A insegurança financeira das mulheres nos mais diversos cantos do mundo está ligada a fatores históricos e culturais. Apesar de trabalharem fora há décadas, elas costumam ganhar bem menos do que os homens. Além disso, muitas vezes não têm reserva suficiente para se sustentar sem estar trabalhando.

Ao se tornarem mães, ainda acabam sendo obrigadas a interromper as carreiras ao menos por um tempo. Não é incomum, inclusive, que se submetam a relações pouco saudáveis por medo de não ter como se sustentar.

Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos e divulgada pelo National Council on Aging e pelo Women 's Institute for a Secure Retirement mostrou que a percepção sobre a insegurança financeira das mulheres piorou no país.

Metade das entrevistadas escolheu palavras como incerteza e preocupação para definir como se sente em relação ao futuro. Referências negativas foram utilizadas por 76% das entrevistadas. E em relação à frase “Não ganho o suficiente para poupar”, 59% concordaram. Esse percentual chegou a 81% na faixa de baixa renda.

E no Brasil?

Na opinião de Andressa Gnann, advogada, mãe, empreendedora e responsável pelo projeto Papo de Leoa, apesar das mulheres brasileiras estarem se dedicando mais aos estudos, ao trabalho profissional e ao empreendedorismo, a maioria ainda se sente insegura financeiramente.

“Antigamente os homens eram os provedores e as mulheres eram as responsáveis pela casa e pelos filhos. Hoje, apesar de buscarem a independência financeira, a sobrecarga materna é muito grande.  Também falta equilíbrio financeiro. Isto porque as mulheres permanecem com salários mais baixos e  enfrentam mais objeções e dificuldades, principalmente no caso das que são mães”, acredita.

A educadora financeira e coordenadora do Movimento APOEF Mulher, Gilmara Gonzalez, concorda. 

“No Brasil, a realidade das mulheres em relação às finanças pode ser semelhante à dos Estados Unidos. A cultura machista e a falta de educação financeira podem contribuir para que se sintam inseguras em relação ao próprio dinheiro. Apesar de terem um papel significativo na gestão financeira das famílias, enfrentam muitos desafios. Elas lideram 45% dos lares e são responsáveis por pelo menos 90% das decisões de compras. Além disso, a presença feminina no mercado financeiro ainda é modesta. E as mulheres ganham, em média, 30% a menos que os homens em funções equivalentes. Isso pode contribuir para essa sensação de insegurança financeira”, diz.

Uma mulher de meia idade ansiosa, olhando contas. Imagem para ilustrar a matéria sobre insegurança financeira das mulheres. Crédito: fizkes/Shutterstock

Insegurança financeira das mulheres e dependência econômica pode gerar abusos

Segundo Andressa Gnann, a dependência financeira é um dos principais fatores que fazem com que mulheres permaneçam em relacionamentos abusivos. “Isso não significa que mulheres independentes não permanecerão nessas relações. Significa, estatisticamente, que a maioria das que vivem em um relacionamento abusivo possuem dificuldade de sair dele exatamente pela falta de condições financeiras”, explica.

Ela acredita que a mulher que busca o protagonismo de suas finanças possui menores chances de sofrer algum tipo de violência ou abuso. Porém, ainda que sofra, tem melhores condições de superar. 

“É possível afirmar que a maior causa de violência doméstica é em decorrência da dependência financeira ou violência patrimonial. Uma pesquisa realizada pelo Observatório da Mulher comprovou que 46% das mulheres não denunciam o agressor em decorrência da dependência financeira”, alerta a advogada.

Ter protagonismo nas finanças é ferramenta para diminuir insegurança financeira das mulheres

Para Gilmara Gonzalez, saber fazer dinheiro e cuidar das finanças é essencial para a construção de um futuro financeiramente saudável. Ela acredita que, ao terem controle sobre suas finanças, as mulheres também contribuem para uma sociedade mais equitativa e para a igualdade de gênero.

“A independência financeira feminina é fundamental. Ela impulsiona o crescimento econômico e promove um ambiente mais justo e igualitário. Como coordenadora do Movimento APOEF Mulher, tenho visto muitas mulheres assumindo esse protagonismo. Isso me deixa muito feliz”, afirma.

Segundo a educadora financeira Rosielle Pegado, é crucial que as mulheres assumam o protagonismo em suas finanças. “Capacitar-se para gerar renda, gerenciar e investir dinheiro promove a independência financeira. Também amplia as possibilidades de conquistar os próprios objetivos, sejam eles pessoais ou profissionais. Além disso, ter controle sobre as finanças confere às mulheres maior liberdade e capacidade de escolha em todas as esferas da vida”, diz.

Educação financeira é peça-chave para mudar cenário

Para mudar o cenário de insegurança financeira das mulheres é crucial, segundo Rosielle, que elas tenham acesso à educação financeira. Ou seja, elas precisam aprender sobre orçamento pessoal, investimentos, planejamento para o futuro e como tomar decisões financeiras inteligentes. 

“Além disso, é importante que as mulheres busquem apoio em redes de suporte. Ou seja, grupos de mulheres ou organizações que oferecem recursos e orientação financeira. A independência financeira é uma jornada. É importante começar dando passos pequenos, mas consistentes, em direção a uma maior segurança”, orienta.

Gilmara, por sua vez, reforça a necessidade das mulheres buscarem conhecimento sobre planejamento financeiro. 

“Criar um orçamento, poupar e investir são passos importantes para garantir uma vida financeira mais segura e estável. Além disso, buscar apoio de profissionais especializados em educação financeira e ter conversas abertas sobre dinheiro são atitudes importantes para se tornar mais segura financeiramente”, diz. 

Estímulo ao empreendedorismo feminino é vital

Ela acredita que, para diminuir a insegurança, as mulheres podem seguir algumas orientações valiosas. A primeira delas é aprender a ganhar seu próprio dinheiro. Além disso, investir em educação financeira é fundamental para saber gerenciar as finanças pessoais e investimentos.

Outra orientação de Gilmara é separar uma parte da renda mensal para uma reserva estratégica ou de oportunidade. “Ter uma reserva pode oferecer segurança e tranquilidade em tempos de necessidade. Além disso, adquirir conhecimento sobre investimentos pode garantir um retorno financeiro e ajudar a construir um patrimônio ao longo do tempo”, afirma.

Para Andressa Gnann, há uma série de questões que precisam ser consideradas para que as mulheres se sintam mais seguras financeiramente. Além da educação financeira, ela cita a necessidade de quebra das crenças limitantes em relação ao dinheiro. E ressalta a importância do estímulo ao empreendedorismo. “Ao meu ver, é preciso enxergar o empreendedorismo como a base para a independência financeira. Isso porque apesar de ser difícil conciliar trabalho e maternidade, é perfeitamente possível”, finaliza.


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