O envelhecimento da população já é uma realidade amplamente discutida. Porém, especialistas apontam que o sistema de saúde brasileiro não está preparado para os desafios relacionados ao atendimento de pessoas idosas no país.

Por um lado, o envelhecimento da população evidencia que os avanços da medicina têm proporcionado melhores condições de vida. Por outro lado, uma população envelhecida pode trazer consigo diversos problemas relacionados à saúde. Como o aumento da incidência de doenças cardiovasculares, cânceres e demências.

Mesmo que estudos já mostrassem que a população brasileira teria um envelhecimento acelerado, como evidenciado nos dados do último Censo, o sistema de saúde brasileiro não acompanhou essa demanda. Para os especialistas, o Brasil não conseguiu avançar com a rapidez necessária. Dessa forma, o país terá um cenário mais desafiador para os próximos anos.

Entre os desafios estão a escassez de profissionais especializados e de leitos em instituições de longa permanência ou de reabilitação. Isso além da falta de centros-dia de assistência e de serviços domiciliares. Além disso, a falta de iniciativas governamentais voltadas para a integração dos idosos e o estímulo às conexões sociais afeta a saúde mental desse grupo. O que tem contribuído para o aumento das taxas de depressão e outros transtornos.

Em entrevista ao Estadão, o médico geróntologo e presidente do Centro Internacional da Longevidade, Alexandre Kalache, pontua que as evidências do aumento da longevidade e queda da fecundidade são discutidas há décadas. Para o especialista, os líderes políticos, as instituições de saúde e a sociedade em geral têm negado as necessidades da população idosa, o que dificulta uma preparação mais cuidadosa para o desafio do envelhecimento.

Sistema de saúde brasileiro precisa se preparar para o desafio do envelhecimento

Uma pesquisa do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), divulgado em abril, revelou que apenas 0,7% dos médicos que completaram a residência em 2020 escolheram a especialização em geriatria. Esse índice permaneceu praticamente o mesmo ao longo da última década. Por outro lado, 9,5% optaram pela especialização em pediatria, por exemplo. Atualmente, o Brasil conta com pouco mais de 2,6 mil geriatras. Porém, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) estima um déficit de 28 mil profissionais nessa área.

Além disso, de acordo com a pesquisa do IEPS, indo na contramão da demanda, a quantidade de leitos disponíveis em instituições de longa permanência ou de reabilitação diminuiu de 0,6 para mil idosos em 2010 para 0,4 para mil idosos em 2021.

Esses dados evidenciam que o sistema de saúde brasileiro está pouco preparado para cuidar da população envelhecida. Confira abaixo alguns dos desafios relacionados ao envelhecimento populacional.

Uma senhora idosa sentada em uma cadeira de rodas em um hospital. Imagem para ilustrar a matéria sobre o sistema de saúde brasileiro. Crédito: Joesupakorn/Shutterstock

Desafios que o sistema de saúde brasileiro poderá enfrentar

Doenças crônicas não detectadas ou descompensadas

À medida que a população envelhece, cresce a incidência de doenças crônicas, como hipertensão arterial e diabetes. Sem gestão adequada ou tratamento, essas condições podem resultar em casos de infarto e acidente vascular cerebral (AVC), que atualmente são as principais causas de morte no país.

Mesmo com o avanço nos tratamentos dessas doenças nas últimas décadas, milhões de brasileiros ainda lidam com esses problemas sem consciência ou sem seguir as orientações médicas. Apenas a hipertensão impacta aproximadamente 30 milhões de pessoas no país.

Aumento no gargalo no diagnóstico e tratamento do câncer

Os tumores são grandes desafios para a saúde, pois eles podem ter aumento de incidência à medida que as células envelhecem. No Brasil, de acordo com informações do portal Datasus do Ministério da Saúde, o número de óbitos por câncer aumentou 26,8% na última década, subindo de 191,5 mil em 2012 para 242,9 mil em 2022.

Essa situação exige aprimoramento no sistema de saúde brasileiro, de forma que possibilite o diagnóstico mais precoce dos tumores. Conforme apontado pelo Instituto Oncoguia, utilizando dados do Ministério da Saúde, dois terços dos brasileiros diagnosticados com câncer receberam a confirmação da doença em estágio localmente avançado ou já com metástase.

Tratamento de demências e transtornos mentais

O crescimento no número de pacientes com Alzheimer e outras demências é uma expectativa natural em países com uma maior quantidade de idosos. Estima-se que 40% das pessoas com 85 anos ou mais terão algum grau de declínio cognitivo.

Atualmente, o Brasil registra aproximadamente 1,2 milhão de pessoas com demência. A previsão é que pelo menos 100 mil novos casos surjam anualmente. Isso destaca a crescente demanda por serviços de saúde dedicados a fornecer suporte a essas pessoas. Além da necessidade de políticas voltadas para a prevenção ou adiamento do desenvolvimento dessas doenças.

Os transtornos mentais também representam uma preocupação enorme para a saúde dos idosos. Um estudo realizado em 2019 pelo governo federal revelou que a faixa etária dos 60 aos 64 anos era a mais impactada pela depressão, atingindo 13,2%. Especialistas indicam que esse cenário provavelmente se agravou após a pandemia.

Tratamento de problemas osteoarticulares

Outra questão que afeta a qualidade de vida e a funcionalidade dos idosos, sobrecarregando o sistema de saúde brasileiro, são as doenças osteoarticulares. Por exemplo, osteoporose e artrose. Esse tipo de enfraquecimento aumenta significativamente o risco de quedas. Em idades mais avançadas, elas podem causar morte ou incapacidade.

Os especialistas enfatizam a importância de focar na prevenção desses problemas. Dessa forma, pessoas idosas podem envelhecer com menos vulnerabilidade. Além disso, é crucial fortalecer a rede de saúde, incluindo leitos de reabilitação e profissionais como fisioterapeutas.

Falta de políticas de prevenção

Os problemas mencionados acima são mais frequentes em pessoas idosas. Isso porque pessoas mais jovens são incentivadas a adotar estilos de vida mais saudáveis. O que inclui uma dieta adequada, controle de peso e uma rotina de atividades físicas. Essas escolhas, porém, não devem ser encaradas apenas como decisões individuais. Isso porque, no processo de envelhecimento, irá afetar a vida das pessoas e também a infraestrutura da saúde.

Além disso, é fundamental que as cidades ofereçam mais espaços verdes acessíveis, transporte de qualidade e acessível, maior segurança, e atividades culturais e sociais para facilitar o cuidado com a saúde. Essas são políticas públicas que facilitam o acesso à qualidade de vida, reduzindo problemas relacionados à saúde.

Sobrecarga dos familiares quanto ao cuidado com idosos

Considerando que a infraestrutura de leitos e centros de convivência ainda é inadequada, a maioria da população brasileira não tem recursos para custear serviços privados. Nesse cenário, o cuidado dos idosos recai principalmente sobre os familiares, com destaque para as mulheres.

Em diversas situações, um membro da família acaba por abrir mão do emprego para se dedicar ao cuidado dos pais, avós ou companheiros. O que impacta diretamente na renda familiar e na participação da mulher no mercado de trabalho.

O desafio das desigualdades sociais

Todos os problemas mencionados se tornam ainda mais desafiadores quando consideramos o contexto de desigualdade social, racial e de gênero no país. O estudo do IEPS destaca que, conforme relatado pelos próprios idosos, o estado de saúde é melhor nas faixas de renda mais elevadas da população idosa.

As demandas de um idoso de região periférica não são as mesmas de uma pessoa que mora em zona nobre. Portanto, ao enfrentar os desafios de saúde associados ao envelhecimento, é essencial direcionar a atenção para as necessidades específicas das populações mais pobres e marginalizadas.


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