Principal causa de incapacidade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão atinge hoje cerca de 322 milhões de pessoas em todo o planeta, o que equivale a 4,4% de toda a população mundial. No Brasil, 11,5 milhões de pessoas (5,8% dos habitantes) sofrem com a doença. Números tão expressivos vêm chamando cada vez mais a atenção de autoridades de saúde de diversos países, que já consideram a depressão como “o mal do século 21”.

Ao longo dos anos, muitas terapias e medicamentos foram sendo desenvolvidos e aperfeiçoados para o tratamento do distúrbio. Um levantamento realizado pela IQVIA, empresa norte-americana de auditoria e pesquisa de mercado farmacêutico, revelou que 47 milhões de comprimidos de antidepressivos foram consumidos no Brasil entre julho de 2013 e junho de 2014. O número sobe para 71 milhões de comprimidos no período entre julho de 2017 e junho de 2018. Os dados não incluem vendas para hospitais, clínicas ou compras realizadas pelo governo.

Mas apesar de todo investimento, metade dos casos ainda está sem tratamento.

Resistência ao tratamento atinge até 30% dos portadores

Estudos mostram que o percentual de pacientes com depressão imunes aos tratamentos existentes pode chegar a 30%. Esses sofrem da chamada depressão resistente ao tratamento, refratária ou não responsiva.

Diagnosticada em pacientes que não apresentam melhora após o tratamento com duas classes diferentes de antidepressivos, por mais de seis semanas e em doses terapêuticas, a depressão resistente ao tratamento ainda não tem suas causas conhecidas pela ciência. Mas especialistas acreditam que o problema aconteça devido aos diferentes caminhos que um medicamento pode fazer no organismo – dependendo da pessoa, podem variar bastante. Outros fatores que também estão sendo levados em conta por pesquisadores são a produção de neurotransmissores, como serotonina, noradrenalina e dopamina, pelo organismo e a sensibilidade dos pacientes, que podem alterar a forma como a droga chega ao cérebro.

Números mostram ainda que mais de 40% dos pacientes param de tomar os remédios durante o primeiro mês de tratamento, chegando a 52% de desistência no segundo mês e a 72% no terceiro. Entre as principais razões alegadas estão os efeitos colaterais apresentados pelos medicamentos. Os mais comuns são ganho de peso, disfunção erétil e dificuldade em atingir o orgasmo.

Como funciona o tratamento com antidepressivos?

Estudos mais recentes mostraram que os antidepressivos são capazes de restaurar o funcionamento de determinadas áreas do cérebro com o objetivo de contornar rotas neurais cujo funcionamento não está normal.

Raquel Mello é psicóloga especializada em resolução de conflitos familiares. Ela explica que há dois motivos muito importantes para que o tratamento psiquiátrico tenha um acompanhamento terapêutico. O primeiro é que o tratamento de todas as doenças psiquiátricas precisa ser acompanhado por mudanças de hábitos.

“Hábitos, muitas vezes, são coisas que vêm com a gente desde a infância e a gente precisa mudar isso com a ajuda de uma pessoa que entenda sobre o assunto”, analisa Raquel. “Porque se tivesse que mudar sozinho, o paciente já teria mudado”.

O segundo motivo, na opinião da psicóloga, é a existência de crenças. “A gente tem crenças sobre tudo, o tempo todo. Crenças sobre a doença, sobre os remédios, se teremos que tomar os remédios para sempre, crenças sobre os primeiros sintomas adversos que vêm do remédio nos primeiros dias”, conta. “Muitas vezes o médico não explica que alguns sintomas podem aparecer nos primeiros dias. Quase todos eles passam depois dos 15 primeiros dias, mas as pessoas se assustam e acabam largando o tratamento.”


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Para Raquel, o acompanhamento terapêutico permitirá que o profissional descubra de onde vêm as crenças do paciente, se foram formadas ainda na infância, e assim indique o tratamento preciso. 

O neurocientista Eero Castrén, da Universidade de Helsinque, na Finlândia, é um dos principais defensores da ideia. Em suas pesquisas, Cástren descreveu que uma mudança no “hardware” (cérebro) só trará benefícios se acompanhada de mudanças no “software” (comportamento do paciente). Ele defende que os medicamentos, sozinhos, não são capazes de promover essa mudança, e que é necessário o uso da psicoterapia ou de terapias de reabilitação.

Para o neurocientista, mudanças de atitude e também no ambiente vão influenciar no efeito do medicamento. “Simplesmente tomar antidepressivos não é o bastante. Nós precisamos também mostrar ao cérebro quais são as conexões desejadas,” disse o pesquisador.

Raquel completa: “Às vezes, a família inteira está doente e apenas um se trata. Isso acaba atrasando o processo. O paciente, sem o apoio do terapeuta, dificilmente perceberá que alguém que está perto dele está atrapalhando o seu processo, ou não saberá buscar ajuda, uma rede de apoio que realmente o ajude”, conclui.

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