Pode parecer apenas estética, mas a má postura traz reflexos bem incomuns, sabia? As consequências nem sempre são óbvias e, por isso, exigem análise especializada. A boa notícia é que, uma vez identificadas, é possível revertê-las.
Mas antes de tratar dos problemas, é preciso entender o que é postura. O ortopedista e traumatologista Alexandre Sadao Iutaka, do Hospital Israelita Albert Einstein, tem a definição: “ela diz respeito à posição das articulações ou a relação do tronco com os membros. As alterações posturais têm a ver com mudanças da posição do corpo que são passíveis de correção, especialmente com exercícios – e não são deformidades fixas”.
Vários fatores podem provocar essas alterações. O especialista cita como exemplo hábitos comportamentais, como o sedentarismo. Quem não pratica exercícios pode ter fraca musculatura de sustentação do abdômen e do tronco. Sem força suficiente, a pessoa adota posturas inadequadas e, consequentemente, sente dor. "Nessa situação, a orientação envolve atividades físicas e mudanças ergonômicas, melhorando tanto o quadro estético quanto o de dores", diz Alexandre.
Os problemas da má postura
Os reflexos da má postura, no entanto, nem sempre são tão evidentes. Por vezes, podem ser até inusitados – e nem desconfiaríamos que há, entre a posição do corpo e os problemas, alguma conexão. Conheça, abaixo, algumas delas.
1. Incontinência urinária: se as alterações posturais forem associadas, por exemplo, a um quadro de pós-gravidez e fraqueza muscular, há o risco de dificuldade de retenção da urina. "Normalmente, essa alteração é multifatorial, ou seja, tem várias causas”, diz o ortopedista.
Segundo ele, um estudo realizado na Universidade Estadual de Campinas mostrou que algumas mulheres que sofriam de incontinência urinária e foram submetidas à técnica de RPG por seis meses tiveram, em sua maioria, uma melhora. Não se pode afirmar, contudo, que somente isso tenha provocado o progresso no bem-estar dessas pacientes. "De qualquer forma, mostra um efeito positivo da técnica e de exercícios que podem melhorar o quadro", acrescenta o médico.
2. Dor de cabeça: quando as alterações posturais estão relacionadas a ansiedade e estresse, o paciente tende a tensionar a musculatura mastigadora. Isso provoca alterações na articulação temporomandibular e de postura cervical e cefaleia. Afeta ainda a mastigação, a fala e a respiração. "Nessa situação, só o uso de exercício não é suficiente e cabe ao médico ou fisioterapeuta ajudar o paciente também a buscar formas de relaxamento e melhora da tensão", considera.
3. Cansaço: a postura errada leva ao surgimento de lesões, como hérnia de disco, além de dores musculares e nas articulações e fadiga. "Na maioria das vezes, a má postura gera problemas quando ficamos por muito tempo numa mesma posição, como sentados. E nem sempre a cadeira usada é adequada: pode não ter a altura, os apoios, o encosto ou o assento corretos. Assim, a pessoa sente o cansaço", afirma a Alessandra Higa, fisioterapeuta, especialista em acupuntura e medicina tradicional chinesa. A melhor maneira de mudar o cenário é incluir a atividade física na rotina, com fortalecimento e alongamento corporal, principalmente do core (músculos abdominais e da região lombar, pelve e quadril), responsável pela sustentação e estabilidade dos movimentos humanos.
4. Dormência nas mãos: a jornada de trabalho com postura inadequada acarreta desequilíbrios da coluna cervical, lombar e torácica. Isso pode causar lesão na região e provocar “sintomas como torcicolo, dor de cabeça e parestesia – ou seja, dormência na mão, que acarreta diminuição da força do braço", segundo Carlos Kopke, especialista em cirurgia da mão, medicina chinesa e acupuntura. O uso excessivo de celular, com a cabeça para a frente, também oferece risco de ocasionar problemas do nervo do pescoço, levando ao adormecimento nas mãos.
5. Hemorroida: sentar para frente sobre o tórax aumenta a pressão do abdômen, possibilitando o aparecimento de problemas como gastrite, constipação, dor e até hemorroida, de acordo com Kopke. Respirar profundamente e soltar devagar ajuda a corrigir a posição da caixa torácica e manter o alinhamento correto do tórax.
6. Atrofia da perna: ficar sentado por muito tempo de maneira inadequada torna a pessoa mais sujeita ao risco de dor ciática, limitação da força da perna e fraqueza que, ao longo do tempo, levaria a um quadro de atrofia da perna, segundo Kopke. A solução do problema requer correção da postura: mais reta possível, olhando para o horizonte.
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