Um está localizado na parte central do tórax, pouco inclinado para a esquerda, entre os pulmões. O outro, que na verdade são outros, ficam logo abaixo da caixa torácica, à esquerda e à direita da coluna vertebral. Coração e rins são órgãos fundamentais para nosso corpo e têm uma correlação de trabalho complementar e vital. São interdependentes na manutenção do bom funcionamento do organismo.
Quando um tem alguma deficiência, aguda ou crônica, o outro também pode sofrer as consequências e apresentar uma perda na funcionalidade. Em outras palavras: o coração pode afetar a saúde dos rins bem como os rins podem afetar a saúde do coração. Portanto, aqueles com doenças renais têm maior probabilidade de sofrer de doenças cardíacas e vice-versa. Assim, cuidar dos dois órgãos é essencial para manter a saúde equilibrada.
Cada um com suas responsabilidades
A função do coração é bombear o sangue. Este trabalho mantém as células, órgãos e sistemas vivos. Para esse transporte, o coração depende dos vasos sanguíneos. Juntos, coração, sangue e vasos sanguíneos compõem o sistema cardiovascular, uma espécie de sistema de entrega. É dele a responsabilidade de distribuir o sangue, com oxigênio e nutrientes, por todo o corpo, e também recolher os resíduos para serem eliminados.
Já os rins, dois órgãos com formato semelhante ao de um feijão e de tamanho aproximado ao do nosso punho, têm a missão de limpar o sangue, removendo resíduos e um possível excesso de água. São também fábricas de produtos químicos poderosos e têm ainda como função ajudar no controle da pressão arterial, manter os ossos saudáveis e fortes, contribuir na produção de células vermelhas, além de garantir o equilíbrio de minerais no sangue (como sódio, fósforo e potássio).
Como então os rins e o coração trabalham juntos?
Como vimos, o coração bombeia sangue com oxigênio e nutrientes para todo o corpo, incluindo os rins. Os rins filtram o sangue, removendo os produtos residuais, água e sal em excesso. Sem os rins, teríamos retenção e acúmulos desnecessários. O coração então passaria a ser mais exigido, sendo sobrecarregado, ou teria sua função prejudicada, não atuando como o organismo precisa.
Já os rins, sem o coração em pleno funcionamento, receberiam o sangue insuficiente e sem o oxigênio necessário para realizar seus trabalhos. Quando o coração deixa de exercer o bombeamento de forma eficaz, o rim, que é um órgão muito vascularizado, sofre com a diminuição do fluxo e pode ter sua função reduzida. Como consequência é possível haver um aumento da pressão arterial, o que leva a uma disfunção cardíaca. E assim, ao bombear contra pressões mais altas, o coração corre o risco de mais uma vez ter sua carga de trabalho aumentada.
Ou seja, um sistema cardiovascular que funciona bem é essencial para que os rins também trabalhem de forma adequada. Desta forma, quando coração ou rins não funcionam normalmente, aumentam as chances do surgimento de doenças cardiovasculares ou renais.
A conexão entre doença cardíaca e a doença renal
Diversas pesquisas vêm sendo realizadas ao longo dos anos para entender a clara relação entre a doença renal e a cardíaca. O fato é que ter uma doença cardíaca pode afetar diretamente as chances de desenvolver uma doença renal – aqui entende-se como doença cardíaca qualquer problema que impeça o coração de bombear o sangue tão bem quanto deveria.
Os problemas cardíacos e dos vasos sanguíneos incluem, por exemplo, o acúmulo de gordura com a formação de placa nas paredes das artérias coronárias, o que dá origem a doença arterial coronária (DAC). Um coágulo que bloqueia o fluxo de sangue para o músculo cardíaco iniciará então um dano ao órgão, desencadeando o infarto do miocárdio. O evento pode levar ao mau funcionamento do coração e prejuízo a irrigação dos demais órgãos do organismo, incluindo os rins.
Vou exemplificar para esclarecer melhor esta correlação: uma disfunção no coração, levando a essa insuficiência cardíaca, quando de forma avançada, acarreta na diminuição do fluxo sanguíneo nos rins e o desenvolvimento da disfunção renal – ou seja, quando os rins não conseguem filtrar o sangue como deveriam. Quadro que irá piorar o tratamento da insuficiência cardíaca, com retenção de líquido no organismo, uma maior congestão pulmonar e ganho de peso.
Quando há uma disfunção renal irreversível, dependente de diálise (tratamento de filtragem do sangue), poderá ocorrer o desenvolvimento mais rápido da DAC, doença que prejudica as sessões da diálise por mau funcionamento do coração, com possível necessidade de tratamento de revascularização do miocárdio (também conhecida como ponte de safena).
A perda gradual da função renal recebe o nome de doença renal crônica (DRC). A DRC leva à insuficiência renal. Em circunstâncias assim o paciente precisa, inicialmente, do tratamento de filtragem de sangue para se manter vivo e, posteriormente, de um transplante renal. Antes de chegar a essa fase, outros problemas de saúde podem se desenvolver, entre eles a doença cardíaca.
Órgãos diferentes, fatores de risco iguais
Além desta relação entre as funcionalidades, coração e rins também compartilham fatores de risco em comum, como hipertensão arterial, diabetes e colesterol elevado, todos extremamente danosos para ambos.
No caso do diabetes, por exemplo, ocorre a presença de muita glicose (açúcar) no sangue. Esse excesso, quando de forma constante, cria um quadro inflamatório, acarretando no desenvolvimento da doença arterial, circunstância que pode danificar artérias em diferentes partes do corpo, inclusive as do coração e dos rins.
Já pressão arterial reflete na força do fluxo de sangue. Quando ela está alta, gera maior tensão contra as paredes dos vasos sanguíneos, podendo danificá-los. O coração acaba trabalhando mais. A função cardíaca prejudicada poderá gerar ou piorar a doença renal. O agravamento da doença renal, então, tende a aumentar ainda mais a pressão sanguínea. Ou seja, entramos num ciclo perigoso, uma vez que cada doença torna a outra mais complicada.
E isso tende a ficar mais sério com o passar dos anos, o envelhecimento e certos hábitos mantidos ao longo da vida. Assumir o controle desses fatores de risco pode ajudar a evitar ou diminuir as chances de um evento cardiovascular grave, como infarto do miocárdio e derrame, e também contribuir na prevenção de danos renais.
Bom para todo mundo!
Se há fatores de risco em comum, os cuidados também valem para os dois. Desta forma, é importante dar atenção aos costumes do cotidiano e ao estilo de vida. Entre os cuidados, podemos destacar a prática de atividades físicas regulares, controle do peso, evitar o consumo de álcool e o tabagismo, atenção ao estresse e a saúde mental, alimentação saudável (reduzindo o consumo de alimentos gordurosos e com altas quantidades de açúcares e sódio), controle da pressão arterial, do diabetes e do colesterol.
Além disso, fazer avaliações periódicas é essencial para identificar o início destas patologias ou minimizar os efeitos dos fatores de risco para o coração e os rins. Uma boa maneira de manter esta conexão em mente é lembrar que o que você faz em prol da saúde de um colabora para que o outro permaneça saudável também. Portanto, tenha sempre em mente: o que é bom para seus rins também é bom para o seu coração.