Entenda a importância da prevenção para a saúde cardiológica
Será que existe um momento certo na nossa trajetória para iniciarmos as avaliações cardiológicas? Muitos recorrem à medicina apenas para solução de problemas e doenças. Grande parte das pessoas espera o corpo dar sinais de que algo não vai bem para realizar uma consulta, buscar um especialista ou fazer exames. Porém, é importante deixar claro que boa parte das doenças cardiovasculares poderia ser evitada ou minimizada com medidas preventivas ou o diagnóstico precoce. E isso inclui a realização de check-ups periódicos.
Esperar que um sintoma se manifeste pode ser tarde quando falamos do coração. Isso porque eventos graves – e até fatais - podem não dar qualquer indício até que efetivamente aconteçam, como o infarto do miocárdio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 80% das mortes por doenças cardíacas no mundo seriam evitadas com mudanças de comportamento, a adoção de um estilo de vida mais saudável e o monitoramento de fatores de risco, entre eles o colesterol, diabetes, obesidade e pressão arterial.
Porém, para saber se há ameaças é necessário investigar, acompanhar e manter os cuidados ao longo de toda a vida. Agir proativamente quando o assunto é a saúde cardiovascular pode ser determinante no agravamento ou surgimento de doenças.
A partir de qual idade devemos consultar um cardiologista?
Em uma rápida pesquisa na internet, você vai ler por aí que a recomendação é iniciar as avaliações quando já ultrapassamos a quarta ou quinta década de vida. No entanto, precisamos entender que não se trata apenas da idade, mas, sim, de uma série de fatores.
A começar pelo histórico familiar. Quem tem pais, avós, tios ou irmãos que passaram por algum problema cardiovascular têm mais risco, por exemplo, de desenvolver a doença arterial coronariana (DAC), sofrer um infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) ou ainda apresentar disfunções no órgão que, muitas vezes, só são descobertas após o corpo dar algum sinal.
Temos na cardiologia anomalias que podem se replicar de geração em geração, entre elas as miocardiopatias, doenças degenerativas da aorta e aquelas que causam distúrbios do ritmo cardíaco (como as arritmias). Por isso, hoje, dependendo do potencial de risco, as avaliações cardiológicas devem ser feitas até mesmo antes do nascimento.
Com os recursos atuais é possível realizar a avaliação da mãe e do bebê durante a gestação. O ecofetal pode diagnosticar cardiopatias muito graves e em algumas situações conseguimos tratar a criança ainda no útero ou nos primeiros dias de vida, com intervenções sob o coração para corrigir ou melhorar o prognóstico da doença.
A genética também pode predispor um indivíduo a outras condições. Uma delas é a responsável por 5 a 10% dos eventos cardiovasculares em pessoas abaixo de 50 anos. Estamos falando da
hipercolesterolemia familiar, patologia que se caracteriza por manter níveis muito elevados do colesterol de baixa densidade, o LDL-c, no sangue - o popular colesterol ruim, que contribui para a formação de placas de gordura nas artérias. Portanto, há inúmeras situações em que os cuidados vão além de mudanças no estilo de vida ou na dieta e precisam de acompanhamento e tratamento constante desde cedo.
Avaliações individuais
Mas aí você pode pensar “não tenho casos na família e não apresento qualquer sinal de problema no coração. Posso deixar para me preocupar com isso mais para frente ou até sentir alguma coisa?”. Vejamos então um exemplo: uma mulher de 35 anos, sem sintomas e histórico familiar, tabagista, que tem hipertensão e já aponta um pré-diabetes. Em um cenário assim, não é recomendado esperar que ela chegue aos 45, 50 anos ou entre na menopausa.
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Por isso, é preciso avaliar caso a caso. Sem dúvida, o histórico familiar conta, porém, devemos levar em consideração também os próprios hábitos e antecedentes de cada um. De modo geral, minha orientação é que a primeira avaliação seja feita a partir dos 30 anos em pessoas que têm episódios na família - quando não há nenhum indício para realizá-la antes. Para as mulheres que não apresentam fatores de risco, sintomas e histórico familiar, o indicado é começar esse acompanhamento cardiológico entre 35 e 40 anos. Para os homens, a partir dos 35 anos.
Ainda no grupo feminino, no caso de uma gravidez planejada, especialmente para aquelas que nunca passaram por um check-up cardiológico, recomendo que, até mesmo antes de engravidar, procurem um cardiologista. Vale a pena realizar a avaliação e fazer exames básicos, como um ecocardiograma. Em um simples exame clínico é possível detectar problemas, principalmente de válvula ou sopro no coração.
Com qual a frequência devo fazer meu check-up cardiológico?
Tal qual a idade de início, alguns fatores influenciam também na periodicidade com que essas consultas devem acontecer. É primordial considerar o estado de saúde de cada indivíduo particularmente. Há quem precise de monitoramento semanal até que suas condições se estabilizem e outros que podem fazer intervalos de meses.
Para pacientes que já têm algum diagnóstico de cardiopatia, a recomendação é uma visita ao especialista de 6 em 6 meses - ou menos, conforme indicação do profissional que está acompanhando a evolução do quadro. Em casos de insuficiência cardíaca, por exemplo, dependendo do grau, é possível que haja a necessidade de supervisão trimestral.
Outro grupo que carece de acompanhamento semestral é daqueles com síndromes metabólicas e questões associadas, como hipertensos, diabéticos, obesos e pessoas que têm o colesterol elevado. Entre os hipertensos, muitos descuidam da pressão ao longo do tempo. Isso pode trazer um desgaste das artérias do corpo, principalmente as coronárias, que acabam levando ao aparecimento da DAC.
Já quem apresenta algum fator de risco, mas não tem nenhum sintoma e está dentro da faixa de idade que mencionei anteriormente, pode realizar essa avaliação anualmente. Por último, uma pessoa mais jovem (menos de 30 anos), que tem o hábito de fazer check-ups, com colesterol normal, sem hipertensão, que pratica atividades físicas e não tem nenhum fator de risco, é possível fazer avaliação a cada dois anos.
Atenção sempre
O check-up cardiológico é importante em qualquer fase da nossa trajetória. Atualmente, em função da qualidade e ritmo de vida que levamos, do estresse e demandas, a prevenção deve ser iniciada mais cedo. Já não se pode determinar uma idade de risco para um ataque cardíaco. A ideia de prevenção a partir dos 40 anos é coisa do passado.
Além disso, em qualquer época da vida, ao sentir alguma limitação do ponto de vista físico, cansaço fora do normal, falta de ar, palpitação ou dores no peito constantes é essencial procurar um cardiologista. E aqui não estamos falando apenas de adultos, mas também de uma criança ou adolescente, por exemplo, que faz atividade física na escola e percebe alguma limitação recorrente. Nesse ponto, vale mais um alerta: antes de iniciar qualquer programa de exercícios é fundamental a avaliação e a liberação de um profissional da área. Os problemas cardiovasculares estão entre as principais causas de eventos fatais durante a prática de atividades físicas, inclusive entre pessoas jovens.
Portanto, seja por rotina, início de prática esportiva, sintomas que justifiquem ou como precaução devido ao histórico familiar, devemos ter em mente que medidas preventivas para as doenças cardiovasculares têm de ser pilar fundamental para todos. Os cuidados têm de começar antes do nascimento e se estender durante toda a vida. Isso porque, como vimos, o problema pode estar ligado, além da exposição aos fatores de risco, a predisposição genética.
Muitos fatores podem ser controlados com acompanhamento médico, mudanças de hábitos e estilo de vida, reduzindo as chances de infarto e outras doenças ao longo da vida. A prevenção é a melhor forma de enfrentar complicações cardíacas. Algumas doenças são descobertas sem querer, mas em tempo de serem resolvidas com tratamento, recuperação rápida, sem sequelas ou complicações mais graves. Quanto mais você se cuidar ao longo da sua trajetória, mais chances terá de uma longevidade saudável.