“Foi um fracasso”, lembra o aposentado Ivens Kawamata sobre a decisão de abandonar o tabagismo, aos 25 anos de idade. Havia começado aos 13 anos, escondido, e tinha consciência de que o vício era prejudicial à saúde. Mas, na tentativa de se desvencilhar da nicotina, passou a abusar do álcool. Ao se dar conta, estava com o cigarro novamente. Foram mais três investidas depois dessa. Até conseguir parar de fumar depois dos 50 anos.
Largar o vício é um caminho árduo, na medida em que combina dependência química e fatores comportamentais. Mas homens e mulheres têm conseguido vencer essa batalha. No Brasil, o índice de fumantes diários caiu de 29% para 12% entre homens e de 19% para 8% entre mulheres, de 1990 a 2015, segundo estudo publicado no periódico científico “The Lancet”.
Parte dessa redução se deve também a quem passou da quinta década de vida. Porém, nem tudo são flores. De acordo com dados do INCA, no período pré-pandemia, pessoas entre 55 e 64 anos representaram a maior prevalência de fumantes no país. Um total de 17,4%.
Para Kawamata, deixar o tabagismo foi um processo de idas e vindas. Na segunda vez que parou, abandonou o maço, mas manteve os passeios ao pátio de empresa, um local arborizado que servia de fumódromo aos trabalhadores. Resistiu à tentação, até que aceitou um cigarro de um dos colegas.
“Fiquei mal”, desabafa ele. Um ex-fumante, diz o aposentado de mais de 75 anos, não pode mais colocar um cigarro na boca, sob risco de recaída.
Aos amigos e à família, dizia que fumava um maço, mas confessa que eram dois por dia – um total de 40 cigarros. Não tinha comprometimento de saúde, mas indicação do cardiologista para parar. Pediu para o médico receitar um medicamento que o auxiliasse na jornada contra o vício.
“Resisti muito a parar de fumar”, conta. Mas, num dia frio de julho, jogou o maço fora – depois de mais de 50 anos como tabagista.
Com o fim do vício, diz ter ganhado capacidade olfativa e sentido com mais intensidade os aromas. Revela ainda que as pequenas confusões, como apertar o botão errado do elevador quando ia deixar o lixo na garagem, começaram a ficar menos frequentes.
“Descobri que, na minha vida, meu maior companheiro foi o cigarro. Convivi mais tempo com ele do que com qualquer pessoa”, avalia, afirmando que o amigo deixou saudades. “Foi uma das melhores decisões da minha vida. Eu me sito muito satisfeito.”
Quem também se orgulha da decisão de abandonar o tabagismo é Maria Isabel Franco de Campos. “Fiquei lutando mais de um ano”, conta ela, que conseguiu parar de fumar depois dos 50 anos.
A saúde foi a principal motivação: o vício havia comprometido os dentes, o que a obrigou a fazer um longo e custoso tratamento no dentista. A voz sumia. Sem contar a falta de fôlego e disposição que apresentava, dados os dois maços que fumava por dia.
Mas, recorda ela, fumar era gostoso. “Comecei aos 25 anos porque achava bonito”, conta a aposentada. Até que, após algumas tentativas, resolveu dar um basta num dia 13 de dezembro. “Eu me olhei no espelho, lembrei que era Dia de Santa Luzia e isso me deu forças.” Manteve o maço e passou a cronometrar quanto tempo passava sem acender um cigarro. Cada minuto era uma vitória.
No início, andava com um pacote de biscoito na bolsa. Quando batia a vontade de fumar, comia, o que fez com que engordasse quatro quilos. A estratégia, no entanto, deu certo e aplacou a fissura causada pela falta de nicotina.
A saúde melhorou, começou a praticar esportes e abandonou o hábito de ficar ao lado de quem estava fumando, para sentir o cheiro da fumaça. Parar de fumar depois dos 50 anos fez com que voltasse a ter disposição e a se sentir melhor.
Segundo o oncologista Tiago Kenji, especialista em câncer de pulmão do Instituto de Oncologia do Hospital Santa Paula, os benefícios de parar de fumar são muitos e incluem redução da ansiedade e do risco de calvície. Há ainda a normalização da pressão sanguínea após 20 minutos sem fumar e a redução do risco de infarto.
Crédito: sebra/shutterstock
Dicas para quem deseja parar de fumar depois dos 50
- Ter paciência, já que a cessação do hábito costuma acontecer após algumas tentativas.
- Buscar apoio de grupos antitabagistas.
- Procurar um médico, que pode receitar medicamentos ou adesivos.
- Evitar bebidas alcoólicas e café.
- Beber água, mascar chiclete ou comer um doce quando tiver vontade de fumar.
- Fazer atividade física, especialmente natação, caminhada, corrida e ciclismo.
- Procurar apoio de familiares e amigos nessa jornada.
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