A dificuldade em acessar app do INSS tem exposto uma fragilidade cada vez mais preocupante entre idosos brasileiros. Muitos beneficiários não conseguem utilizar os serviços digitais do Instituto Nacional do Seguro Social. Com isso, ficam vulneráveis a fraudes e cobranças indevidas. Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) confirmou que milhares de aposentados sequer sabiam da existência de descontos em seus benefícios. Em grande parte dos casos, não reconheciam a suposta filiação que justificava as cobranças.

O levantamento da CGU, divulgado em abril pela Agência Brasil, revelou que 72,4% dos entrevistados desconheciam a cobrança associativa. Além disso, 42,4% nunca haviam usado o aplicativo Meu INSS. Esses dados evidenciam a distância entre a digitalização dos serviços públicos e o nível de letramento digital da população idosa.

Em setembro de 2024, a CGU divulgou o relatório completo após a operação policial que investigou irregularidades. As apurações levaram à suspensão dos acordos entre o INSS e diversas entidades, além da exoneração do presidente do instituto. Segundo o documento, “os resultados sinalizam que os beneficiários encontram mais dificuldades para bloquear os descontos do que as entidades para implementá-los, indicando fragilidade na proteção dos direitos dos beneficiários”.

Dificuldade em acessar app do INSS impede cancelamento de cobranças

O relatório da CGU destaca que muitos idosos não conseguem contestar as cobranças por não saberem como utilizar o app Meu INSS. Mesmo entre os que conheciam o aplicativo, uma parcela significativa nunca o utilizou. Entre os 1.273 beneficiários entrevistados, apenas 32,4% já tinham usado a ferramenta digital.

“A utilização de ferramentas digitais por uma minoria dos beneficiários do INSS limita a capacidade de o cidadão identificar possíveis descontos realizados sem sua autorização, situação agravada em função das fragilidades de controle relacionadas à inclusão desses descontos na folha de pagamento do INSS”, alerta o relatório. Ainda segundo o documento, a transformação digital do INSS aumentou o risco de fraudes por falta de controle interno.

Essas barreiras estão presentes também no dia a dia. Em farmácias, por exemplo, os descontos em medicamentos muitas vezes só são ativados via aplicativo. Nas praças de alimentação, pedidos são feitos exclusivamente por totens digitais. Para quem não domina o uso de celulares ou não tem familiaridade com tecnologia, tarefas simples tornam-se obstáculos.

Uma pessoa com o aplicativo Meu INSS no celular, para ilustrando a matéria sobre dificuldade em acessar app do INSS.  Crédito: rafastockbr/Shutterstock

Especialistas alertam para impacto da exclusão digital na vida dos idosos

A dificuldade em acessar app do INSS é apenas uma das faces da exclusão digital entre os mais velhos. Para a especialista Taiuani Marquine Raymundo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Gerontecnologia, em entrevista ao Estadão, “muitos relatam problemas, bloqueios e até descontos indevidos na aposentadoria. Isso mostra como a vulnerabilidade digital impacta diretamente seus direitos”.

Egídio Dórea, coordenador do programa USP 60+, afirma que “hoje, quem não está incluído digitalmente está socialmente excluído”. Segundo ele, também em entrevista ao Estadão, a falta de paciência da família e o medo de errar dificultam ainda mais o processo de aprendizagem digital entre os idosos.

O acesso aos cursos de capacitação ainda é baixo, o que torna a situação ainda mais agravante. Embora 70% dos idosos estejam conectados à internet, apenas 15% fizeram algum curso de letramento digital. “Cerca de 50% estão no nível básico, ou seja, só conseguem mandar ou receber mensagens no WhatsApp. Outros 40% estão no nível intermediário, com dificuldade para fazer compras online ou usar aplicativos”, explica Dórea.

Com a redução do atendimento presencial e a exigência de nível ouro na conta Gov.br para solicitar cancelamentos, o cenário torna-se ainda mais restritivo. Sem auxílio, muitos idosos acabam expostos a ações de golpistas. Além disso, ainda evidencia a exclusão digital, que se torna um tipo de violência para pessoas idosas. Sem ações direcionadas, a digitalização continuará a ampliar desigualdades já existentes.


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