Você sente uma pontada no peito e, de repente, o pensamento dispara: “será que estou tendo um infarto?” O coração acelera, falta o ar e uma sensação de angústia toma conta. Esse cenário — repetido por muitas pessoas — não é ficção, nem exagero.

Trata-se efetivamente de um fenômeno, cada vez mais comum, em que o medo de ter uma doença cardíaca se transforma em um gatilho para sintomas físicos e sofrimento emocional. E, paradoxalmente, pode até aumentar o risco de desenvolver problemas reais no coração.

Do que estamos falando?

É natural que o coração esteja no centro das nossas preocupações, afinal ele é um dos principais e mais importantes órgãos do corpo. Mas, para algumas pessoas, o receio de ter uma doença cardíaca pode se tornar tão intenso que começa a afetar, justamente, a saúde cardiovascular.

Essa condição tem nome: ansiedade cardíaca ou cardiovascular. Um tipo de transtorno reconhecido desde o início dos anos 2000 pelo universo da cardiologia, que mistura preocupação intensa, hipervigilância aos sinais do corpo e um ciclo constante de angústia, consultas médicas e alívio passageiro. O coração vira o centro da atenção — e da tensão!

O transtorno se caracterizada assim por sintomas, sobretudo em relação aos batimentos cardíacos, pressão arterial e sensações ou dores no peito, porém sem alterações físicas que os expliquem. É frequente que quem sofre com esse quadro tenha um medo constante de estar enfrentando um infarto ou outro problema grave, mesmo na ausência de diagnóstico clínico. Mas como isso acontece? E por que esse alerta constante pode se transformar em perigo?

O que acontece no organismo?

Diferente de uma preocupação saudável — que leva a mudanças positivas no estilo de vida —, esse tipo de ansiedade pode desencadear manifestações que imitam doenças cardíacas, como: palpitações ou taquicardia, dor ou aperto no peito, falta de ar, sudorese e tontura.

Entretanto, não provocados por uma condição cardiovascular, mas pela ativação do sistema nervoso simpático, o mesmo envolvido em situações de estresse e ameaça. O fato é que, ao sentir esses sinais, a pessoa ansiosa se convence de que está mesmo com uma questão no coração, o que alimenta ainda mais o ciclo de ansiedade.

Como o quadro pode aumentar o risco cardiovascular?

Embora a ansiedade cardíaca não seja, por si só, uma doença do coração, ela pode contribuir para o desenvolvimento de problemas cardíacos, em especial quando se torna crônica. Isso porque o organismo de uma pessoa ansiosa vive em estado de alerta constante, com liberação frequente de hormônios como adrenalina e cortisol.

Esse padrão, ao longo do tempo, sobrecarrega o sistema cardiovascular, elevando a pressão, acelerando os batimentos e estimulando processos inflamatórios que favorecem o surgimento de doenças. Além disso, o desgaste mental pode desencadear comportamentos prejudiciais à saúde: para lidar com a tensão, muitas pessoas recorrem ao cigarro, ao álcool, à alimentação desregulada ou acabam evitando atividades físicas — tudo isso amplia os fatores de risco para o coração.

Há ainda uma relação complexa com o uso dos serviços de saúde. Em alguns casos, o medo é tão grande que a pessoa evita consultas e exames importantes, por receio de receber um diagnóstico grave; em outros, há uma busca compulsiva por check-ups e avaliações. Não é raro encontrar nos indivíduos acometidos pela ansiedade cardíaca comportamentos hipocondríacos, que acabam gerando até diagnósticos desnecessários.

O sono também costuma ser afetado. E noites mal dormidas são, hoje, reconhecidas como um elemento de peso na saúde cardiovascular. Assim, mesmo sem ser um problema efetivo no coração, o corpo da pessoa ansiosa começa a viver em condições que, aos poucos, podem comprometer a saúde do órgão.

Um homem idoso apertando o coração com as duas mãos, ao sentir medo de doenças cardíacas. Crédito: PeopleImages.com - Yuri A/Shutterstock

É possível diferenciar sinais cardíacos reais de ansiedade?

Diferenciar os sintomas causados por ansiedade daqueles que indicam uma questão cardiovascular de verdade pode ser um grande desafio — tanto para quem sente quanto para os profissionais de saúde, em um primeiro momento. Em parte, porque os sinais físicos da ansiedade cardíaca imitam, com frequência, os de um infarto do miocárdio ou de outras doenças do coração.

No entanto, algumas características ajudam a perceber diferenças sutis. A dor no peito associada à ansiedade costuma ser mais difusa, menos localizada, muitas vezes descrita como um aperto ou uma pressão constante, e geralmente não está ligada ao esforço físico, como acontece nos quadros cardíacos típicos.

Além disso, os indícios de ansiedade tendem a surgir em momentos de estresse emocional, tensão ou preocupação, e podem melhorar com distração, repouso ou técnicas de respiração. É comum também que essas manifestações se repitam em ciclos, retornando mesmo após a realização de exames médicos que não apontam alterações.

Apesar dessas pistas, é fundamental que qualquer sintoma no peito, especialmente quando novo ou intenso, deve ser avaliado por um profissional. Só com uma investigação adequada é possível afastar com segurança o risco de uma disfunção cardíaca — e, em muitos casos, é justamente essa confirmação médica que permite iniciar o cuidado adequado com a ansiedade.

Ansiedade pós diagnóstico

Vale destacar que, embora esse tipo de distúrbio tenha sido originalmente conceituado como um problema psicológico em pessoas não portadoras de doença física, estudos apontam que ele também pode ser uma questão relevante no tratamento de pacientes cardiopatas.

Isso porque evidências mostram que depois de receberem um diagnóstico de condição cardíaca, alguns pacientes passam a se concentrar no funcionamento do coração e ficam dominados pelo medo e pela preocupação com os sintomas cardíacos.

Hoje muitos locais contam com o Questionário de Ansiedade Cardíaca (QAC), que auxilia na investigação de sintomas do transtorno e a necessidade de encaminhamento para tratamento especializado. Essa triagem rápida é particularmente útil em serviços cardiológicos ambulatoriais muito movimentados ou de emergência.

O que fazer quando o medo domina a mente?

O primeiro passo é reconhecer que a saúde mental também faz parte da saúde cardiovascular. Buscar apoio psicológico — em especial com profissionais especializados em ansiedade ou psicocardiologia — pode ser decisivo. A terapia cognitivo-comportamental tem bons resultados em casos de ansiedade cardíaca, assim como técnicas de respiração e, em alguns casos, o uso de medicação.

Também é importante retomar o equilíbrio do estilo de vida, com foco em: atividade física regular (com orientação médica, quando necessário), alimentação equilibrada, sono de qualidade, redução de cafeína e do consumo de álcool e outras drogas, conexão social e práticas de relaxamento.

A preocupação com o coração é legítima, mas quando se transforma em medo constante e desproporcional, ela pode se tornar um fator de risco sério. A ansiedade cardiovascular é um lembrete de que corpo e mente estão conectados — e que cuidar do coração também passa por cuidar das emoções.


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