Você sabia que 1º de outubro é o Dia do Idoso? Inicialmente, no Brasil, a data era comemorada em 27 de setembro. Porém, em razão da criação do Estatuto do Idoso, em 1º de outubro de 2006, a comemoração mudou de dia. Mas o objetivo permaneceu o mesmo: valorizar a pessoa idosa.

O aumento da expectativa de vida é um fenômeno que afeta gente de todas as idades. Afinal, quem tem hoje 20, 30 ou 40 anos também precisa agir para ter uma longevidade feliz, em que sejam supridas suas necessidades em termos profissionais, sociais, financeiros e de saúde. Até porque todos nós seremos de alguma forma beneficiados por melhorias que visam a um envelhecimento saudável e com qualidade.

Os idosos já representam a parcela da população que mais cresce no Brasil. E, para 2030, a previsão é a de que o país seja o quinto do mundo em número de indivíduos com 60 anos de idade ou mais: serão 41,5 milhões de pessoas, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Especialistas nas questões que envolvem essa transição demográfica apontam que ainda há muito a ser feito, tanto individualmente quanto pelo poder público. “O Brasil está muito aquém em relação a outros países, como os europeus, em termos de ações e de planejamento para a velhice”, afirma o professor-doutor Luiz Roberto Ramos, fundador do Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Assim, é imprescindível, segundo ele, que nos preparemos, por meio de políticas públicas e privadas, para acolher bem os mais maduros. O Instituto de Longevidade Mongeral Aegon tem atuado nessa frente.

"Precisamos olhar a conquista do aumento da longevidade como um desafio para as áreas de saúde, mobilidade urbana, trabalho, habitação e escolas, todas voltadas para uma demografia diferente daquela que temos hoje", ressalta Henrique Noya, diretor-executivo do instituto.

"Será pela promoção da inovação entre todos os agentes da sociedade que seremos capazes de atender às oportunidades advindas dessa conquista social que é o viver mais e o envelhecimento saudável. Debater sobre inovação e incentivar que ela apareça com mais frequência é o nosso objetivo", pontua.

Para quem pensa particularmente nos impactos financeiros da longevidade, Nilton Molina, presidente do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, é categórico: "Não esperem nada do Estado". Para ele, todos os veículos de investimento são importantes – reservas monetárias, aluguel de imóveis, previdência privada.

Longevidade do brasileiro em números

Na Longevidade Expo + Fórum 2019, Eduardo Gianetti, economista e professor da Universidade de São Paulo e do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), explicou as causas da transição demográfica que o mundo e em especial o Brasil têm vivenciado.

Fonte: IBGE

“Como aumentou muito a população no pós-guerra, cresceu bastante a base da pirâmide etária brasileira, porque surgiram muitas crianças em um curto período de tempo”, disse.

À medida que o tempo passou, essa bolha populacional da base da pirâmide começou a subir, porque essa população foi adquirindo mais idade. Só que, como caiu a taxa de fecundidade, a base da pirâmide passou a se estreitar, então chegou o momento em que o que era uma pirâmide se tornou um barril.

“Hoje tem muita gente em idade de trabalho para poucos idosos. E, com o passar do tempo, o que era uma pirâmide e virou um barril vai se tornando um cogumelo: pouca gente nascendo, a coluna ficando estreita, a explosão populacional do pós-guerra chegando aos 70 anos e essas pessoas vivendo muito mais tempo do que costumavam viver no passado”, frisou.

As implicações disso, segundo Gianetti, ramificam de tantas maneiras e são ainda tão desconhecidas “que nós não conseguimos dar conta da complexidade e das demandas que virão por conta dessa extraordinária transição demográfica”.

Para o economista, “não há campo de atuação humana que não seja impactado pelo crescimento da população de mais idade”, e “o grande desafio é articular tudo isso com uma visão coordenada e dar consistência para que se chegue a soluções que nos permitam viver por mais tempo com plenitude, com vidas dotadas de propósitos, sentidos e alegrias”.

Envelhecimento saudável: os desafios do Brasil

Um dos pilares da longevidade é a saúde. E essa seara tem que ser analisada sob dois vieses: o público e o privado. Do lado que diz respeito à estrutura social para o cuidado dos mais velhos, Luiz Roberto Ramos, do Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp, afirma que “o sistema nacional de saúde ainda não está preparado para atender aos mais maduros".

Em paralelo à busca por melhores condições para esse aparelho público, cabe a cada um de nós se adequar à cartilha de recomendações para um envelhecimento saudável e com mais qualidade de vida.

E os passos para atender aos requisitos que ela prega devem ser dados bem antes de chegar aos 60, uma vez que hábitos adquiridos ainda na juventude podem comprometer a saúde em idades mais avançadas e provocar o aparecimento de doenças crônicas – embora seja preciso salientar que nunca é tarde para adotar um estilo de vida mais favorável para um envelhecimento saudável.

O médico Renato Veras, professor e diretor da UnATI (Universidade Aberta da Terceira Idade) da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), reforça, em primeiro lugar, quais são as cinco categorias que compõem fatores de risco para um envelhecimento saudável: “tabaco, álcool, estresse, má alimentação e falta de atividades físicas”, lista.

No entanto, Veras chama a atenção para um aspecto que muitas vezes é negligenciado quando essas questões são discutidas: a generalização. “Não adianta pegar um megafone e sair gritando na rua que é preciso mudar determinados hábitos”, afirma. “Essas transformações são feitas muito mais por meio de um trabalho de formiguinha.”

Em primeiro lugar, sentencia, é necessário observar que cada pessoa “está inserida em uma estrutura social, econômica e familiar própria e possui uma história de vida bem particular”, diz. “Assim, a abordagem para as mudanças deve levar em conta esse cenário pessoal.”

Ele exemplifica o método que propõe a partir de um tipo de alimentação muito em voga para quem quer cuidar da saúde – a chamada dieta mediterrânea, rica em alimentos como peixes, legumes, frutas e azeite de oliva.

“O problema é que esse regime alimentar não cabe no bolso de 90% ou 95% da população brasileira", avalia Veras. “Então, é preciso trabalhar alternativas. Começar com algo mais simples, como aumentar a proporção das saladas no que se come diariamente ou colorir mais o prato com a diversidade do que se coloca nele”, orienta.

O mesmo raciocínio vale para a prática de exercícios físicos: “Em vez de mandar alguém fazer academia como forma de se exercitar, é possível também adotar costumes como descer do ônibus um ponto antes do habitual, para caminhar, e usar escadas em vez de elevador”.

Consequentemente, as transformações no estilo de vida devem ser progressivas e não radicais, para que sejam sedimentadas e efetivamente incorporadas. Além disso, destaca o professor da UERJ, tais indicações devem ser passadas em uma relação de confiança, como a que se estabelece entre um médico adepto de um atendimento mais humanizado e seu paciente.

“O processo de aconselhamento requer fidelização para que o aconselhado acredite no que está sendo dito e siga a orientação, mesmo porque, nessas condições, ela estará adequada ao seu perfil individual”, afirma.

Vida com propósito: um dos caminhos para a longevidade

Da mesma forma, essa lógica vale para a hora de planejar como serão os dias depois da aposentadoria. É sabido que a longevidade saudável requer uma vida com propósito. Logo, simplesmente parar de trabalhar sem ter a menor ideia do que vai fazer com o tempo livre pode ser um caminho para a depressão.

Porém, estabelecer planos mirabolantes que envolvam atividades que nada têm a ver com o próprio perfil também pode culminar em frustração. “Não é todo maduro que vai ser feliz pulando de paraquedas, sobretudo se ele não foi exatamente um aventureiro durante toda a sua vida”, exemplifica Veras.

Ele afirma que propósito de existência, no caso, pode ser algo bem mais simples. “Como uma senhora que, aos domingos, costuma almoçar com a filha, o genro e os netos”, cita.

“Durante a semana, num dia ela prepara sua roupa para esse encontro dominical; no outro, vai fazer as unhas com a mesma finalidade. Ela se cuida pensando nesse almoço com os familiares, isso preenche seu tempo e acaba sendo um projeto de vida sem o qual ela morreria.”

Com esse relato, o médico acaba fazendo referência a outro aspecto vital para a longevidade saudável: o convívio social. Afinal, a solidão também é capaz de minar a qualidade de vida na maturidade. Manter um círculo de amigos e boas relações com vizinhos e familiares não só proporciona companhias para a realização de atividades que deem prazer ao maduro como ainda forma uma base de apoio para o caso de surgirem dificuldades como as relacionadas a uma doença.

Cidades para todas as idades

A expectativa por uma vida mais longa e feliz passa também pela qualidade do entorno: as características do meio em que se vive também são determinantes para o bem-estar pessoal.

“Morar em uma cidade que não seja tão poluída, por exemplo, contribui para que não tenhamos problemas respiratórios”, pontua Antonio Leitão, gerente institucional do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.

“Com acesso a saneamento básico, evitamos infecções e doenças, principalmente em crianças e idosos, que são grupos mais vulneráveis”, diz. “É importante que nossas cidades ofereçam recursos básicos de qualidade para a garantia de nosso bem-estar.”

Ambientes que favorecem a obtenção de uma renda familiar mais elevada, com acesso à alimentação e à saúde de qualidade, também compactuam com o aumento da longevidade saudável. “Além de ter uma cidade bem preparada, os indivíduos precisam de acesso a recursos para administrarem suas vidas”, considera.

Outro elemento que influencia a longevidade, lembra, é o conhecimento. “Acesso à educação é de extrema importância para diminuirmos as taxas de mortalidade prematura, principalmente a infantil”, afirma.

“Por meio de informações básicas, pais e mães podem evitar que seus filhos tenham mortes acidentais ou em decorrência de doenças. Além disso, pessoas com alto nível educacional também são capazes de cuidar melhor de sua saúde e possuem o conhecimento necessário para saber quais hábitos devem adotar para ter uma vida saudável.”

Aliás, quando tratamos de questões ligadas ao meio, é fundamental ter em mente que as melhores cidades para os idosos se tornam também muito mais amigáveis para todas as pessoas em geral, independentemente de suas faixas etárias.

“Uma cidade deve ser inclusiva a todos os seus habitantes”, reforça Leitão. “Se temos um espaço urbano adaptado às necessidades de um idoso, ele também irá atender pessoas com mobilidade reduzida, limitação que pode acometer indivíduos em qualquer idade”, diz.

“Tempos de semáforo adequados, calçadas em bom estado, rampas, serviços médicos de qualidade e acessibilidade são alguns dos aspectos essenciais para o bem-estar de idosos, mas também beneficiam pais com filhos pequenos ou pessoas cuja mobilidade seja limitada de forma permanente ou temporária.”

Leitão ressalta ainda a importância de “lembrarmos que todos nós iremos passar por algum momento na vida em que precisaremos de serviços e infraestrutura que ofereçam mais suporte às ações cotidianas, e as cidades devem oferecer estruturas que garantam a autonomia das pessoas ao realizar suas atividades do dia a dia, independentemente da condição física que apresentem”.

Em parceria com a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, o Instituto de Longevidade Mongeral Aegon criou o IDL – Índice de Desenvolvimento Urbano para a Longevidade. Com ele, são reveladas as condições de centenas de cidades brasileiras no que diz respeito à sua capacidade de atender às necessidades básicas de vida, destacadamente a dos adultos mais idosos. 

A primeira versão do estudo foi lançada em 2017. Este ano, o Instituto de Longevidade se prepara para lançar a versão 2020, com dados atualizados. 

Longevidade financeira: seu dinheiro também precisa viver mais

Para um envelhecimento saudável, a pessoa também precisa contar com o bem-estar do orçamento. “Pesquisas mostram que a expectativa de vida varia consideravelmente de acordo com a renda das pessoas”, diz o gerente institucional do Instituto de Longevidade.

“Com mais recursos financeiros, elas podem optar por produtos e serviços melhores, que trazem benefícios para a sua saúde ao longo de toda a vida. Sobretudo nas etapas mais avançadas, é necessário ter uma reserva, uma vez que as despesas com saúde aumentam.”

Cuidar do bolso é uma missão norteada por quatro grandes princípios. O primeiro deles, por sinal, está relacionado ao fluxo de recursos que entra: trata-se do conceito de ganhar mais. “É a estratégia de gerar mais renda através do aprimoramento do próprio capital humano”, define o economista Hirbis Girolli, colunista do Instituto de Longevidade.

“Isso significa investir em si, na própria qualificação, para conquistar posições no mercado que tenham remuneração melhor pelo trabalho realizado.” Girolli frisa que, hoje em dia, está até mais fácil buscar conhecimentos para crescer profissionalmente graças à existência de plataformas de educação a distância, inclusive com cursos gratuitos.

O segundo caminho para a longevidade financeira é gastar bem. “É preciso combater os excessos e não se deixar levar pela tentação das compras por impulso”, afirma o colunista.

“Deve-se avaliar que cada real conta e tirar o máximo de utilidade e bem-estar de todo dinheiro empregado, pesquisando preços, considerando a economia presente de recursos em razão de aquisições futuras de maior valor e tomando cuidado com mensagens publicitárias que lidam com apelos emocionais”, ensina.
Integra ainda esse pacote de táticas para a longevidade financeira o princípio de poupar certo. “É o quanto do dinheiro eu vou destinar às reservas para o futuro, abrindo mão do consumo atual”, determina Girolli.

Como balizador para esse cálculo, o especialista trabalha com o percentual de 10% da renda disponível. No entanto, essa parcela pode variar de acordo com as demandas inerentes ao momento de vida do poupador: se ele passa por uma fase de transição entre empregos, por exemplo, pode-se ver obrigado a poupar menos ou nem mesmo poupar e compensar isso quando seus rendimentos aumentarem.

No Brasil, o hábito de guardar dinheiro precisa ser de fato muito cultivado: 8 em cada 10 trabalhadores brasileiros não têm esse costume e dependem exclusivamente do INSS para a aposentadoria.

O conceito de poupar bem, por sinal, deve incluir também o equilíbrio de saber aproveitar o momento presente. “É muito importante não abrir mão de viver as coisas no aqui e agora, levando em consideração a satisfação de desejos para ter uma qualidade de vida legal”, alerta o economista.

Uma vez determinado o montante a ser guardado para o futuro, surge, então, o quarto pilar da longevidade financeira: investir melhor – ou fazer render mais o dinheiro reservado. “Para tanto, é necessário se informar ao menos o suficiente para não se contentar com os rendimentos da caderneta de poupança ou do FGTS”, instrui.

“É melhor aplicar em fundos, sejam eles previdenciários ou não previdenciários. Hoje esse tipo de investimento oferece grande diversidade de opções, sólidas e bem reguladas, até com a possibilidade de aplicação no exterior para fugir do chamado risco-Brasil. Também é possível investir direto no mercado de ações, mas aí é preciso analisar aspectos como o imposto a ser pago sobre os lucros.”

Para festejar o Mês do Idoso, ao longo de outubro o Instituto de Longevidade lançará uma série de três matérias com dicas para pessoas com mais de 60 anos que desejam investir seu dinheiro de uma maneira mais eficaz.

Para a próxima semana, traremos dicas de investimentos para os investidores 60+ agressivos. Fique atento aos nossos conteúdos!

Jovens e maduros no trabalho: a união faz a força

Como mencionamos, um dos pilares da longevidade financeira é o enriquecimento das competências profissionais para ganhar mais no mercado de trabalho. Em paralelo, a capacitação do trabalhador permite que a própria carreira se torne mais longeva sem perder seu potencial como geradora de recursos monetários.

Mas, no cenário atual, quais seriam as competências mais valorizadas pelos empregadores?

“Cada vez mais as empresas têm olhado para as chamadas soft skills, que são as habilidades de relacionamento dos profissionais”, aprecia Mórris Litvak, fundador e CEO da plataforma de oportunidades de trabalho MaturiJobs. “São características relacionadas à criatividade e à capacidade de se adaptar às exigências do mercado.”

Dessa forma, de acordo com ele, “habilidades técnicas ficam em segundo plano, importando mais a disposição do profissional para reciclar-se e se atualizar em períodos cada vez mais curtos, uma vez que as próprias tecnologias podem mudar muito rapidamente”.

A propósito, nesse contexto, é preciso estar bem familiarizado com o ambiente digital, pois é nele que muita coisa acontece no cotidiano das empresas. “É necessário saber usar plataformas como Google Drive e Skype”, especifica o CEO da MaturiJobs. “Trafegar bem nelas está diretamente relacionado à produtividade no desempenho das funções.”


O surgimento contínuo de novas tecnologias também direciona as vagas de trabalho para postos e profissões que apareceram justamente por conta desses avanços. Entre eles, despontam cargos como os de gestor de redes sociais, especialista em segurança digital, piloto de drone e técnico de impressora 3D.

Também em alta está o conceito de intergeracionalidade, que se refere ao convívio de diferentes gerações nas dependências das companhias. “Os jovens precisam saber respeitar os mais velhos e os mais velhos precisam ter a humildade de reconhecer que eles também têm muito a aprender com os mais jovens, apesar de toda a experiência que possuem”, esclarece Litvak.

Aos mais maduros é exigida ainda a flexibilidade de convivência com perfis de profissionais que prezam pela diversidade, eliminando qualquer tipo de preconceito racial ou de gênero, entre outros – inclusão é a bola da vez.

Contudo, esse olhar mais abrangente ainda não é o bastante para abrir as portas das empresas para o público 50+. “Os mais maduros ainda estão longe de ser prioridade nos processos seletivos”, sinaliza Litvak. “As companhias ainda estão começando a olhar para essa questão.”

Uma alternativa contra o desemprego nessa fase da vida – a principal delas, segundo o CEO da MaturiJobs – é o empreendedorismo. “É uma forma de vencer o preconceito contra os mais velhos que ainda está tão presente no mercado”, confabula. “E é preciso observar também que o próprio conceito de emprego vem mudando a nível mundial com a tendência do trabalho autônomo.”

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: