O uso de inteligência artificial por idosos vem crescendo no Brasil e no mundo, transformando não apenas a forma como pessoas maduras interagem com a tecnologia. Ele está mudando a relação com o trabalho, a arte e a vida cotidiana. Se antes o mundo digital parecia reservado aos mais jovens, hoje ele se mostra cada vez mais acessível a quem tem mais de 50 anos. Além disso, traz consigo oportunidades inéditas de aprendizado, reinvenção e autonomia.

Segundo a pesquisa Boomers: a maioria que você ainda não conhece, realizada pela Box 1824 em parceria com a McKinsey, 35% dos brasileiros acima de 60 anos já utilizam ferramentas de inteligência artificial ao menos uma vez por mês. A proporção tende a crescer. A PNAD Contínua do IBGE mostra que o uso da internet por idosos passou de 24,7% em 2016 para 66% em 2023.

Esses números revelam uma tendência de inclusão digital impulsionada por dois fatores principais: o aumento da longevidade e a necessidade de permanecer ativo em um mundo cada vez mais automatizado. A combinação de experiência de vida e curiosidade tem se mostrado poderosa no domínio das novas tecnologias.

Experiência como diferencial no uso de inteligência artificial por idosos

A inteligência artificial (IA) deixou de ser um tema restrito à ficção científica para se tornar parte da vida prática. Ela está presente nas sugestões de rotas no celular, ajudando na organização de tarefas e até criando imagens e textos. Para os mais velhos, o segredo está em saber pedir. Quando o assunto é o uso de inteligência artificial por idosos, ele se torna ainda mais amplo.

O fotógrafo Cláudio Pucci, de 58 anos, é um dos exemplos mais notáveis dessa transformação. Ele descobriu na IA uma ferramenta criativa capaz de expandir seus horizontes profissionais e artísticos. “IA é criativa, mas não é imaginativa. A imaginação vem de você”, conta Pucci, citando a frase do comunicador Walter Longo que o inspirou a começar.

Desempregado há dois anos, Pucci decidiu testar a tecnologia e percebeu rapidamente seu potencial. “Pensei: 'eu sei pedir'. Sempre assisti a muitos filmes, gosto de arte, sempre fui nerd. A partir daí mergulhei”, relembra.

Uso de inteligência artificial por idosos representa longevidade, tecnologia e reinvenção profissional

O envelhecimento populacional e o avanço da automação estão transformando a forma como pessoas mais velhas se relacionam com o trabalho e a tecnologia. Diante das mudanças, muitos profissionais têm encontrado na inteligência artificial uma ferramenta para se reinventar. Na IA, conseguem ampliar possibilidades criativas e permanecer ativos no mercado.

Para Pucci a IA é um meio de explorar novas linguagens visuais e expandir sua atuação. "A IA funciona como alguém em fase de aprendizado: pode tropeçar, mas com direção e referências certas consegue feitos incríveis. Aliás, referência é algo que os profissionais 50+ têm muito", conta o fotógrafo. Para ele, o segredo está em saber pedir.

Hoje, Pucci usa inteligência artificial para criar personagens realistas, animar memórias de família e produzir exposições virtuais com estética brasileira. A prática ainda é algo raro em bancos de imagem dominados por referências europeias. “Nos bancos de imagem tradicionais é tudo europeu. Quando aparece alguém parecido com brasileiro, todo mundo usa a mesma foto. Com a IA, posso criar personagens únicos, com cara de Brasil. Isso faz diferença”, explica.

E quando o assunto é futuro, Pucci é direto. “Acredito que elas vão perder para quem souber usar a IA, por isso todo mundo deveria começar a dar uma olhada nesse novo mundo”, afirma.

Uma mulher idosa usando IA por mensagem de voz no celular. Imagem para ilustrar a matéria sobre uso de inteligência artificial por idosos. Crédito: Solarisys/Shutterstock

Inclusão e desafios no acesso à tecnologia

Apesar dos avanços, ainda existem barreiras significativas. Dados do IBGE mostram que 66% dos idosos que não acessam a internet apontam a falta de familiaridade com a tecnologia como principal motivo. O desafio, portanto, não é apenas técnico, mas também social e educacional.

O sociólogo Anderson Gonçalves, da Unicamp, em entrevista ao Globo, explica o conceito de “idade relativa”. Nele, o envelhecimento não pode ser medido apenas por tempo de vida, mas também por fatores como renda e escolaridade. Em um país de desigualdades profundas, o acesso digital entre idosos é desigual, refletindo realidades distintas entre as regiões.

A inclusão digital, portanto, precisa ser entendida como parte das políticas públicas de envelhecimento ativo. Mais do que ensinar o uso de ferramentas, é necessário garantir conectividade acessível e estimular o letramento digital. Essa é uma condição essencial para o exercício da cidadania no século XXI.

Inteligência artificial como aliada, porém, regulada

Hoje, o Brasil ainda patina na criação de um marco legal específico para a IA. Apesar da criação de diversos projetos de lei, como o PL 2338/2023, o chamado “Marco Legal da Inteligência Artificial no Brasil”, o avanço da tecnologia segue sem regras claras de transparência, proteção de dados e responsabilidade algorítmica. 

Enquanto isso, países como Estados Unidos, China e membros da União Europeia já estruturam políticas mais robustas de governança digital. O resultado é um descompasso entre inovação e regulação. A IA cresce em ritmo exponencial, mas as proteções de direitos e a soberania digital ainda caminham em passo lento.

Para Cláudio Pucci, a chave no uso de inteligência artificial por idosos está em equilibrar inovação e sensibilidade. “Se crio um personagem com nome, não posso passar isso como real. Também dá para clonar vozes, e isso exige responsabilidade. Precisamos de regulação, mas com bom senso”, defende.

Em um mundo que valoriza boas perguntas tanto quanto boas respostas, os idosos têm muito a contribuir. Afinal, a sabedoria da vida real pode ser a peça que faltava para humanizar a era digital.


Você deseja entender melhor sobre o que é a Inteligência Articial? Quer saber como ela está presente no seu dia a dia? Então conheça a websérie Digital Sem Medo e aprenda, de forma rápida e simples, sobre o universo digital!

Leia também:

Uso da inteligência artificial revela nova relação entre humanos e máquinas

Inteligência artificial para idosos desafia aprendizado e segurança digital

A arte de pedir: fotógrafo Cláudio Pucci se reinventa com Inteligência Artificial

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: