Em um mundo que recompensa a produtividade e penaliza a pausa, o cansaço mental se tornou uma constante silenciosa. Especialistas afirmam que dormir já não é suficiente para restaurar o equilíbrio. A fadiga do século XXI é cognitiva, emocional e estrutural.
“Vivemos em uma sociedade que exige que estejamos disponíveis, atualizados, produtivos e emocionalmente estáveis o tempo todo. A linha entre trabalho e descanso se tornou tênue”, explicou a psicóloga Adriana Martínez, da Fundação Aiglé, ao Globo. Conectados a telas e demandas sem fim, dormimos menos e descansamos pior. O resultado é um corpo parado e uma mente exausta.
Segundo o neurologista Conrado Estol, especializado em prevenção vascular, também ao Globo, “nossos avós terminavam o dia com o corpo exausto. Nós, com a mente exausta”. A sobrecarga deixou de ser física. Passou a ser cognitiva. Trabalhamos imóveis, mas sob estímulos constantes. Lidar com notificações, senhas e decisões simultâneas fragmenta a atenção e esgota o cérebro.
Pesquisas reforçam esse diagnóstico. Um estudo global conduzido pela Ipsos e pelo Global Institute for Wellbeing revelou que mais de 62% das pessoas se sentem física ou mentalmente exaustas ao menos três vezes por semana. O Observatório de Tendências Sociais e Empresariais da Universidade Siglo 21 mostrou que 47% dos trabalhadores argentinos relataram níveis baixos de energia nos últimos meses. Entre adolescentes, o Unicef e o Instituto Gino Germani apontam que quase sete em cada dez se sentem cansados mesmo após uma boa noite de sono.
Crédito: Lomb/Shutterstock
Cansaço mental e o papel do sono na saúde
O neurobiólogo Matthew Walker, da Universidade da Califórnia, afirma que o sono deve ser tratado como um pilar da saúde. Segundo o especialista, o sono inadequado desconecta o córtex pré-frontal do sistema límbico, prejudicando o controle das emoções. "O sono deve ser considerado um pilar da saúde, assim como a nutrição e o exercício”, explicou. Dormir mal aumenta a ansiedade, a irritabilidade e o risco de conflitos.
Mas não se trata apenas de dormir mais horas. Para Satchin Panda, pesquisador do Instituto Salk, a qualidade do descanso depende da sintonia com os ritmos biológicos. “A maioria das pessoas não dorme mais quando seu corpo precisa, mas quando pode. Essa desconexão é compensada pela fadiga crônica.”, disse. Mesmo oito horas de sono podem não bastar se o corpo estiver desalinhado do relógio biológico.
Crianças e adolescentes também sofrem os efeitos da dessincronização. A psicóloga Lucía Argibay Molina relatou que o excesso de estímulos e a falta de rotinas de sono produzem irritabilidade e apatia. O pesquisador Jonathan Haidt, da Universidade de Nova York, destaca que o uso de smartphones à noite agrava o problema. “O sono é vital para um bom desempenho na escola e na vida.”
Como o cérebro reage ao excesso de estímulos
O neurocientista Andrew Huberman, da Universidade de Stanford, aponta que “a fadiga moderna nem sempre é física ou hormonal. É um estado cognitivo de sobrecarga constante devido à falta de pausas deliberadas”. Ele defende momentos sem estímulos visuais, mesmo que curtos, como forma de restaurar a plasticidade cerebral e aliviar o cansaço mental.
A fadiga também pode ter origem biológica. O médico Facundo Pereyra, autor do livro Agotados, explica que a má alimentação e a inflamação intestinal intensificam o cansaço. "Exigimos desempenho 24 horas por dia, 7 dias por semana, consumimos informação sem parar, comemos no piloto automático. E, para completar, nossa saúde intestinal está cada vez mais frágil. Como não estarmos exaustos?", questionou.
Já a psicóloga Rocío Ramos Paul alerta que o ritmo de vida moderno cria um ciclo difícil de romper. “Quanto mais atividades temos, mais cansados ficamos. Mas as demandas nos fazem aumentar nossas atividades em vez de desacelerá-las”, afirmou. Ela recomenda resgatar o valor do ócio e aceitar que parar também é necessário.
A especialista Eve Van Cauter, da Universidade de Chicago, lembra que a privação prolongada do sono tem impacto direto na imunidade e nos hormônios. Para ela, o sono não é luxo, "é um processo fisiológico essencial para a reparação do corpo e da mente. Sem ele, o sistema fica completamente desregulado".
Para muitos pesquisadores, o cansaço mental é o reflexo mais evidente da hiperconectividade. O psicólogo Michael Bennett, da Universidade de Nova York, identificou que jovens que dormem o suficiente ainda se sentem exaustos. A causa é a sensação permanente de demanda. “A hiperconectividade perpetua uma sensação de demanda constante que o sono noturno por si só não consegue reparar”, concluiu.
10 recomendações para reduzir o cansaço mental
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Mantenha uma rotina de sono regular, mesmo nos fins de semana.
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Ajuste seu sono ao seu cronótipo. Dormir fora do ritmo biológico é desgastante.
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Inclua momentos sem telas. O descanso visual também restaura o cérebro.
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Cochile por 10 a 20 minutos. Pequenas pausas melhoram o foco.
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Evite multitarefas. Dividir a atenção reduz a eficácia e aumenta o cansaço.
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Respeite os sinais do corpo. A fadiga é um aviso, não um fracasso.
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Valorize o tédio. Espaços vazios do dia ajudam na regeneração mental.
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Cuide da alimentação. Um intestino desajustado pode causar fadiga persistente.
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Reduza o tempo de tela antes de dormir. A luz azul atrasa o sono.
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Pausar é produtivo. Descansar é um ato de saúde, não de preguiça.
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