Quedas de idosos representam um problema de saúde pública mundial. “É uma das principais causas de morte, incapacidade e institucionalização [internações em instituição de longa permanência] nessa faixa etária”, afirma o médico Egidio Lima Dórea, professor na Universidade São Caetano do Sul e coordenador da Universidade Aberta à Terceira Idade da Universidade de São Paulo (USP 60+).
“Os dados do último Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) são preocupantes”, observa Ivete Berkenbrock, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e coordenadora da Saúde do Idoso da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (PR): 25% já tiveram uma queda, sendo que a maior ocorrência foi em mulheres a partir dos 75 anos.
Outras pesquisas, segundo os dois especialistas, corroboram o estudo, mostrando que aproximadamente 30% das pessoas com mais de 65 anos de idade caem pelo menos uma vez por ano. Depois dos 80 anos de idade, esse índice pode chegar a 50%.
Para os pesquisadores ingleses Robert Morris e Tahir Masud, autores de “Epideomologia das Quedas”, idosos com menos de 75 anos têm maior probabilidade de cair em ambientes externos, enquanto os com mais de 75 anos caem mais no interior de suas próprias residências, sendo que os que vivem sozinhos apresentam maior risco.
Outro estudo que reforça o risco de quedas de idosos, conduzido por Maria Lúcia Lebrão e Rui Laurenti, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, verificou que a frequência de quedas aumenta com a idade: 26,2%, entre 60 a 74 anos; e 36,9%, acima de 75 anos.
Apesar de as quedas poderem ocorrer em qualquer idade, explica a geriatra, para a pessoa mais velha pode representar um problema grave, levando, inclusive, a limitações que antes não existiam. “Um idoso que era funcional, ativo, passa a depender de cuidados de outras pessoas, temporariamente ou, dependendo da gravidade e da sequela, para sempre”.
Além disso, ressalta, “o medo de cair novamente pode levar a pessoa idosa a temer deslocamentos, sentir-se insegura, permanecer mais tempo sem deambular [andar à toa], sem praticar atividades rotineiras e tender ao isolamento e, assim, piorar sua condição física como um todo e, principalmente a muscular, bem como apresentar sintomas depressivos”.
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Quedas de idosos: por que elas acontecem
“Toda queda deve ser avaliada com rigor”, alerta a vice-presidente da SBGG. “E a queda não é séria só se ocasionar fratura. As fraturas são a consequência mais grave observada diariamente – são responsáveis por aproximadamente 70% das mortes acidentais em pessoas acima de 75 anos –, mas a causa deve, sempre, ser investigada, mesmo a que não ocasione fratura.”
São três os fatores associados às quedas de idosos: intrínsecos, que são próprios da condição da pessoa; extrínsecos, relacionados ao ambiente onde ela mora; e comportamentais.
Fatores intrínsecos
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Osteoarticulares e musculares: distúrbios da marcha e equilíbrio, osteoartrite, osteoartrose, osteoporose, miopatia, neuropatia e sarcopenia;
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Visuais: catarata, degeneração macular, glaucoma;
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Urinários: incontinência e urgência miccional;
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Neurológicos: AVC, déficit cognitivo, esclerose múltipla e Parkinson;
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Mentais: depressão e demência;
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Hipotensão ortostática: pressão baixa;
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Medicamentosos: anticonvulsivantes, antidepressivos, ansiolíticos, diuréticos, hipotensores e a chamada polifarmácia (vários remédios simultâneos).
Fatores extrínsecos
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Degrau sem sinalização;
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Escada sem corrimão;
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Iluminação inadequada;
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Obstáculos no caminho (móveis baixos, fios, pequenos objetos, prateleiras baixas ou elevadas);
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Sapatos ou roupas inapropriados;
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Superfícies escorregadias;
Fatores comportamentais
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Consumo de bebida alcoólica;
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Pessoas pouco ativas;
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Pessoas muito ativas.
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Quedas de idosos: como prevenir
“A melhor maneira de prevenir quedas de idosos é identificar os fatores de risco, que variam de indivíduo para indivíduo, e agir neles”, afirma o coordenador da USP 60+. Segundo ele, estudos clínicos já mostraram que essa abordagem multifatorial é efetiva do ponto de vista individual e comunitário.
Mas uma medida inicial é rastrear a queda: “O profissional de saúde tem que efetuar uma busca ativa do problema, que muitas vezes é encarado pela pessoa e pelos familiares como sendo decorrente do próprio envelhecimento, achando ‘normal’ velho cair. Perde-se com isso a oportunidade de intervir e evitar uma queda futura”.
Além disso, complementa Ivete, a pessoa idosa deve adotar cuidados com a própria saúde, como cuidar da alimentação e praticar atividade física de fortalecimento muscular e equilíbrio, como tai chi chuan, entre outras “medidas corretivas que minimizem os riscos, quando não possam ser eliminados totalmente”.
Dórea finaliza dizendo que campanhas educativas têm que ser realizadas durante todo o ano, não somente no Dia Mundial de Prevenção de Quedas (24 de junho). “Quedas são um enorme prejuízo social, econômico e pessoal. Representa uma das principais causas de anos de vida perdidos ajustados por incapacidade e anos vividos com incapacidade.”
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