O açúcar vicia. E mais: seus efeitos no organismo podem ser comparados aos de uma droga. “[A substância] tem o mesmo mecanismo da cocaína”, sinaliza a professora de fisiologia da nutrição da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ana Lydia Sawaya. Ou seja, quanto maior o consumo, mais necessidade a pessoa tem de ingeri-lo.
Ao comer açúcar, os níveis de dopamina – neurotransmissor químico que controla, por exemplo, a sensação de prazer no organismo – se elevam. Mas o efeito passa e, com ele, o bem-estar provocado pela substância. É nesse processo que o desejo de consumir doce aumenta.
A discussão sobre os malefícios do consumo da substância veio à tona depois do lançamento do livro “The Case against Sugar” (“O Caso contra o Açúcar”, em tradução livre), no fim do ano passado, nos Estados Unidos. A obra, que ainda não chegou ao Brasil, foi escrita pelo jornalista americano Gary Taubes, autor de “Por Que Engordamos e o Que Fazer para Evitar” e “Good Calories, Bad Calories”.
Nela, Taubes faz uma lista dos possíveis malefícios do alimento, entre eles as epidemias de obesidade e diabetes. Segundo o endocrinologista Rogério Silicani, do Hospital Israelita Albert Einstein, a gordura abdominal – resultado dos excessos na alimentação – pode liberar substâncias inflamatórias que impactam o funcionamento da insulina, acarretando diabetes.
O jornalista americano vai além e relaciona o exagero no consumo a doenças do coração, hipertensão, câncer e Alzheimer. Para Silicani, pode haver o desenvolvimento de problemas odontológicos, como cárie e gengivite.
"Pessoas com mais de 60 anos de idade podem dispensar o açúcar, substituindo por alimentos in natura"
E qual é a quantidade ideal? A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda 25 gramas por dia – menos de duas colheres de sopa. Para Sawaya, pessoas com mais de 60 anos de idade podem dispensar o açúcar, substituindo por alimentos in natura, por exemplo, quando bater aquela vontade de comer doce.
Ou ainda preparar doces caseiros, como bolos e pudins. Além de serem nutricionalmente melhores do que os industrializados, as pessoas tendem a pegar porções menores e de forma moderada, explica ela, que faz parte do conselho científico do Cren (Centro de Recuperação e Educação Nutricional). “O problema é comer todo dia. Uma ou duas vezes na semana tudo bem”.
Para a especialista em nutrição, a mudança de hábito passa pela regulamentação de propaganda, pelo incentivo ao consumo de frutas e de refeições caseiras e pela proibição de produtos industrializados nas escolas. Na avaliação de Silicani, é preciso ter controle do que é ingerido.