Atualmente, mais de 70% dos brasileiros têm dívidas. Ou seja, estão no grupo que pega dinheiro emprestado para adquirir algum bem e podem se tornar inadimplentes caso não consigam pagar. Mas por que o cenário é esse? E como é possível evitar dívidas e lidar melhor com as que já existem?

De acordo com Gilmara Gonzalez, especialista em educação financeira com programação neurolinguística e membro representante do núcleo Latino-americano da APOEF, são muitos os motivos que explicam o alto nível de endividamento da população brasileira neste momento. 

“A pandemia nos dois últimos anos, a crise mundial que tem crescido e reduzido o poder aquisitivo das pessoas, a inflação que está aparentemente voltando aos moldes dos anos 80, além da 'facilidade' de crédito em nosso país. No entanto, a maior e principal causa dessa inadimplência é a falta de conhecimento sobre o assunto dinheiro. Ele ainda é um tabu muito grande que precisa ser vencido”.

O consultor empresarial e educador financeiro Billy de Paula, também membro da APOEF, concorda. “É preciso mudar comportamentos e hábitos para evitar dívidas. Tem que dar um basta, tomar consciência e cortar gastos desnecessários, aprender sobre educação financeira. É lamentável ver tanta gente desesperada buscando dinheiro e cavando mais fundo o buraco”, reflete. 

“Normalmente, o maior problema do brasileiro é o imediatismo. O brasileiro quer tudo para agora, não tem o costume de se programar para comprar depois. E trabalha com a crença de que dinheiro foi feito para gastar.” 

pessoa pensando em como evitar dívidas ganhando pouco

Crédito: Willian Potter/shutterstock

Como evitar dívidas ganhando pouco?

Em muitas situações, o endividamento também acontece porque a renda é insuficiente. Mas, mesmo nesses casos, a educação financeira pode ajudar a evitar dívidas. Para Gilmara, quando falta dinheiro, existem dois caminhos para evitar as dívidas e organizar as finanças: reduzir o custo de vida ou aumentar o ganho além do custo de vida. Ou, na maioria das vezes, fazer as duas coisas juntas. 

“É preciso saber exatamente quanto entra, quanto sai e para onde está indo cada centavo. É preciso fazer uma avaliação minuciosa de toda a situação financeira antes de tomar qualquer atitude que pode ter uma aparência de que vai ajudar, mas que, na verdade, pode piorar ainda mais aquela situação. Geralmente, ter mais dinheiro nem sempre é a melhor solução, pois ter mais dinheiro, muitas vezes, significa aumento de gastos proporcionais a esse 'mais dinheiro'. O conhecimento é a base de tudo. Mudar o comportamento relacionado ao dinheiro faz toda diferença”, explica Gilmara.

Aposentados precisam tomar ainda mais cuidado  

No caso dos aposentados, é preciso ainda mais atenção para evitar dívidas desnecessárias. “Sabemos que existe uma má intenção de muitas empresas e instituições, que abusam da falta de conhecimento e dos hábitos do brasileiro. As instituições facilitam muito o acesso ao crédito, especialmente o consignado no caso dos aposentados. E a maioria dos aposentados hoje no Brasil mantém famílias. Elas dependem da aposentadoria e vemos muitos casos de ciladas e golpes que os envolvem”, explica Billy.

Gilmara lembra que os aposentados contam com a "facilidade" do crédito consignado e dos juros relativamente menores. “Eles são muito assediados pelos próprios agentes bancários e parentes próximos. Há que se lembrar que o empréstimo consignado é uma das dívidas mais difíceis de se livrar, uma vez que já vem diretamente descontada no saldo a receber e a margem de endividamento do salário do aposentado aumentou de 30% para 40%, elevando o risco de superendividamento”, afirma.

Ela lembra que existe a lei de proteção ao superendividamento que foi sancionada em julho de 2021 para ajudar a evitar dívidas além de um limite, mas entende que é um paradoxo existir a lei e ter havido aumento na margem de endividamento dos aposentados. 

“Ainda temos um longo caminho a percorrer, pois velhos hábitos são difíceis de transformar, mas é possível. Também é importante ensinar que não existe dívida para o outro. Se está em seu nome, ela é sua e se o outro não pagar, você tem que pagar. Aprender a dizer não é uma excelente solução.”

Vale trocar dívidas mais caras por mais baratas?

Quem não conseguiu evitar as dívidas e não sabe mais como fazer para dar conta pode começar a entender melhor quais as dívidas mais caras ou baratas. Segundo Gilmara, a primeira coisa a ser feita é saber a categoria em que cada dívida se encaixa, saber qual a consequência do não pagamento ou atraso dessa dívida e se tem algum bem atrelado a ela, como veículo ou imóvel.

"O não pagamento trará que tipo de prejuízo? No nosso país hoje, temos a prerrogativa de trocar dívidas de um banco com altos juros por outro que cobre juros menores chamada de portabilidade, que nada mais é que transferir a dívida de um banco para outro”, diz a educadora. “Há que se lembrar que, mesmo sendo um direito do consumidor, os bancos não facilitam essa transação, então é necessário munir-se de muita paciência e tempo para as negociações.”

Para Billy, além de avaliar as dívidas, quem quer acertar a situação precisa buscar alternativas. “A primeira coisa é deixar de gastar e a segunda é criar renda extra. Eu fazia rifas para custear viagens. Nem comprava o objeto da rifa. Comprava com o dinheiro do que eu vendia”, conta. “Se pergunte como pode fazer dinheiro, quem pode ajudar. Tem que conversar, negociar com o credor, buscar formas e solucionar. Por isso, é importante em, muitos casos, contar com um assessor, um educador financeiro, um planejador”.

E o que fazer quando o nome está sujo?

E quando a pessoa não conseguiu evitar as dívidas, independentemente da razão, e já está com o nome sujo? O que fazer nesses casos? Ao contrário do que muita gente pensa, os educadores explicam que essa situação não precisa ser vista de forma tão negativa. 

De acordo com Billy de Paula, muitas vezes vale até agradecer quando o nome fica sujo “porque é um freio, um cabresto obrigatório ajudado pela lei para que a pessoa não se endivide mais, entrando em crise de ansiedade, de depressão.”

Gilmara concorda. “Em primeiro lugar, eu não diria nome sujo e, sim, protegido (de você mesmo), porque assim, supostamente, não poderia se endividar ainda mais.” Ela explica que o sistema de crédito brasileiro não contempla os adimplentes. “Tente renegociar com bancos e cartões de crédito uma dívida que esteja em dia! Impossível! O banco só negocia com os inadimplentes, além do que, quanto mais o tempo passa, mais descontos eles dão. Então, se está nessa situação, crie estratégias para negociar da melhor forma possível, juntar dinheiro e fazer uma oferta. Estando no 'fundo do poço' a tendência é subir”, diz Gilmara.


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