A dor é uma experiência sensitiva complexa, de causa física ou emocional, que pode se manifestar de forma leve, quase imperceptível, ou provocar um desconforto intenso e até paralisante. Centenas de condições, síndromes, doenças ou distúrbios compõem o espectro da dor, que é sentida de diferentes maneiras por cada um, mesmo entre aquelas que ocorrem por motivos semelhantes.
É possível perceber a dor, por exemplo, como uma agulhada, formigamento, aperto, queimação, pontada, choque ou sensação elétrica. Porém, seja como for, ela nunca deve ser ignorada ou negligenciada. Isso porque geralmente é um sinal do corpo indicando que algo não está bem, um mecanismo de defesa do organismo. A dor tem que ser vista, portanto, como um aviso para que atitudes sejam tomadas ou evitadas, dependendo da sua origem.
Aguda X crônica
Antes de seguirmos, contudo, é interessante esclarecer que a dor pode ser dividida entre duas classificações principais: aguda e crônica. A dor aguda, na maior parte dos casos, chega de forma repentina e é mais pontual. Surge por um ferimento, lesão, doença e/ou inflamação específica. Também pode ser gerada por situações ou agentes externos (como um cheiro forte e momentos de estresse) ou ainda ser decorrente de um procedimento ou cirurgia.
Mesmo que incomode, quando devidamente tratada, ela desaparece. Podemos dizer que é uma dor autolimitada, que ocorre em determinado período de tempo e gravidade. Entretanto, sem os devidos cuidados, é possível que uma dor aguda se torne crônica.
Incômodo frequente
A dor crônica, por definição, é uma condição médica que se caracteriza por persistir por mais de três meses, independente da intensidade ou recorrência – pode provocar incômodos contínuos ou ir e vir. Em muitos casos significa conviver com dor 24 horas por dia, todos os dias.
É capaz assim de interferir significativamente em atividades diárias, como dormir, comer, trabalhar, manter relações e ter uma vida social, cuidar de si ou de outras pessoas. Ou seja, é um tipo de dor mais limitante, que impacta de inúmeras maneiras no bem-estar e na qualidade de vida.
Pessoas que convivem com uma dor crônica normalmente sofrem de mais de uma condição dolorosa e têm maior probabilidade de desenvolver complicações físicas, de cognição e emocionais. Dependendo do quadro, a dor crônica leva à depressão e ansiedade, o que pode piorar o cenário e criar um ciclo difícil de interromper. Trata-se, então, de uma questão bastante prejudicial, com potencial para desencadear problemas de saúde graves.
A dor crônica se manifesta como resultado, entre outras razões, de procedimentos cirúrgicos de reparação de hérnias, amputações e revascularização miocárdica, movimentos repetitivos e rotineiros (tendinites), lesões antigas, resposta inflamatória (associada ao dano de algum tecido), doenças crônicas (como fibromialgia, artrite reumatoide e gota), questões neurológicas, na coluna ou oncológicas. É comum que pessoas que sofrem com diabetes e obesidade, enfermidades que não têm cura e exigem tratamento constante, também apresentem essas dores recorrentes.
Crédito: Tom Wang/Shutterstock
A dor faz mal ao coração
Uma dor frequente aumenta as chances de danos para a saúde cardiovascular por diversos aspectos – mesmo que ela não tenha relação direta com o coração. A dor é uma forma de estresse no corpo. Estar sob seu efeito constante expõe o organismo a níveis insalubres e persistentemente elevados de hormônios, como o cortisol e a adrenalina, que são lançados na circulação e geram efeitos adversos para o órgão e os vasos sanguíneos.
Além disso, indivíduos com dor crônica muitas vezes têm dificuldade para dormir e limitações para se exercitar ou realizar atividades físicas, o que pode levar a um estilo de vida mais sedentário. A falta de sono e atividades regulares está associada a fatores de risco para as doenças cardíacas.
A dor crônica está igualmente relacionada a um quadro de inflamação contínua, contribuindo para a progressão da aterosclerose (acúmulo de placas nas artérias) – cenário que em muitos casos resulta no infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral (AVC).
Dores constantes ainda são capazes de influenciar o sistema nervoso autônomo, responsável pelas ações involuntárias do corpo, incluindo a regulação do ritmo de batimentos do coração e a pressão arterial. Quando esse sistema é estimulado por sinais de dor, a frequência cardíaca e a pressão tendem a subir. Por fim, certos medicamentos, especialmente analgésicos e anti-inflamatórios usados para controlar o sintoma, podem desencadear efeitos colaterais prejudiciais ao sistema cardiovascular.
Sinais enviados pelo órgão
E se por um lado a dor crônica gerada por questões adversas ao organismo têm consequências para o coração, problemas no órgão e em seu funcionamento provocam da mesma forma dores - agudas ou crônicas - que são sentidas de diversas maneiras no corpo e também precisam ser levadas a sério.
Quando o coração tem sua função abalada, de modo geral, a angina de peito (ou pectoris) é um sinal característico. Trata-se de uma dor, desconforto, pressão, ardor ou aperto na região do peito, o que muitos relacionam diretamente ao infarto do miocárdio ou ataque cardíaco. O que nem todo mundo sabe, no entanto, é que a angina pode ou não remeter a um quadro de infarto. Ambos são processos distintos.
É possível de fato que a angina venha como um alerta de que o coração não está sendo oxigenado adequadamente devido à doença arterial coronária (uma das principais causas do ataque cardíaco) ou se manifeste a partir de uma embolia, vasculite, dissecção coronariana, arritmias, estenose valvar aórtica ou sub-aórtica, entre outras. O tempo de duração, a intensidade da dor e a combinação com outros fatores e sintomas vão caracterizar a angina e revelar sua razão.
Dores não associadas a complicações cardiológicas
Cardiopatas ou pessoas com fatores de risco, como diabéticos, obesos, fumantes, sedentários e tabagistas, costumam ficar atentos às dores no peito. Mas, na verdade, várias outras - como as dores de cabeça, no pescoço, ombros, costas, braços, abdômen, de garganta ou na mandíbula - sinalizam, com antecedência, que algo de anormal está acontecendo com o coração.
São sinais sutis, difíceis de notar, entender e associar com as doenças cardíacas. Sintomas que muitas vezes se confundem com outros problemas comuns, como azia ou excesso de gases, mas também podem estar relacionados à doença coronária e indicar um ataque cardíaco iminente.
E se eu realmente estiver no meio de um ataque cardíaco?
O infarto agudo do miocárdio, como dito, acontece por conta de uma isquemia cardíaca, isto é, um bloqueio ou redução na circulação de sangue no coração devido ao acúmulo de placas de gordura nas artérias coronárias, responsáveis por irrigar o órgão.
Em geral, levam aos sintomas listados acima ou ainda tontura e vertigens, mal súbito ou desmaio, falta de ar, palpitações, fadiga, transpiração intensa e repentina, náusea, vômito, dormência e sensação de formigamento. O estado agudo do quadro dura cerca de 5 minutos, mas em alguns pacientes se estende por até 20.
Os sinais são crescentes e normalmente pioram de forma gradativa por várias horas. Vale reforçar que esses sintomas variam de acordo com cada caso e podem ser diferentes de pessoa para pessoa - inclusive há quem não apresente nenhum deles.
O que fazer então ao perceber que algo não está normal?
A pior atitude a tomar, acima de tudo se não houver razão óbvia para acontecer, é esperar que a dor simplesmente desapareça ou optar pela automedicação, o que pode apenas mascarar o problema. A dor no tórax, em especial quando acompanhada dos sintomas listados, não tem que durar muito para ser considerada um aviso.
No caso de um infarto, quanto mais rápido for iniciado o atendimento, menor o tempo para o restabelecimento do fluxo de sangue, assim como os danos ao miocárdio e células do músculo cardíaco, com possibilidade de recuperação completa e maiores chances de sobrevivência. Reforço, portanto, que é de extrema importância sempre dar atenção a esses sinais. E a única maneira de confirmar sua origem e conseguir um diagnóstico preciso é com avaliação médica.
Portanto, a dor que incomoda pode, paradoxalmente, ser a mesma que salva a vida. Ela funciona como um alerta natural do corpo, sinalizando a necessidade de ação. Ignorar pode ter consequências graves. Se você ou alguém ao seu redor sentir dor no peito ou qualquer outro sintoma suspeito, é fundamental buscar atendimento de emergência o mais rápido possível.
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