Estima-se que no Brasil ocorram de 300 a 400 mil casos anuais de infarto, segundo dados do Ministério da Saúde. O entupimento das artérias coronárias, provocado pelo acúmulo de placas de gordura, é a principal causa do evento. Isso porque são elas as responsáveis por irrigar o órgão. O infarto acontece assim por conta de uma isquemia cardíaca, ou seja, o bloqueio ou redução na circulação de sangue no coração - o que chamamos de doença arterial coronária ou coronariana.

Para manter seu funcionamento, o músculo cardíaco, o miocárdio, necessita de uma demanda constante de sangue. Quando esse fluxo é interrompido ou reduzido, pode levar à morte das células cardíacas devido à falta de oxigênio.

A partir de então, é iniciado o processo de necrose da musculatura do coração, com chances de arritmia grave, disfunção do órgão e até a morte. No entanto, o que nem todo mundo sabe é que essa não é a única razão do ataque cardíaco acontecer. Outras condições não tão frequentes, que acometem o coração e os vasos sanguíneos, podem favorecer a sua ocorrência.

Foto: EvgenyKahnonsky/Shutterstock

Artérias livres de placas, mas o mesmo problema

Quando um ataque cardíaco é causado por um fluxo sanguíneo insuficiente para o coração, apesar de não haver evidências de um bloqueio nas artérias por placas de gordura, ele passa a ser chamado de infarto do miocárdio na ausência de doença arterial coronariana obstrutiva (MINOCA, sigla em inglês para Myocardial Infarction with Non-Obstructive Coronary Arteries/Infarto do Miocárdio com Artérias Coronárias Não Obstruídas).

De acordo com a Cleveland Clinic (EUA), o MINOCA representa cerca de 5 a 6% dos ataques cardíacos. Estatísticas apontam que, em comparação com outras causas de infarto, os pacientes geralmente são mais jovens (um em cada dez, segundo pesquisas) e têm maior probabilidade de serem do sexo feminino - as mulheres têm cinco vezes mais probabilidade do que os homens.

Principais motivos de um infarto

Algumas das causas mais comuns de um infarto do miocárdio na ausência de doença arterial coronariana obstrutiva incluem certas condições médicas, como doenças autoimunes, distúrbios de coagulação sanguínea e inflamações das artérias. Vale destacar algumas:

1 – Espasmos de curta duração

Um espasmo coronário é uma contração repentina e temporária da artéria, que pode provocar seu estreitamento e o bloqueio súbito do fluxo sanguíneo para o coração, mesmo que não haja acúmulo de placas. O tabagismo é um fator de risco para um espasmo coronariano. Drogas, como a cocaína, também podem desencadear o problema.

2 - Embolia

A embolia arterial coronariana ocorre quando um coágulo de sangue viaja pela corrente sanguínea e fica preso na artéria, podendo bloquear o fluxo. Isso é mais comum em pessoas que têm fibrilação atrial ou condições que aumentam o risco de coágulos, como trombocitopenia ou gravidez.

3 - Ruptura ou dissecção espontânea da artéria coronária

A dissecção espontânea da artéria coronária (SCAD) ocorre quando as camadas internas da parede do vaso se separam (um rasgo se forma na parede), permitindo que o sangue fique acumulado no local – é possível um coágulo sanguíneo se formar ou o próprio tecido danificado bloquear a artéria. Quadro que pode levar à hemorragia sanguínea e provocar um infarto do miocárdio. Entre as possíveis causas da SCAD, estão o estresse, atividades físicas excessivas e gravidez. Essa condição é mais comum em mulheres com menos de 50 anos e em pessoas com síndrome de Marfan.

4 - Placas não obstrutivas

Neste cenário, um pequeno acúmulo de gordura leva a formação de coágulos temporários na artéria coronária. Pequenas placas nas artérias podem não bloquear esses vasos sanguíneos, mas é possível que elas se rompam (quando uma placa de aterosclerose se rompe, pode ocorrer a formação de um coágulo sanguíneo no local da ruptura) ou que isso provoque o desgaste de sua camada externa.

5 - Disfunção microvascular

É caracterizada por anormalidades nas pequenas artérias do coração, prejudicando o fluxo sanguíneo, mesmo na ausência do bloqueio nas artérias principais. Ou seja, trata-se do estreitamento dos pequenos vasos sanguíneos que se ramificam das artérias coronárias, chamado de doença de microvasos ou doença coronariana microvascular.

6 - Hipertrofia do músculo cardíaco

Mais frequente em pessoas que praticam atividades físicas de forma intensa, a hipertrofia do músculo cardíaco também pode ser uma causa de infarto do miocárdio. Quando uma pessoa realiza um exercício com sobrecarga e exaustão, pode ocorrer um aumento na espessura das fibras musculares do coração. A hipertrofia do músculo leva a sobrecarga do trabalho cardíaco.

Em resumo: as coronárias irrigam o músculo do coração, porém, quando ele fica mais espesso, o fluxo sanguíneo pode não ser suficiente para as exigências do órgão. O risco de um infarto então se dá pela desproporção entre as artérias coronárias e as fibras musculares mais grossas.

7 - Artéria coronária anômala

Trata-se de uma questão congênita, isto é, que um indivíduo nasce com ela. Neste quadro, as artérias coronárias apresentam tortuosidades, trajetos atípicos e diâmetros reduzidos. Para quem sofre a condição, o fluxo sanguíneo que chega ao músculo cardíaco não consegue suprir as demandas exigidas, podendo resultar em um infarto.

8 – Vasculite

A vasculite é a inflamação das paredes dos vasos sanguíneos. Pode acometer artérias ou veias de pequeno, médio ou grande calibre – incluindo a artéria coronária. Como consequência do processo inflamatório, as paredes se tornam mais espessas e atraem células do sistema de defesa do organismo, que se acumulam em seu interior. Essa reação pode provocar um estreitamento (estenose), dificultando a passagem do sangue ou interrompendo o fluxo. Quando isso ocorre, os tecidos e órgãos irrigados pelos vasos inflamados deixam de receber o sangue necessário, a exemplo do coração.

Sintomas e os fatores de risco para um ataque cardíaco

Muitos dos sinais e sintomas de um infarto do miocárdio na ausência de doença arterial coronariana obstrutiva são os mesmos de um infarto em alguém que apresente artérias bloqueadas, como desconforto no peito e nas costas (dor, pressão ou aperto), falta de ar, suor frio, náusea, tontura, cansaço excessivo e fora do normal, palpitações, aceleração ou diminuição repentina dos batimentos.

Existem também alguns fatores de risco em comum, entre eles os níveis de pressão e colesterol altos, diabetes e tabagismo. Entretanto, são menos frequentes em pacientes com MINOCA do que em pacientes que sofreram ataques cardíacos com doença coronariana obstrutiva. Novos estudos estão sempre sendo realizados para entender melhor o que contribui para o desenvolvimento da condição, principalmente porque ela pode ser causada, como vimos, por questões diversas.

Diagnóstico e tratamento

Pela mesma razão, o diagnóstico nem sempre é simples de ser obtido e o tratamento pode variar. Uma angiografia coronária, exame mais conhecido como cateterismo, por exemplo, provavelmente não seja eficiente em um caso de MINOCA, uma vez que a coronária pode parecer normal e sem bloqueios significativos. Por meio do cateterismo não conseguimos muitas vezes ter evidências de obstrução e confirmar o bloqueio em 50% ou mais de uma coronária. Outros exames de imagem também vão identificar uma área limitada de lesão do músculo cardíaco, talvez não sendo suficiente.

Este tipo de infarto é melhor detectado com base em anormalidades nas enzimas sanguíneas que mostram danos ao músculo cardíaco. A ressonância magnética cardíaca ou a imagem direta do interior da artéria coronária podem ser úteis se o diagnóstico não estiver claro. O paciente é avaliado ainda quanto a uma tendência maior de formar coágulos sanguíneos.

Portanto, o diagnóstico de um infarto com artérias coronárias não obstruídas requer uma avaliação bem detalhada. Como a MINOCA pode ocorrer por diversas razões, é necessário descobrir a causa correta para determinar o tratamento mais adequado para cada quadro.


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