Do total de pessoas com diabetes no Brasil, 46% não sabe que tem essa condição de saúde. A explicação para isso pode estar nos sintomas do diabetes, especificamente o tipo 2, mais prevalente no país e no mundo: eles não aparecem.
Quando há sinais, podem ser poucos e inespecíficos, segundo especialistas consultados pelo portal do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.
Atualmente, 9,3% da população mundial apresenta a condição, de acordo com o Atlas do Diabetes 2019. Pelas estimativas da Federação Internacional de Diabetes, responsável pela publicação, esse percentual deve avançar para 10,2% até 2030. Em 2045, serão 10,9%, o equivalente a 700 milhões de pessoas.
“Esse número tão expressivo se deve, principalmente, à incidência progressiva de diabetes tipo 2, responsável por 90% do total de casos, e está muito relacionado à onda crescente de obesidade e sobrepeso no mundo”, esclarece a endocrinologista Anelize Cardoso Terra, do Hospital HSANP. Afinal, complementa ela, essa condição de saúde surge com frequência em quem tem histórico familiar e está acima do peso.
A explicação do porquê o diabetes tipo 2 não dar sinais evidentes logo no início é simples. “Diferentemente do tipo 1, no 2 existe insulina no organismo. Porém, sua ação está comprometida e é mais difícil, o que caracteriza a resistência insulínica”, diz Juliana Souza, educadora em diabetes e palestrante. Como ainda há produção do hormônio, a alteração no organismo é progressiva.
E, por agir silenciosamente, essa condição traz “sintomas leves ou, muitas vezes, inexistentes”, segundo o endocrinologista Matheus Schettini de Carvalho. Em alguns casos, eles se manifestam em forma de mal-estar, indisposição e dor de cabeça. O que faz com que uma parcela da população deixe a consulta com um especialista para mais tarde.
O problema é que essa demora é prejudicial. Quando os sinais surgem, o diabetes já está avançado. Aí aparecem desde fome e sede frequentes, formigamento nos pés e nas mãos e vontade de urinar diversas vezes, especialmente à noite, até infecções frequentes na bexiga, nos rins e na pele, de acordo com a médica Eugenia Maria Amoêdo Amaral, gerente médica da BenCorp e ClubSaúde.
Feridas que demoram a cicatrizar, visão embaçada, perda de peso sem razão aparente e infecções constantes nas gengivas também merecem atenção.
Atraso no diagnóstico
Para piorar, muitas vezes os sintomas, que costumam ser vagos, podem confundir, “pois são comuns em várias outras doenças”, segundo Terra. “Tontura pode ser causada por problemas no labirinto, colesterol alto ou problemas cardíacos. Fraqueza e câimbras, por hipotireoidismo ou anemia. Impotência sexual por problemas circulatórios ou hormonais”, exemplifica a médica.
Carvalho acrescenta que a poliúria (micção excessiva) pode ser confundida com infecção urinária, doenças dos rins ou um outro tipo de diabetes, chamado insipidus. O médico explica que, nessa outra condição, há uma “alteração no hormônio que regula a diurese e não tem relação com o diabetes mellitus tipos 1 e 2, que são alterações na produção ou na ação do hormônio insulina”.
Todas essas características influenciam o tempo para a procura do médico e, consequentemente, para o diagnóstico. “Muitas vezes, os pacientes só descobrem o diabetes após 5 a 10 anos de doença, que é quando surgem suas complicações crônicas: infarto, derrame, perda visual, insuficiência renal ou pé diabético”, diz Terra.
Sinais de alerta
A boa notícia é que, quando o diabetes é descoberto no início, o tratamento adequado permite que a glicemia e os sintomas melhorem em pouco tempo. “A maioria dos sintomas desaparece. Visão embaçada, com tratamento, melhora em alguns meses. Quadro mais avançado de muita sede e vontade de fazer xixi com frequência também”, afirma Natália Morales de Camargo, endocrinologista do Hospital Albert Sabin de São Paulo. Já as dores nas pernas e nas mãos, acrescenta ela, demoram um pouco mais.
“O problema é quando o diabetes é diagnosticado de forma tardia, com as complicações crônicas já estabelecidas. Essas, mesmo com tratamento adequado, estabilizam, mas raramente regridem”, avisa Terra, citando perda visual, insuficiência renal e pé diabético.
Sem sintomas do diabetes
Mas, se a condição não dá sinais, como descobri-la logo no início? O rastreamento de diabetes deve ser realizado em adultos com mais de 45 anos a cada um a três anos. Antes disso, é indicado para pessoas com sobrepeso ou obesidade, histórico na família, hipertensas, mulheres com síndrome dos ovários policísticos, sedentárias ou aquelas que têm colesterol alto.
E o período de pandemia requer cuidados extras. “O diabetes tipo 2 está muito relacionado ao sobrepeso e à obesidade. Com o isolamento, o estresse e o grande tempo que as pessoas permanecem em casa têm contribuído para o abuso alimentar. Isso, aliado ao fato de estarem mais sedentárias, facilitam o ganho de peso e a maior tendência ao desenvolvimento de diabetes tipo 2 na população”, diz Terra.
Carvalho complementa: “O estresse, a ansiedade e os distúrbios do sono podem desregular alguns hormônios que são importantes para o controle da glicose no sangue”.