Um sequestro em 2009 mudou completamente a vida da psicóloga Zaira Paro, 55 anos. Traumatizada, ela passou a ter dificuldades para se comunicar com as pessoas, teve de parar de atender seus pacientes e até mesmo deixar o mestrado. Mesmo sem nunca ter tido contato com agulhas e linhas, buscou o tricô como terapia. Com ajuda de tutoriais nas redes sociais, ela conseguiu não só transformar paixão em negócio, mas também coragem para enfrentar o mundo externo.
“Eu não conseguia dirigir, tampouco ouvir a campainha de casa tocar. Mas a paixão pelas agulhas me fez voltar a falar com as pessoas. Fui me integrando em grupos na internet e passei a viajar para comprar os insumos para tricotar”, recorda.
Com bastante experiência e renome na área, Zaira foi chamada, em 2018, para participar de um “reality show” de tricô com duração de três meses, que premiaria a melhor artesã com R$ 1.000 em produtos e um vale viagem. Com folga em pontos, ela venceu.
Zaira Paro, 55 anos, que transformou paixão em negócio e ganhou até um reality show de tricô
“Fui chamada até para apresentar um programa de tricô, mas sou mais técnica que sociável. Preferi dar oficinas pelo país e continuar produzindo meu artesanato”, afirma ela, dizendo faturar cerca de R$ 4.000 mensais – “o suficiente para pagar contas e ser feliz”.
A transição da psicologia para o artesanato não foi fácil. “O mercado é diferente, e os clientes também. As redes sociais e o ‘reality show’ ajudaram muito neste sentido. Resumo minha mudança em três palavras: net e ‘working’. Muita net, muito ‘working’ e muito ‘networking’.”
Ruy Soares Barros, consultor do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), diz que profissionais acima dos 50 anos, como Zaira, costumam empreender em áreas que gostam, uma vez que já têm mais experiência e não se arriscam tanto.
“Apesar de estarem ansiosos por resultados rápidos, eles assimilam as orientações e fazem a lição de casa e o plano de negócios. Eles planejam mais”, diz. O empreendedor sênior, no entanto, precisa estar ciente dos riscos inerentes ao negócio que pretende abrir.
Além de listá-los, o especialista recomenda mapear a concorrência e se qualificar para trabalhar com as tecnologias atuais, principalmente redes sociais, que servem como canal para divulgação de produtos e serviços.
No entanto, enfatiza Ruy, “o mais importante é fazer o que gosta: o dinheiro deve vir como consequência”.
Troca de conhecimento para transformar paixão em negócio
Etel Kublikowski , 63, é um exemplo disso. Após atuar durante 20 anos como gerente de desenvolvimento de embalagens em uma indústria de cosméticos, ela se descobriu apaixonada por uma nova atividade: criar laços para produtos.
Em 2014, ela começou a vendê-los como um bico. Com o sucesso do projeto, no ano seguinte, ela deixou o trabalho e abriu a sua empresa, a Tekarts, em sociedade com a filha. “Eu tenho conhecimento em embalagem, e minha filha é formada em marketing. Somamos dois talentos complementares e hoje conseguimos fazer artesanato de produção”, explica.
Com o networking que construiu na indústria que trabalhou, Etel atualmente produz até 5.000 laços por mês para clientes de pequeno a grande porte, como Le Lis Blanc e Mahogany.
Para transformar paixão em negócio – e ganhar dinheiro – “é preciso descobrir o que o mercado quer e valoriza”, avalia a empreendedora. “Eu precisei provar a muitos clientes que valia mais a pena terceirizar a produção de laços do que produzi-los internamente.”
Fazer cursos e participar de consultorias também é fundamental para absorver conhecimento de gestão de quem tem mais experiência, avalia. “Fiz muitos cursos gratuitos no Sebrae, no Senai e em grandes bancos. Participei até de consultoria por Skype. O empreendedor é solitário só se quiser, porque há muito troca de conhecimento no mercado.”
Confira 5 dicas do Sebrae para transformar paixão em negócio
1 - Avalie se seu hobby tem espaço no mercado e o que ele pode oferecer de diferencial;
2 - Planeje a qualificação e o investimento necessários para iniciar a operação;
3 - Participe de feiras e eventos do setor para fazer networking e futuras parcerias;
4 - Ainda que conheça o ramo, busque novos conhecimentos em consultorias, workshops e palestras;
5 - Utilize as redes sociais para divulgar que sua paixão se transformou em um negócio e atrair clientes.
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