Para algumas pessoas, o isolamento social tem sido um período de redução de atividades. Esse, no entanto, não parece ser o caso do professor Celso Antunes, 83 anos, especialista em inteligência e cognição, autor de mais de 180 obras sobre educação e de 60 didáticas: “Tenho me dedicado a escrever livros”.
Não só, complementa ele, que é membro consultor da Associação Internacional pelos Direitos da Criança Brincar, cofundador da organização Todos pela Educação e palestrante. Há ainda tempo para “preparar novos temas de palestras e também para aprimorar estudos e pesquisas sobre a neurociência”, com foco em inteligência emocional. “Estou certo que os professores irão precisar de muito apoio para esta retomada.”
O desafio é grande. É desagradável, explica o professor, “ter ideias sobre novos temas para palestras e não ver, pelo menos por enquanto, a possibilidade de cumpri-las”. “Mas estou me reinventando”, afirma, acrescentando que tem adaptado o conteúdo produzido para o mundo digital, em atividades como webinars, cursos, lives e mentorias à distância.
O tempo de lazer vai para a leitura – o que, segundo ele, é o momento mais prazeroso do dia: “Redescobrir livros de grandes autores e que já há muito não buscava, como Monteiro Lobato, Machado de Assis, Howard Gardner e inúmeros outros…”.
Segundo ele, esse isolamento social pode ser um momento produtivo e positivo. Para isso, basta incluir momentos de estímulo a pontos como criatividade, atenção, valores e inteligência.
7 dicas de Celso Antunes para exercitar o cérebro
É preciso dar valor ao conhecimento e à capacidade de ir além. Por quê? Celso Antunes justifica com uma pesquisa, em que os cientistas pinçaram alunos aleatoriamente e disseram a eles que eram melhores que os demais. No fim do ano escolar, tinham conquistado, em média, 22 pontos a mais em testes que seus colegas. “Se acreditarmos que somos magníficos, assim em magníficos nos transformamos.”
Agenda na mão
Busque ter uma rotina e segui-la. Isso porque, quando algo sai do controle, entra a sensação de insegurança. E ela compromete o desempenho na escola e no trabalho. O professor orienta a organizar tarefas, delimitando quanto tempo cada uma requer e de que forma serão realizadas. Na dúvida, vale recorrer a ferramentas disponíveis na internet, a exemplo de Antunes.
Conversa solitária
Os educadores já sabem que falar em voz alta pode ajudar a melhorar a fluência de crianças de ensino fundamental na leitura. Isso faz também com que haja aperfeiçoamento na capacidade cognitiva, no raciocínio e na escrita. A regra, segundo Antunes, vale também para outras faixas etárias e outras finalidades, como o aprendizado de idiomas estrangeiros.
Finalização de tarefas
Se diversas tarefas surgem para ser resolvidas, o pior a ser feito é pensar em todas ao mesmo tempo, buscando solucioná-las de uma vez. Sobrepô-las reduz a capacidade de solução de problemas. Foque uma por vez e termine-a antes de se dedicar à próxima. “Os cientistas garantem que, mesmo quando você deixa de fazer determinada tarefa, parte de seu cérebro continua focada nessa atividade, podendo ocupar atenção e memória de maneira prejudicial para seu desempenho. Logo, se você não as concluir, sua capacidade de se concentrar e de usar seu cérebro fica prejudicada.”
Sono bom
Não deixe a insônia ser sua companheira inseparável. Há diversos estudos que mostram a importância do repouso. Em um deles, foram separados voluntários em grupos, que dormiam quatro, seis e oito horas por noite, durante duas semanas. Quem descansou por mais tempo não apresentou lapso de atenção ou declínio cognitivo no período.
Aprendizado constante
O professor conta que um novo saber faz aumentar a matéria cinzenta do cérebro, relacionada ao processamento e à cognição. E afirma isso com base em uma pesquisa alemã, que colocou 20 jovens aprendendo malabares por um mês. Já na primeira semana, houve alteração cerebral. “O estudo também serve para indicar que desenvolver novos conhecimentos é igualmente decisivo para aumento da inteligência”, destaca. Valem diversas atividades – não faltam opções de cursos gratuitos na internet.
Prática de exercícios
Ok, talvez o espaço para fazer uma atividade física na quarentena não seja ideal, já que boa parte das pessoas está confinada em casa. Mas considere buscar possibilidades na internet e manter a regularidade no treino. Diversas pesquisas relacionam o exercício à redução na velocidade do declínio cognitivo. Para Antunes, os benefícios vão além e incluem melhor desempenho nos estudos, no trabalho e nos relacionamentos.