A ameaça dos golpes digitais cresceu de forma alarmante no Brasil. A cada hora, quase 8 mil pessoas são vítimas de tentativas de fraude virtual. O dado é do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A percepção de que apenas idosos são alvos fáceis está equivocada. Jovens também estão entre os mais atingidos.
De acordo com o DataSenado, 27% das vítimas têm entre 16 e 29 anos. Já os brasileiros com entre 50 e 59 anos representam 14%. Para quem tem mais de 60 anos, 16% das pessoas que sofreram com golpes digitais. Isso mostra que a ameaça não tem idade. Segundo Marcos Ruben de Oliveira, coordenador do DataSenado, os resultados da pesquisa não evidenciam que os idosos sofrem mais golpes.
A exposição diária à internet influencia diretamente nesse cenário. Entre os jovens de 16 a 24 anos, 99% acessam a rede quase todos os dias. Entre pessoas com mais de 60 anos, o índice é de 88%, segundo o Cetic, centro ligado à Unesco.
Golpes digitais crescem com novas estratégias de estelionato
A natureza dos golpes digitais varia conforme a faixa etária. Entre os idosos, é comum o chamado estelionato. São crimes contra o patrimônio, com promessas de empréstimos falsos, boletos clonados e centrais bancárias fictícias. Esse tipo de golpe está classificada uma enrome quantidade de exemplos que se tornam cada vez mais engenhosos. Clonagem de cartão, golpe do Pix, central de banco fictícia eaté a captura de dados por telefone e pela internet.
Ou seja, os idosos são enganados por uma engenharia social em que os criminosos montam falsas centrais telefônicas, pesquisam e cruzam dados disponíveis pelas redes sociais ou invadindo bancos de dados.
Já os jovens são seduzidos por promessas de dinheiro fácil, vagas de emprego e promoções. Segundo o economista Luciano Póvoa, em entrevista à Agência Semana, "eles são seduzidos por promessas de emprego pela internet e ganhos fáceis sem sair de casa".
A falta de atenção também é um fator de risco. Segundo o especialista Rodrigo Fragola, "é comum alguém estar lendo um e-mail ao mesmo tempo em que está conversando no WhatsApp e com uma outra janela aberta pagando coisas. Então, quando for pagar algo, é importante que pare as coisas que está fazendo e preste muita atenção. Andamos muito distraídos. E isso é uma das coisas que ajuda as pessoas a caírem em golpe".
Cibersegurança no foco do Senado
Com o crescimento dos golpes digitais, o Senado criou a Frente Parlamentar de Apoio à Cibersegurança. Presidida pelo senador Espiridião Amin (PP-SC), a frente busca debater e propor políticas públicas. "O que se pretende com esta frente é debater, conscientizar e criar através da interface público-privada um mecanismo para a sociedade se defender e atualizar-se em matéria de segurança cibernética", explica Amin.
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram o avanço desse tipo de crime. Os estelionatos digitais aumentaram 13,6% entre 2022 e 2023. Já os roubos físicos a bancos caíram quase 30% no mesmo período.
Em 2024, estima-se que as violações de dados tenham causado prejuízos de R$ 2,3 trilhões no Brasil. A pesquisa Global Cybersecurity Outlook 2025 destaca que a América Latina é a região com maior dificuldade de resposta a esses crimes. Cerca de 42% das organizações da região estão preocupadas com ataques. Além disso, faltam 4,8 milhões de profissionais qualificados na área.
Crédito: Sadi-Santos/Shutterstock
Projetos de lei fortalecem o combate aos golpes
O Senado discute propostas para endurecer a legislação contra os golpes digitais. A Comissão de Comunicação e Direito Digital analisa o PL 1.049/2022, que trata de extorsão digital. A pena pode aumentar se o crime atingir setores essenciais como saúde e educação.
Outro projeto, o PL 879/2022, qualifica o crime de invasão de dispositivo e sequestro de dados. Já o PL 3.085/2024 propõe penas maiores para ataques contra figuras públicas, especialmente se houver uso de IA ou servidores estrangeiros.
“A relevância da proposta se dá em um contexto de aumento exponencial de ataques cibernéticos, incluindo o uso de ransomware, modalidade em que o criminoso ‘sequestra’ os dados da vítima e exige um pagamento para devolver o seu acesso, que afeta tanto indivíduos quanto entidades governamentais”, diz Zequinha Marinho (Podemos-PA), ex-relator do projeto.
A Comissão de Segurança Pública também debate o PL 4.450/2024. A proposta obriga operadoras a denunciar números suspeitos de envolvimento em golpes digitais.
Prevenção é a melhor defesa
O Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime sugere medidas simples para evitar fraudes. Use senhas fortes e diferentes para cada conta. Ative a verificação em dois fatores. Evite redes wi-fi públicas e faça backups regulares. O alerta é reforçado pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO), que cobra mais ação do Estado. Ele lembra que o país tem mais celulares do que habitantes, o que amplia a exposição.
“Num país que tem mais celulares do que pessoas, cada um dos 215 milhões de habitantes é vítima potencial dos golpistas. Se os golpes se multiplicam, isso provavelmente acontece porque os criminosos se sentem longe do alcance da polícia e da Justiça. O poder público precisa encontrar os mecanismos e as ferramentas adequadas para investigar e prender os bandidos cibernéticos”, sobrou o senador.
Após cair em um golpe digital, o ideal é comunicar o banco imediatamente. Fragola orienta:
“Cada banco é obrigado a fazer um processo de verificação para dar uma resposta em tempo hábil. E dependendo da velocidade com que fizer essa reclamação, eventualmente consegue até o dinheiro de volta. Só que tem que ser muito rápido. De preferência em menos de 12 hora”.
Inteligência artificial na mira da legislação
A inteligência artificial tem sido usada por golpistas para clonar vozes, manipular imagens e criar perfis falsos. O Senado já aprovou um projeto que regulamenta o uso da IA. O texto está em análise na Câmara dos Deputados.
“Com a inteligência artificial, muitas vezes fica muito mais difícil, até para uma pessoa que não tem tanto contato. Por exemplo, fica muito mais difícil reconhecer que aquilo é um golpe. É importante a gente sempre alertar a população”, aponta Raimundo Nonato Filho, presidente da Associação Brasileira de Defesa dos Clientes e Consumidores de Operações Financeiras e Bancárias (Abradeb).
O avanço tecnológico impõe novos desafios à segurança digital. A sociedade precisa acompanhar essa transformação com consciência e medidas eficazes. Os dados mostram que ninguém está imune aos golpes digitais e que a prevenção é urgente.
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