidade a eles.”

Junto com Renato Bernhoeft, consultor em transição de gerações, ela lança hoje (6), no Unibes Cultural, o livro “Longevidade: os Desafios e as Oportunidades de se Reinventar” (Editora Évora, 190 págs., R$ 30). O livro contextualiza o envelhecimento da população brasileira e como o trabalho se insere nesse cenário, com dicas para desenvolver projetos de longo prazo a partir da discussão de casos reais.

Em entrevista ao Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, a autora ensina como se preparar para ter uma vida melhor na maturidade.

Como surgiu a ideia de escrever o livro?

Em 2010, pedi demissão da empresa em que trabalhava e passei seis meses pesquisando o mercado de envelhecimento. No mestrado de gerontologia social na PUC-SP [Pontifícia Universidade Católica de São Paulo], refleti sobre que sociedade é essa em que vamos viver, a partir de 2030, com mais idosos do que jovens. Em 2013, montei a Angatu IDH, que atua na área do pós-carreira, e chamei o Renato Bernhoeft, que já realizava um trabalho de preparação de executivos para a aposentadoria, para ser sócio.

Em 2014, ele me convidou para escrever o livro. A proposta era mostrar a importância de ter um projeto de vida para a longevidade. Vemos uma supermobilização nas questões de saúde e finanças, mas ninguém fala que, se não houver um propósito de vida para 100 anos, não bastam grana e ser saudável. O livro auxilia na reflexão de espaço ocupado no mundo. A cada capítulo trazemos a história de vida de um personagem.

Além da motivação profissional, há alguma razão mais pessoal para o seu envolvimento com o tema?

Eu me sinto como uma missionária em relação ao tema. Tinha mais amor por meu avô paterno que por meu pai. Ele teve dois filhos homens e acho que tinha muita vontade de ter uma menina, e eu fui a primeira neta. A velhice sempre foi para mim sinônimo de amor, de positividade, e me incomoda muito o que tem sido feito com os idosos. Eles são apartados socialmente, ocupam um não lugar, não existem. Precisamos dar visibilidade a eles. O homem, mais que a mulher, é um ser do mundo do trabalho. Para ele, não há meio-termo: acabou o trabalho, acabou a vida.

Qual história do livro mais a emocionou?

A Vera [Lúcia Perez] foi secretária de um executivo de um grande banco. Ela se sentia muito querida e, em determinado momento, descobriu que era apenas uma funcionária, ao lhe ser negada uma oportunidade em outro cargo. Saiu então do banco, após dedicar-se por 20 anos àquele executivo, acompanhando-o até em mudanças de cidade. Era uma mulher do trabalho, que abdicou inclusive do papel de mãe em muitos momentos, e hoje não ocupa mais esse lugar nem tem um projeto de vida.

A pessoa de 50 anos tem de pensar que tem trabalho para ela, mas não há emprego”

longevidade A administradora Denise Mazzaferro, 45 anos, mestra em gerontologia pela PUC-SP; Crédito: Alessandra Anselmi

Muitos profissionais se aposentam e seguem na ativa. Que dicas você daria para quem está nessa fase de transição e indefinições?

Eu sugiro começar a entender a economia compartilhada, a economia criativa. Conectar-se com o que acontece hoje em vez de tentar repetir modelos do passado. O motorista do Uber é um prestador de serviço dentro do conceito de economia compartilhada. O mercado de trabalho está mudando. Todos nós temos de nos preparar para ser prestadores de serviço.

A pessoa de 50 anos tem de pensar que tem trabalho para ela, mas não há emprego. Ela precisa se reinventar, atualizar-se, entender que precisa ter uma reserva financeira, pagar o próprio plano de saúde. E se vender com um perfil de mobilidade e conectividade.

A experiência das pessoas conta, lógico, e é valorizada pelo mercado. Uma pequena ou média empresa não contrata um diretor como CLT, mas oferece jobs ou projetos para alguém de 60 anos.

Com que idade as pessoas devem se preparar para ter uma vida melhor na maturidade?

Com 40 anos, as pessoas começam a viver a velhice dos pais e avós _ e a ficha cai. E têm tempo para se preparar, terão ainda 20 anos de trabalho pela frente para se organizar financeiramente, o que é importante, mas não é tudo. Canso de ver gente mais velha que tem grana mas está mal psicologicamente.

Os aposentados não têm sonhos e projetos pessoais que possam realizar com o tempo livre que ganham?

Não têm, aí é que está o problema. Só lazer não vai te preencher. E ninguém muda de personalidade quando envelhece. Se você trabalhou e foi produtivo a vida toda e ocupou esse espaço no mundo, aos 70 anos não vai se mudar para uma comunidade vegana e plantar alface.

longevidade Capa do livro

SERVIÇO

Lançamento de “Longevidade: os Desafios e as Oportunidades de se Reinventar”

Quando: 6/12, 9h; haverá um painel de discussão com os autores

Onde: Unibes Cultural (rua Oscar Freire, 2.500, Pinheiros, São Paulo, SP)

Inscrições: https://www.eventick.com.br/lancamento-livro-longevidade

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