Silvia Taioli Cordeiro foi apresentada à sinuca pelo pai, em 1980, quando tinha 14 anos. Aos 20, quando ainda cursava engenheira química, começou a competir: foi campeã brasileira e tetracampeã paulista. E pretende continuar. “A experiência ganha da afobação dos mais jovens”, diz.
Aos 50 anos, é a única árbitra reconhecida pela confederação brasileira. E também a única mulher comentarista da ESPN. Dá aulas particulares, e grande parte dos seus alunos têm muito mais do que 50 anos de idade. “A sinuca os tira de casa. É um antídoto contra depressão.”

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Com que idade e por quem você foi apresentada à sinuca?
Comecei aos 14 anos, brincando com meu pai, que é jornalista [Luiz, 81 anos]. Quando ele trabalhava como revisor na “Folha de S.Paulo”, ficava esperando o jornal fechar jogando sinuca em um bar lá perto.
Quando casou, comprou uma mesa e colocou em casa. Como sou a filha mais velha [a irmã, Carla, tem 47], fui eleita a parceira oficial. Daí virou um hobby para mim e depois uma profissão, quando comecei a competir.

E você ganhava do seu pai?
No começo, não. Mas depois, sim. E ele falava que eu roubava nos pontos!

Há quanto tempo você joga profissionalmente?
Vinte anos! Comecei em 96. Em 97, fui contratada pelo primeiro clube, o Banco do Brasil. E a partir daí não parei mais. Sou campeã brasileira e tetracampeã paulista.

E qual foi seu título mais emblemático?
Sem dúvida, o Brasileiro, um nível altíssimo e que me abriu as portas para eu ser instrutora.

Você simultaneamente iniciou uma carreira de instrutora?
Quando comecei a ganhar campeonatos, as pessoas começaram a me pedir dicas, que eu consegui ao longo da vida, observando uma jogada, recebendo o ensinamento de um jogador mais experiente. No final eu condensei tudo isso em um curso que não existia no Brasil.

E como é esse curso?
São sete aulas de 45 minutos, em que a pessoa vai ter toda a vivência, da técnica à dinâmica de jogo. Depois, ela já pode treinar sozinha.

Qual é o panorama da sinuca no país?
A sinuca é o segundo esporte mais praticado no país, depois do futebol, e foi reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional. É difícil encontrar um homem que nunca tenha jogado pelo menos uma única vez.
Já entre as mulheres, por muito tempo houve um vácuo, porque os ambientes não eram bons, e elas eram malvistas se frequentassem. Nos anos 90, os clubes fizeram um resgate do esporte. E as mulheres, em especial as da terceira idade, tiveram muito interesse.

Por quê?
Porque eram pessoas solitárias, que não tinham outras atividades ou não conseguiam fazer uma aula mais aeróbica. Como a sinuca é um esporte moderado, que não exige força nem muito condicionamento físico, as mulheres se adaptaram facilmente às aulas.
Comecei a dar aulas e formar grupos. E aí, como muitas eram sozinhas, elas foram se unindo, até que passaram a viajar juntas para disputar campeonatos. Foi uma forma de inclusão através da sinuca.

E esses grupos ainda existem?
Sim, elas continuam lá, nos clubes Alto de Pinheiros, Harmonia e Paulistano. São mulheres de 60, 70, 80 anos de idade.

E você ainda têm alunos nessa faixa etária?
Sim, muitos. A aula os tira de casa. Eu tenho um aluno que diz que a sinuca o curou de um câncer, porque ele resgatou a vontade de viver. É um antídoto contra depressão, sem efeito colateral.
Tem um bom grupo todas as quartas, no Pompeia Snooker, das 20h às 23h. Mulheres não pagam, e homens pagam R$ 10.

Há alguma limitação física para praticar a sinuca?
Não, até cadeirantes podem. Se a pessoa consegue se locomover, não há nenhum impedimento. Em uma partida melhor de três, anda-se 1,5 km e queima-se 250 calorias. E a consequência é um condicionamento físico moderado, porque o praticante anda, abaixa, se alonga. Faz bem para a coluna, para as pernas.

Ajuda também na postura?
Sim, muito. Ela fica extremamente elegante.

Tem alguma jogada mais difícil?
Não, o bonito é administrar o jogo. Quem manda é o marcador de pontos. Se você estiver atrás, tem de defender. Se você estiver na frente, tem de atacar. É como um jogo de xadrez, tem muita técnica. Não é só encaçapar a bola. Tem de pensar no conjunto.

Além de ser a única árbitra reconhecida pela Confederação Brasileira de Sinuca, você também é a única comentarista nas transmissões da ESPN Brasil. Com tudo isso, você conseguiu encaçapar o preconceito?
Totalmente, ajudei a mudar aquela imagem associada ao consumo de álcool e cigarro. Quando eu vou dar minhas aulas, estou sempre bem arrumada. E as alunas fazem o mesmo.

Você hoje vive só da sinuca?
Há vinte anos! Dou aulas, sou árbitra e tenho uma grife de equipamentos para sinuca.

E pretende continuar? É uma carreira longeva?
Eu parei dois anos de competir em função das aulas, mas estou voltando. Hoje temos campeões nos Estados Unidos com quase 70 anos de idade. A experiência geralmente ganha da afobação dos mais jovens.

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