Por acaso jovens só se interessam por jovens? E idosos por idosos? Nunca me fiz essas perguntas, porque nunca precisei delas. Tanto que optei por uma especialização – que agora está virando uma profissão, em processo de regulamentação no Congresso Nacional – em Gerontologia. Sim, eu me especializei em cuidar de idosos.

Normalmente, o cuidado ao idoso é associado a um estereótipo, normalmente pejorativo, de dar “atenção aos velhinhos”. O sentido por trás do tom diminutivo é o de uma ação de amparo dirigida a alguém carente e limitado.

O preconceito contra o idoso em nossa sociedade é tanto que: 1) transfere a suposta “fraqueza” dos idosos aos profissionais que deles se ocupam e 2) diminui o valor do ato de dar cuidado a quem dele precisa.

Prestar serviços de saúde ou assistência a idosos frágeis é uma possibilidade de atuação para quem atua com Gerontologia. Eu, que trabalhei num serviço que atendia idosos com esse perfil, posso assegurar que é muito gratificante e desafiador. Mas o cuidado profissional ao idoso está longe de se resumir a um gesto de dar atenção.

Que fique claro: não há nada errado em dar atenção a quem precisa, no ambiente profissional ou fora dele. Não podemos aceitar a inversão de valores ao ponto de diminuirmos a importância do cuidado atencioso.

Outra máxima muito comum, não tão infeliz quanto a que dá título a esse texto, mas que também me chama a atenção, é a seguinte: “Estou legislando em causa própria”.

No entanto, no que diz respeito à preparação profissional, cuidar de idosos em nada se difere de cuidar de outros públicos: exige muita preparação e prática.Confira mais em: A gerontologia pode ser a carreira para você?

Além do mais, a atuação junto a idosos frágeis não é a única opção aos profissionais da área.

O campo da Gerontologia se abre ainda mais quando atua para evitar ou conter a fragilização associada ao envelhecimento, e essa lógica vale mais quanto mais cedo for aplicada.

O valor dessa lógica também é maior quando não pensamos em evitar a fragilidade apenas do ponto de vista da saúde física, mas também de outros ângulos como: vida profissional, financeira, social e familiar etc. Isso importa especialmente se temos em perspectiva uma vida que vai durar muitos e muitos anos.

Outra máxima muito comum, não tão infeliz quanto a que dá título a esse texto, mas que também me chama a atenção, é a seguinte: “Estou legislando em causa própria”. Ouço isso normalmente de pessoas mais velhas que estão manifestando apoio a algum projeto ligado à longevidade, como o RETA ou o IDL. Como se esses projetos só trouxessem benefícios aos próprios idosos.

Eu gosto de pensar que terei uma vida longa e por isso, quando me perguntam por que estudei Gerontologia e por que trabalho nessa área – com a famosa “Por que você se interessa por velhos se é tão jovem?” – respondo com gosto: na verdade eu é quem estou legislando em causa própria.

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