Qual é sua jornada semanal de trabalho? Chega a 44 horas, limite previsto pela legislação brasileira? Se sim, talvez seja o momento de repensar sua dedicação à carreira: uma pesquisa australiana mostra que pessoas com mais de 40 anos de idade têm melhor desempenho se trabalharem 30 horas semanais.
O cálculo foi feito por pesquisadores da Universidade de Melbourne. Foram analisados os hábitos de 3.000 homens e 3.500 mulheres, todos com mais de 40 anos.
Para chegar a esse número de horas, os especialistas compararam resultados de testes de capacidade cerebral. A conclusão é que longas jornadas de trabalho causam mais queda no rendimento e danos cognitivos do que ficar sem trabalhar. A explicação: o excesso de estímulos tem efeito mais danoso do que nenhum depois de certa idade.
“O declínio cognitivo é devido ao desgaste funcional e à perda da atenção, característica que também ocorre em outras faixas etárias. Todo o excesso leva à perda de qualidade”, sinaliza o médico Renato Peixoto Veras, diretor-geral da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador-geral do Curso de Pós-Graduação Especialização em Geriatria e Gerontologia da Uerj.
Para Ângelo José Bós, professor adjunto do Instituto de Geriatria e Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, até os 80 anos, a pessoa mantém a produção intelectual equivalente ou superior ao das mais jovens porque consegue aliar o conhecimento à experiência. No entanto, forçar o profissional sênior a trabalhar por mais tempo pode levar ao estresse e à fadiga.
“Uma jornada semanal de trabalho reduzida permitiria que a pessoa não sofresse fadiga física, mantendo a sua capacidade de trabalho plena. Essa nova condição também a ajudaria a participar de outras atividades socialmente produtivas como o envolvimento em voluntariado e em conselhos municipais e estaduais”, destaca Bós.
Inclusão
A permanência ou reinserção no mercado de trabalho pode ser sinônimo de interação e participação. “Incentivar quem tem mais de 60 anos a participar de atividades lúdica ou laboral é uma forma de inclusão”, afirma Veras. Mas, enquanto não há medidas que indiquem a redução de uma jornada semanal de trabalho, cuidar da saúde, tirar férias e aumentar o tempo de repouso são medidas fundamentais.
Iniciativas para permitir que pessoas com mais de 60 anos permaneçam no mercado de trabalho começam a despontar. Uma das pioneiras é o RETA (Regime Especial de Trabalho do Aposentado), um projeto de lei elaborado pelo Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.
Em estudo por técnicos do governo federal, ele prevê que aposentados com 60 anos de idade ou mais possam ser contratados por hora, sem vínculo empregatício e custos com Previdência Social, FGTS e 13º salário. A carga horária semanal seria de até 25 horas, e o trabalho diário não poderia ultrapassar o limite de oito horas.
“Muitas vezes, o profissional mais velho precisa continuar no mercado de trabalho para compor sua renda depois de aposentado e, eventualmente, quer continuar trabalhando, porque isso lhe traz bem-estar e sensação de propósito. No entanto, ele gostaria de fazer isso com mais liberdade, em uma rotina mais leve. É essa possibilidade que o projeto RETA abre, declarou Antônio Leitão, gerente do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.
Clique aqui para conhecer o RETA (Regime Especial de Trabalho do Aposentado).
Possibilidades
Por ora, as empresas, segundo Sonia Garcia, diretora-executiva da UNIVERSG Consultoria e Serviços e especialista em RH, podem realizar estudos internos para que seja estabelecida uma relação ganha-ganha entre profissional e corporação. Elas podem adaptar processos, “adequando cada carga horária e condições de trabalho ideais para a produtividade de cada trabalhador”.
Quem está repensando a jornada semanal de trabalho pode colocar entre as opções uma segunda carreira. Empreender em uma área de interesse, delimitando a dedicação diária, seria uma estratégia para maximizar o desempenho e minimizar a possibilidade de estresse e fadiga.
“Um exemplo bem-sucedido é uma experiência de um grupo de engenheiros japoneses aposentados de diferentes empresas, como Mitsubishi, Nissan e Panasonic, que criaram uma empresa de desenvolvimento de tecnologia juntando a experiência de cada um nas empresas que trabalhavam”, cita Bós.
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