Os diferentes significados do tempo foi um dos achados mais interessantes da pesquisa “Corpo, envelhecimento e felicidade”, que estou realizando na Universidade Federal do Rio de Janeiro, desde 2007, com 1700 homens e mulheres de 60 a 95 anos.

E o que esses homens e mulheres me ensinaram sobre a importância do tempo na invenção de uma bela velhice?
Para eles, o tempo é um capital, uma riqueza e, portanto, não pode ser desperdiçado. Eles têm urgência de usar bem o próprio tempo. Ele não pode ser desperdiçado.

É o tempo do presente. Eles não falam “no meu tempo era melhor”. Para eles, o que importa é o tempo presente, o tempo do “aqui e agora”. Eles quase não falam de doenças, medos e mortes.
Encontrei diferentes significados para o tempo nesta fase da vida.

1. Para elas, é o tempo de ser “eu mesma” pela primeira vez na vida. Ser a melhor versão delas mesmas com o foco na própria vontade, prazer e desejos.

2. Tempo do afeto, principalmente para os homens. Eles valorizam e querem ter mais tempo para curtir a família, a casa, a esposa, os filhos e netos.

3. Tempo de realizar os projetos de vida: dançar, cantar, tocar piano ou pandeiro, escrever poesias e memórias.

Buscar concretizar tudo o que dá significado à própria vida.
Para homens e mulheres, a velhice pode ser o tempo da libertação.

Perguntei para as mulheres o que elas mais invejam nos homens. As mais jovens responderam, em primeiro lugar, liberdade. No entanto, muitas mulheres de mais de 60 anos disseram categoricamente: “É o melhor momento de toda a minha vida, nunca fui tão feliz. É a primeira vez que posso ser eu mesma, nunca fui tão livre!”.

E como elas conquistaram a liberdade tão desejada?
Elas aprenderam a dizer não. As mulheres mais jovens têm muita dificuldade para dizer não, querem agradar e cuidar de todo mundo e reclamam que não têm tempo para elas. Mais velhas, elas passam a priorizar o tempo para cuidar de si. Esta mudança de foco é uma revolução.

Elas fizeram uma verdadeira faxina existencial. Tiraram das suas vidas não só as roupas velhas e cacarecos, mas também as pessoas destrutivas, que sugam a energia: os “vampiros emocionais”. É o tempo de dizer não, do desapego, da limpeza, da simplificação da vida.

Elas falaram da importância das amigas para uma vida mais livre e feliz. São as amigas que cuidam, que escutam, que conversam, que levam ao médico, que telefonam para saber como elas estão. Elas falaram mais do papel das amigas nessa fase da vida, do que do marido, filhos e netos.

Elas aprenderam a rir e brincar muito mais. 60% das mulheres mais jovens que pesquisei invejam a capacidade masculina de rir de qualquer bobagem. Perguntei: “Por que vocês não riem mais?”. Elas responderam: “Porque eu não tenho tempo” ou “tenho medo do que os outros vão pensar”.

Como disse uma atriz, de 63 anos: “Depois dos 60 resolvi não me levar tão a sério, passei a rir muito mais de mim mesma. Dou tantas gargalhadas que sempre faço xixi na calça. Agradeço a Deus todos os dias por me sentir tão livre e feliz. Mas será que precisava ter demorado tanto?”

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