Com uma dor de cabeça que a acompanhava havia dez anos, a operadora de telemarketing Célia Moreno, 51 anos, já tinha passado por três especialistas – neurologista, otorrinolaringologista e reumatologista –, feito ressonância e tomografia e se entupido de analgésicos, relaxantes musculares e anti-inflamatórios, quando, na cadeira do dentista, restaurando um dente trincado, descobriu a causa do seu problema: bruxismo.
O transtorno involuntário e inconsciente de movimento – caracterizado pelo excessivo apertamento (fortes contatos dentários, silenciosos e sem movimentos mandibulares) e/ou ranger dos dentes (contatos dentários promovidos por movimentos da mandíbula que podem gerar sons desagradáveis) –, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), acomete 30% da população mundial; no Brasil, seriam 30 milhões, segundo estimativas.
“O bruxismo é um distúrbio parafuncional de origem multifatorial, que afeta uma determinada área do cérebro responsável pela estimulação dos músculos da mastigação involuntária e pode ocorrer em todas as faixas etárias” explica o cirurgião-dentista Harllen Mello. “Após os 50 anos de idade, [a manifestação do distúrbio] depende do que a pessoa está vivendo”, pontua, lembrando que ansiedade, estresse e tensão, além de doenças como Parkinson e Huntington, podem desencadeá-lo.
Causas do bruxismo
Ansiedade ou estresse: O maior índice de pessoas com os sintomas são as que têm um alto nível de responsabilidade e dificuldades em lidar com alguns conflitos, como pressão ou raiva. “É importante conter essas emoções para que o bruxismo não apareça ou aumente.”
Má oclusão: Quando a má formação da arcada dentária não permite que todos os dentes se encostem na mordida, isso gera uma tensão no maxilar. “Para corrigir e solucionar o bruxismo, o uso de aparelhos odontológicos pode ser indicado.”
Parkinson: “A doença degenerativa do sistema nervoso central faz com que haja uma diminuição da dopamina, ocorrendo um desequilíbrio dos neurônios, levando a uma ausência de controle dos movimentos voluntários e involuntários dos músculos do corpo.”
Huntington: Como a doença genética tem como características a perda progressiva das células nervosas do cérebro, apresenta, entre outras características motoras, “contrações e rigidez musculares da face, principais relações com o bruxismo”.
Sintomas e tratamentos
Em geral, os sintomas, além de desgastes dentários, são dor na musculatura facial e/ou na articulação temporomandibular, aumento do volume da musculatura da face e erosões cervicais, enumera o especialista. “É importante a pessoa observar que alguns podem ser responsáveis por um falso diagnóstico, como cefaleia ou sinusite, que podem estar mascarando o real problema, que é o bruxismo.”
Ainda que não seja um transtorno perigoso, se não tratado, ele pode causar lesões dentárias permanentes. “Leva a amolecimento dos dentes, fratura, desgastes, problemas ósseos, ATM [disfunção da articulação temporomandibular], provoca o desenvolvimento de inflamações neuromusculares, além de apneia do sono e dores na face”, entre outros.
Os tratamentos variam. “Primeiramente, o paciente precisa ter o diagnóstico preciso de sua origem para que a melhor conduta seja indicada, podendo ser multiprofissional (psicológico, neurologista, psiquiátrico, dentista). Na área da odontologia, entramos com placas miorrelaxantes, aparelhos ortodônticos e tratamento para síndrome da apneia obstrutiva do sono.
O custo varia caso a caso, e a duração acontece diante da evolução do tratamento. “Dependendo da origem e do nível, os sintomas podem ser estabilizados”, afirma o cirurgião-dentista. Célia diz que seu alívio foi quase que imediato, que nunca mais tomou remédio e não abre mão de seu protetor bucal. “Assim como não saio de casa sem batom, não vou para a cama sem a minha plaquinha”, brinca.
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