“A combinação de diferentes gerações faz a diferença”, afirma Valeria Gladzstein, de 40 anos, diretora de recursos humanos da Henkel, multinacional de origem alemã que fabrica produtos químicos, como adesivos, cosméticos e itens de limpeza. “Faz com que se torne variado o perfil dos funcionários que buscam inovações e que interagem com os clientes, por exemplo.”

Esse pensamento é base para as políticas corporativas da companhia. Caso do programa Mentoria Reversa, que promoveu trocas de conhecimentos na empresa a partir de uma proposta inovadora: profissionais mais jovens seriam os tutores dos mais experientes, de 50 anos ou mais, em termos de uso de tecnologia. “A iniciativa fez parte de um dos pilares dos valores da organização, que é o da diversidade”, diz ela.

A primeira edição da Mentoria Reversa foi realizada no ano passado, em 17 países dentre aqueles em que a Henkel está presente. Contou no total com 380 participantes, 16 deles no Brasil, que, ao se inscrever voluntariamente, formaram oito duplas de trabalho. A ideia era que cada dupla se encontrasse ao menos uma vez, para que o funcionário da Geração Y, mais novo, desse ao da Geração X, mais velho, dicas para o uso de ferramentas do mundo digital, como redes sociais e aplicativos – não apenas para fins profissionais mas também pessoais.

Henkel Valeria Gladzstein, diretora de recursos humanos que conduziu o programa; crédito: Na Lata.

Segundo a diretora de RH, a intenção era que cada dupla realizasse ao menos uma conversa – pessoalmente ou via Skype ou telefone, no caso de os integrantes serem de cidades diferentes. “Para nossa surpresa, a maioria se encontrou por mais de uma vez”, conta Valeria.

“Ao aderir ao programa, meu objetivo era quebrar paradigmas. Se não me atualizo, fico para trás”

Sergio Crude, de 57 anos, está há 37 na Henkel. Formado em química, começou na área de gestão de qualidade e hoje é responsável por saúde, meio ambiente, segurança de produtos e assuntos regulatórios para a América do Sul. “Quando atingimos determinada idade, tendemos a achar que a solução para todos os problemas já está na nossa cabeça”, diz ele. “Ao aderir ao programa, meu objetivo era quebrar paradigmas. Se não me atualizo, fico para trás.”

O mentor de Crude em tecnologia foi o argentino Mariano Padreda, 31 anos, supervisor de vendas. “Tivemos uma conversa descontraída e informal”, lembra o executivo mentorado. “A partir das orientações dele, passei a me sentir mais à vontade para usar a rede social interna da empresa e aplicativos tanto como ferramentas de trabalho como para uso pessoal, caso de serviços de táxi. Também passei a estar mais presente no grupo da família no WhatsApp. Antes ficava receoso de digitar uma ou outra coisa, agora não tenho mais medo de experimentar.”

Por outro lado, Crude diz ter notado que também exerceu o papel de professor na integração. “Ele me perguntou como era estar na mesma empresa há tanto tempo. Eu disse a ele que não é a mesma companhia, que a Henkel se reinventa o tempo todo e que crescemos junto com ela. Ao final, nós nos tornamos amigos. O programa quebra barreiras dos dois lados e ajuda a motivar os mais jovens.”

Também é uma forma de eliminar distâncias hierárquicas, segundo Valeria Gladzstein. Foi o que percebeu o gerente de marketing digital da Henkel, Leon Neto, de 33 anos, há 3 na empresa. Neto diz que teve “um frio na barriga” ao saber que seria o mentor de um diretor sênior mexicano que passava um tempo na filial brasileira da multinacional. “Eu o via pelos corredores, mas nunca tínhamos conversado”, afirma. “É um executivo de 58 anos que passou metade da vida na companhia.”

O diretor já voltou para o México, mas ambos ainda mantêm contato pelo Facebook. “Os conhecimentos dele em tecnologia me surpreenderam”, diz Neto. “É um profissional bastante antenado, que inclusive me deu dicas sobre aplicativos do mercado financeiro. Meu pai tem idade próxima da dele e também se interessa por esse tipo de aplicativo, então acabei levando para casa coisas que aprendi nos dois encontros que tive com o gestor.”

Foi ainda uma oportunidade para expor a seu superior hierárquico os planos da Henkel para a área de marketing digital. “A troca de conhecimentos foi mútua”, ressalta.

De acordo com a diretora de RH, a empresa pretende repetir a experiência, mas não há ainda uma data prevista para uma nova realização da Mentoria Reversa.

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