Solidão, medo, depressão, bullying: o que leva uma pessoa a cometer suicídio? Definido pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) – rede voluntária de prevenção – como um gesto de autodestruição e realização da vontade de dar fim à vida, o suicídio entre jovens é uma questão que tem chamado, cada vez mais, a atenção de profissionais da área da saúde pelo mundo todo.
Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2016, a cada 40 segundos um indivíduo se mata no mundo e a cada 6 segundos uma pessoa atenta contra a própria vida. De acordo com a organização, o suicídio é considerado a segunda maior causa de morte entre jovens de 19 a 29 anos.
Principais causas do suicídio entre jovens
Referências nessa área de estudo, os cientistas José Manoel Bertolote e Alexandra Fleischmann apontam em suas pesquisas que 35,8% das pessoas que cometeram suicídio estavam em algum estágio de depressão e que o restante dos casos estava ligado a transtornos ocasionados pelo abuso de drogas lícitas, como o álcool e o cigarro, além de substâncias ilícitas. Esses dados foram retirados de uma amostra de 15 mil pessoas que se mataram em todo o planeta, entre 1959 e 2001. O material foi divulgado há mais de 15 anos e ainda continua sendo referência para especialistas da área.
Em entrevista ao portal do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, o psicólogo clínico Jean Duarte de Oliveira falou sobre o problema do suicídio entre jovens. De acordo com o especialista, os motivos que geralmente influenciam no comportamento de uma pessoa a ponto de ela atentar contra a própria vida são muitos, e podem variar desde uma única situação a um conjunto de vários problemas não resolvidos. Ele também alerta que um suicídio pode motivar que outras pessoas próximas cometam o mesmo ato, desde que haja uma pré-disposição ao problema.
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O representante do CVV Carlos Correia concorda. Segundo ele, uma maior probabilidade de suicídio acontece entre pessoas que já tentaram o ato recentemente e entre pessoas muito próximas de quem se matou, como familiares e amigos muito ligados. Correia, que realiza trabalho voluntário no centro, enfatiza que essas pessoas devem sempre ser acolhidas com atenção especial e receber acompanhamento profissional por um período. Os mais próximos são chamados de “sobreviventes do suicídio” e podem contar com o apoio de grupos especializados. Alguns postos de atendimento do CVV oferecem esse trabalho de apoio, o que na opinião de Correia é bom, mas não substitui o atendimento profissional.
Segundo ele, os atendimentos mais frequentes da ONG estão ligados a pressão para sucesso na carreira e nos estudos, além de sexualidade, bullying e cyberbullying, sensação de não ser aceito ou compreendido pelos pais e familiares, consumo de drogas e álcool e, como em todas as faixas etárias, doenças mentais, especialmente depressão.
"A pessoa que busca o suicídio dá sinais, às vezes mais claros, às vezes mais subliminares”, garante Correia. “Se você nota mudança no comportamento de um jovem, como queda no rendimento escolar, afastamento dos amigos, falta de prazer em atividades que antes lhe eram prazerosas, aumento do consumo de álcool ou drogas e vontade de ficar muito tempo isolado, pode ser que essa pessoa esteja caminhando para ideias autodestrutivas”, explica.
Correia conta que algumas pessoas chegam até a se desfazer de pertences importantes, como coleções, e mesmo falar em morte, com tom de despedida. "Ocorre, porém, que esses sinais muitas vezes não são percebidos por familiares e amigos, a tempo de poder ajudar", afirma o representante.
Suicídio entre os 60+
Entre a população de mais idade, os dados também são alarmantes. Segundo o primeiro Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil divulgado pelo Ministério da Saúde em 2017, foram registrados aproximadamente 8,9 mortes por 100 mil pessoas acima de 70 anos de idade, enquanto que a média costuma ser 5,5 por 100 mil. Com base nesse aumento na taxa de suicídios, o Ministério da Saúde lançou uma agenda estratégica para alcançar a meta da OMS de redução de 10% das mortes por suicídio até o ano de 2020.
As causas mais comuns do problema nessa fase da vida estão associadas também transtornos mentais como a depressão, esquizofrenia, alcoolismo, isolamento social, dores crônicas e perdas recentes. É importante lembrar que esses fatores não devem ser considerados de forma individual e que cada caso deve ser tratado com acompanhamento médico.
Prevenção ao suicídio
A OMS indica que 90% dos casos de suicídio podem ser evitados, desde que haja condições mínimas para oferta de um profissional ou ajuda voluntária. O Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional, atendendo de forma gratuita a todas as pessoas que queiram conversar de forma sigilosa pelo telefone 188 (não há custo de ligação), e ainda por chat, e-mail e pelo site https://www.cvv.org.br/.
O Setembro Amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio incentivada pelo CVV desde 2015 que tem o objetivo de dar mais visibilidade ao assunto e alertar a população sobre suas formas de prevenção. Para isso, são feitas ações de rua, como caminhadas com foco em conscientizar as pessoas sobre a importância de um acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
Para Correia, às vezes, é difícil que a própria pessoa reconheça que precisa de ajuda profissional, sendo necessário, na maioria dos casos, alguém próximo para alertá-la. Porém, caso ela mesma note mudanças em seu comportamento e perceba que já pensou na morte como solução dos seus problemas, esse é o momento de procurar ajuda.
“Na dúvida, é melhor procurar ajuda profissional e essa pessoa lhe dizer que não é necessário o acompanhamento do que correr o risco de ser tarde demais. Na maioria das vezes, as pessoas em sofrimento têm dificuldade de procurar ajuda sozinhas”, justificou.
Ele alerta ainda que a conversa acolhedora e sem julgamentos costuma ser a melhor solução. ‘’Mostrar para esse jovem que você se preocupa sinceramente com ele, que notou mudanças no seu comportamento e que está disponível para conversar é o primeiro passo. Se esse jovem buscar sua ajuda, é fundamental ouvir o que ele tem a dizer mesmo que possa parecer bobagem”, destacou.
Para finalizar, Correia dá dicas de como agir nesses casos: não julgar; não minimizar ou comparar a dor da pessoa; e não dizer que aquilo simplesmente vai passar e que existem problemas maiores. “Em algumas situações, é complicado alguém muito próximo fazer essa aproximação de maneira isenta, então pode ser recomendável levar esse jovem a um psiquiatra ou psicólogo", conclui.