O colesterol desempenha muitas funções essenciais no nosso organismo. Entres elas, manter a estrutura de nossos trilhões de células e a produção de hormônios - como cortisol, estrógeno, progesterona e testosterona - e de vitamina D.
Além disso, a maior parte do colesterol é produzido no próprio corpo: produzimos o equivalente a 4 gemas todos os dias, sem comer ovos. Aliás, estudos demonstram que o colesterol ingerido praticamente não tem relação com o colesterol do sangue em pessoas saudáveis.
Ainda assim, o colesterol ganhou uma péssima reputação. E com ele o ovo, o alimento com maior quantidade de colesterol que consumimos, e que possui gorduras saturadas que aumentam os níveis de colesterol no sangue.
A chamada “hipótese do colesterol” nos assombrou por décadas, acusando o colesterol, e por consequência o ovo, de causar doenças cardiovasculares.
O medo parece justificado: Doenças cardiovasculares ocupam o topo da lista de causas de morte, incluindo o 1o lugar com acidente vascular cerebral (AVC) e o 2o com o infarto do miocárdio. Estes dois eventos têm em comum o bloqueio de artérias que levam sangue - ao cérebro e ao coração, respectivamente- devido à presença de placas de arterosclerose que contém colesterol, gorduras e cálcio.
Então, a conclusão que se chegou – precipitadamente - há algumas décadas foi:
Se as principais causas de morte têm acúmulo de colesterol nas artérias e o ovo e outros componentes da dieta têm colesterol, eles são os culpados. Certo? Não!
Pra entender os erros que resultaram nessa explicação exageradamente simplificada que acabou banindo da nossa dieta alimentos ricos em nutrientes importantes e os substituiu por outros piores para a saúde, como excesso de açúcar e gorduras nocivas, precisamos analisar o contexto dessa história:
Estudos científicos sobre o efeito de alimentos na saúde são extremamente difíceis de serem realizados por questões técnicas: não se consegue isolar indivíduos e deixá-los comendo apenas um alimento por muito tempo. E mesmo que se observe uma população, é difícil separar facilmente os efeitos de outros alimentos, hábitos de vida, doenças etc.
Além disso, recomendações nutricionais para prevenir ou reverter doenças sem terem tido seus mecanismos de ação completamente estudados não são novidade. E alguns exemplos históricos tiveram tanto sucesso que favorecem conclusões precipitadas:
- Quantas pessoas se livraram do escorbuto comendo frutas e verduras ricas em vitamina C depois que se percebeu que marinheiros que passavam longos períodos sem alimentos frescos desenvolviam a doença?
- E em quanta crianças se preveniu o raquitismo garantindo doses de vitamina D adequadas (geralmente com consumo de óleo de fígado de bacalhau) e exposição ao sol depois que um médico polonês percebeu que crianças malnutridas vivendo em cidades sofriam mais da doença?
Incontáveis!
O erro inicial em relação ao colesterol foi uma mistura infeliz de estudos científicos pouco robustos usados prematuramente para estabelecer políticas públicas de recomendações nutricionais e uma sociedade na qual a indústria de alimentos tem muito poder.
Hoje se sabe que o colesterol que acumula nas placas e bloqueia as artérias faz isso em um cenário muito peculiar: o excesso de açúcar, amido e gorduras nocivas típicos de alimentos industrializados promove inflamação e modificações nas artérias e na molécula de colesterol e isso leva à formação de placas.
Estudos recentes comprovam que não há relação direta entre o colesterol dos alimentos – em especial do ovo- e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares em pessoas com dieta saudável. Ou seja, o colesterol não vai causar a formação de placas na maior parte das pessoas desde que elas tenham uma alimentação rica em vegetais e fibras e pobre em alimentos industrializados. Alguns estudos mostram inclusive efeitos de proteção e melhora de saúde metabólica e desempenho cognitivo em indivíduos saudáveis e pacientes com doenças neurodegenerativas que comem ovos diariamente.
Esses efeitos podem ser atribuídos também a outros componentes abundantes nos ovos como vitaminas, minerais e antioxidantes, além de colesterol e gorduras saudáveis. Em especial à colina, um nutriente essencial para a comunicação entre neurônios e a produção do neurotransmissor acetilcolina, diminuído em doenças como a Doença de Alzheimer.