“Tenho uma alegria enorme de estar vivendo um momento em que o mundo está percebendo minha idade na hora em que eu estou envelhecendo. Isso é uma benção", diz Leilane Neubarth, jornalista e apresentadora dona de uma carreira brilhante, sobre seu momento atual. Ela, que está chegando aos 63 anos cheia de desafios e muita disposição, descobriu na pandemia uma necessidade ainda maior de se reinventar.

“2020 foi um ano muito difícil para todo mundo. Eu particularmente fiquei muito impactada. Graças a Deus não fiquei doente, não perdi ninguém próximo, mas na minha vida pessoal o impacto foi grande porque o mundo foi dividido entre os que têm mais de 60 e menos de 60. E eu, pela primeira vez, fiquei em casa por um período que eu nunca tinha ficado antes.”, conta.

Os altos e baixos do período levaram-na a transformar a frustração de uma jornalista que não estaria na linha de frente em muita disposição para realizar um projeto antigo ligado à longevidade. Neste contexto, Leilane Neubarth estreou o programa “O tempo que a gente tem” na GNT e ainda passou a estar presente diariamente no telejornal Conexão Globo News.  

“Hoje em dia não tenho medo de ser colocada de lado por causa da idade. Tenho a alegria de trabalhar em uma empresa que percebe a idade como um fator de experiência. Aliás, pluralidade é a palavra do momento. Nós precisamos nos sentir representados.” 

Confira a entrevista exclusiva com Leilane Neubarth

Você estreou um novo programa, no canal GNT, chamado “O tempo que a gente tem”. Como você enxerga esse novo desafio agora, chegando aos 63 anos?

Leilane Neubarth: 2020 foi um ano muito difícil para todo mundo. Eu particularmente fiquei muito impactada. Graças a Deus não fiquei doente, não perdi ninguém próximo, mas na minha vida pessoal o impacto foi grande porque o mundo foi dividido entre os que têm mais de 60 e menos de 60. E eu, pela primeira vez, fiquei em casa por um período que eu nunca tinha ficado antes. Passei por altos e baixos, mas me esforcei para transformar a frustração de uma jornalista que não estaria na linha de frente para dar vida a um projeto antigo  ligado à longevidade.

Em 2021, eu saí do isolamento e ganhei um jornal novo, o Conexão Globonews, com colegas que adoro. Também realizei um sonho, que é esse programa “O tempo que a gente tem”, que estava fervendo dentro de mim há tempos.

Queria fazer algo em que pudesse falar com as pessoas e não fosse só reportagem. Eu não me via representada como uma mulher de 60 anos e pensava: “Eu quero falar para essas mulheres, dividir, ouvir, trocar, e tem sido uma experiência de alegria, de imensa gratidão por poder dar voz  a elas. É um período da vida do qual a gente não fala e a gente precisa falar.

Como você acha que a mídia e a sociedade enxergam o envelhecimento?

Leilane Neubarth: Acho que as pessoas estão acordando e a pandemia teve uma contribuição. Realmente o mundo foi dividido. Muita gente, como eu, foi privada de muitas situações. Começou a ficar clara a brincadeira que não é brincadeira, que é uma "velhafobia", como diz a Miriam Goldenberg, porque as pessoas diziam: “Vamos botar um caminhão pra caçar velho na rua”. Então ficou visível esse preconceito, esse ageismo. Eu participei de vários encontros com agências de publicidade para falar de envelhecimento e perguntei o que eles tinham para me oferecer além de fralda geriátrica e creme de dentadura. Mereço que me ofereçam algo mais legal. Uma das pessoas falou que acabava de se dar conta de que na agência não tinha ninguém com mais de 40.

Então eu acho que o mundo está acordando, mas não acho que é porque as pessoas são boazinhas. Acho que a gente vai ver um crescimento grande na publicidade, nos programas, mas por um motivo simples e capitalista: esse grupo consome e movimenta pra lá de trilhão. Esse grupo 60 + em termos de consumo representa o consumo de toda a classe C mais o consumo de todas as mulheres.

Se o Brasil 60+, homens e mulheres, fosse um país, seria o 19º do planeta em termos de PIB. Tudo bem que temos um país desigual e pessoas lutando para viver na velhice com dignidade, mas também temos um Brasil classe média (alta, baixa, altíssima) que criou os filhos e está por sua própria conta. E a gente não quer fralda geriátrica, dentadura e nem ser retratado como caricatura. A gente quer uma coisa normal. Eu ando de moto, mas faço isso desde os 24 anos. Sou uma pessoa normal. O mais legal que percebi na série é que, em muitos casos, independentemente da profissão, do nível socioeconômico ou escolaridade, os desejos, dúvidas e anseios são bem semelhantes.

Leilane Neubarth de blusa vermelha e calça azul, em um fundo branco.

Crédito: Arquivo pessoal

Com relação à série, você falou com muita gente, coletou muita história. Teve alguma que te marcou mais?

Leilane Neubarth: Várias histórias me marcaram. A Elisa Lucinda, por exemplo, é um fogo, um poder, é pura energia. Ela falou algo que achei lindo. Ela tem um namorado bem mais jovem e estávamos falando sobre isso, da liberdade de tirar a roupa, de ter um namorado mais jovem. E ela disse assim: “Sabe o que eu descobri Leilane? Que ele não está preocupado com meu corpo. Ele gosta mesmo é de mim. As pessoas gostam da gente pelo que a gente é. O corpo de todo mundo vai mudar. Se você gosta do que tem por dentro, isso que tem por dentro é a coisa mais bonita que tem e é o que a gente carrega para a vida toda.” Então a Elisa me ensinou muito.

Já a Cristina Xavier é cientista, a primeira doutora negra brasileira, é uma pessoa fantástica e me ensinou muito porque a Fiocruz ofereceu a ela um curso para entender a aposentadoria e achei isso sensacional. Acho que as empresas deveriam focar mais nisso. Também tive outras entrevistadas, como a Márcia, que foi estudar muito mais velha e descobriu que era mais velha que os professores. Ela me disse: “Eu tive medo de ser discriminada pelos alunos, mas fui abraçada por eles.” Ou seja, esse medo do convívio intergeracional é só pelo nosso próprio preconceito e nosso próprio temor porque a sociedade não lida com isso, não trata disso, cria esse antagonismo entre jovens e velhos e esse antagonismo não existe. Quanto mais a gente misturar, quanto mais a gente criar esses relacionamentos intergeracionais, mais os dois lados ganham. Isso é muito bonito.

Também estive com mãe meninazinha e foi lindo. Ela explicou que nas religiões de origem africana e indígena todo conhecimento é passado na oralidade. As histórias, experiências, conhecimentos dependem dos velhos. Se não existem velhos, não existe conhecimento. Isso é muito bonito e a gente tem que respeitar mais as pessoas que trazem conhecimentos e tradições, tem que ouvir mais.

Já a Malu Mader disse uma coisa linda: “Se eu gosto de viver, eu gosto de envelhecer.” E a Vera Fisher foi de uma generosidade que me surpreendeu. Ela disse: “Eu preciso trabalhar. Não preciso de homem, de romance, preciso trabalhar, e estou sentindo que os papéis para minha idade estão acabando.”

Ou seja, a gente precisa de saúde física, afeto, saúde emocional. E afeto não é romance, não é família necessariamente. É sua rede, as pessoas de quem você gosta e que gostam de você. Podem ser os amigos se você não tem marido, mulher e filhos. Porque também é uma falácia isso de: “Os filhos vão cuidar de você". Não, os filhos têm sua própria vida. Eu tenho filhos super presentes, mas nem sempre é assim. Às vezes eles mudam de país até, e não adianta ficar infeliz por isso. Tem que criar uma rede, amizades, ter projetos, planos, sentir prazer. É uma das coisas mais importantes quando a vida vai passando e você vai envelhecendo.

Uma das coisas que a gente trabalha muito no Instituto de Longevidade MAG é a questão do ser ativo. Ser ativo depois dos 60, depois da aposentadoria. No ano passado, a gente fez uma live com Mauricio de Souza e ele falou a mesma coisa: Para que eu vou aposentar? Eu sou feliz fazendo o que eu faço.”

Leilane Neubarth: Essa fala do Maurício de Souza é muito linda porque o Maurício para mim é um exemplo. Eu entrevistei ele muitos anos atrás e meu neto assistia a Mônica. O que me encanta é que ele certamente se cercou de uma equipe jovem e não parou no tempo. Ele abriu o leque e fez a Mônica ficar adolescente, trouxe a Mônica para o mainstream, por exemplo. É a sabedoria dele de saber que é preciso estar cercado de pessoas jovens que vão mostrar o outro mundo. É natural porque o mundo muda. Acho que o que atrapalha quando a gente envelhece é a gente não ser flexível. Você não deve se blindar naquela frase: “No meu tempo é que era bom”. A gente tem que entender que é de outro jeito, tem que circular entre jovens e velhos. E eu aprendo muito com eles.

Você está o tempo todo se reinventando. Está no jornal e ao mesmo tempo buscando nova forma de estar ali conversando, conhecendo histórias. Como é isso na sua carreira?

Leilane Neubarth: Eu sou bem inquieta, sou de escorpião e dizem que uma das características dele é se reinventar. Quando fui chamada para a Globo News, em 2009, algumas pessoas criticaram. Disseram: “O que você vai fazer num canal fechado?” Mas eles me deram um espaço como eu nunca tinha tido, um jornal com minha cara. Depois que fui pensar como seria um jornal com a minha cara. Isso virou uma brincadeira e recebi até um e-mail dos diretores contando sobre o prazer deles de me ver me reinventando.

Acho que se a gente está aberto, se aparece a oportunidade, deve se agarrar nela. Se um trabalho novo te chamou e você quer experimentar, vai lá e experimenta. O jornal novo é exaustivo porque são 4 horas ao vivo. Você não pode relaxar, tem que estar focado. O período em que fiz a série foi puxado, trabalhei 14hs por dia. Fisicamente foi puxado, mas só era difícil chegar na casa da minha entrevistada. Quando chegava, era tão bom.

Uma das coisas que reparei nas mulheres que entrevistei é a questão da curiosidade. Se você está viva e não está deprimida, fique atenta, vá caminhar na rua. Tem que ser ativo fisicamente, intelectualmente, culturalmente. O Drauzio (Varella) diz que somos animais feitos para nos mexer.

E tem que conversar ouvindo. Muitas pessoas usam muito o tempo passado: “Eu fui, eu era, eu visitei”. Vamos usar o tempo presente. O presente é o momento mais importante que a gente tem porque a gente não sabe quanto tempo de futuro terá e o passado já foi.  Só existe um momento que você pode mudar e é o agora.

Falando sobre sua carreira, como você enxerga o seu início e agora? O que mudou mais?

Leilane Neubarth: Eu brinco que estou envelhecendo em HD e 4K. Porque quando eu comecei novinha, com 19, 20 anos, a imagem da televisão era um lixo e eu era perfeita, não tinha rugas. Agora tenho um monte de rugas e a TV tem uma definição espetacular e as pessoas veem meus poros (risos). A primeira brincadeira é que as pessoas me viram envelhecer na casa delas, então negar idade é besteira absoluta.

A minha primeira experiência como apresentadora foi com 24 anos. Eu era a mais jovem de um jornal de rede no Brasil. Eu achava que sabia tudo. O que acho que não mudou no período é a minha noção da responsabilidade de entrar na casa das pessoas com informação. Isso é algo que carrego desde que comecei.

Hoje acho que a grande diferença também é que eu comecei na ditadura e fiquei muito feliz de ver o Brasil aprender a democracia. No meu tempo, se um entrevistado dizia que não ia falar, a gente não podia fazer nada. Tinha até um verbo chamado Malufar para isso.

Hoje, se um entrevistado fizer isso, as minhas colegas jovens dizem: “O sr. não está respondendo minha pergunta. Isso é uma conquista da democracia e não tem preço. A própria questão mais ligada ao assédio, coisas que a gente passava pano, hoje não tem.”

Leilane, você já sofreu algum preconceito de idade nestes últimos tempos?

Leilane Neubarth: Preconceito não. Outro dia eu estava em uma live e estávamos buscando entender quem tem a minha idade na televisão. Tem a Gloria Maria, que é imortal, e quem mais? Tínhamos a Hebe Camargo, que foi brilhante. Na profissão tem muitos homens mais velhos, mas poucas mulheres. A Gabi é mais velha que eu, mas não está mais no vídeo todo dia. Eu já tive medo, hoje em dia não tenho medo de ser colocada de lado por causa da idade. Tenho a alegria de trabalhar em uma empresa que percebe a idade como fator de experiência, que não tem “pré-conceito” com idade. Aliás, pluralidade é a palavra do momento. Nós precisamos nos sentir representados. Mas alguma hora vou sair? Vou. Mas para mim isso é parte do processo, não me preocupa, até porque eu vou querer fazer outra coisa.

O que a gente precisa prestar atenção é a mania de formar grupos 50+ ou 60+. Isso não é legal porque de 60 para 100 anos são 4 décadas Cada década tem anseios, medos e dúvidas diferentes. A partir de agora, precisamos estar focados nisso. A adolescência, por exemplo, surgiu depois da segunda guerra mundial. Antes ou era uma criança ou era um adulto. E a questão da menopausa? Você menstrua dos 12 aos 50, 52. Ou seja, você tem outros 40 anos, dos 52 aos 92, em que vai estar viva, então precisa viver bem esse período. Tem 40 anos de vida reprodutiva e mais 40 anos de vida produtiva, apesar de não reprodutiva. Estamos começando a perceber tudo isso agora e tenho uma alegria enorme de estar vivendo um momento em que o mundo está percebendo minha idade na hora em que estou envelhecendo. Isso é uma benção.

Que conselho você me daria, Leilane, de jornalista para jornalista, para que eu construa uma carreira tão bonita quanto à sua?

Leilane Neubarth: Leia. Leia. Leia. E quando cansar de ler, leia mais. Leia outras coisas, leia muito. Meu pai era jornalista também e ele disse uma coisa que sempre me norteou: “Quem mal lê, mal fala e mal escreve.” Então, ler é muito importante. Eu adoro ter colegas jovens na profissão, mas uma coisa que não gosto, não aceito, é eu perguntar alguma coisa e a pessoa dizer: “Ah, Leilane, mas isso não é do meu tempo. Aí digo pra eles que a revolução francesa também não é do meu tempo, mas eu sei. Informe-se, pesquise, estude, tenha a informação. Leia, escreva em português correto. A gente tem muitas vezes massacrado o português.

Para finalizar, pode contar quais os seus planos para o futuro?

Leilane Neubarth: A ideia é fazer uma segunda temporada do programa na GNT e ouvir os homens também. Neste primeiro caminho a gente teve que fazer uma seleção. E pretendo direcionar minha vida profissional para o caminho da longevidade porque é o momento em que vou continuar sendo útil e produtiva por mais uns 20 anos se tudo correr bem. Depois vou querer só descansar (risos).

Para Leilane Neubarth, ser flexível às mudanças do mundo e ativo intelectualmente é peça-chave para se envelhecer bem. Quer se reinventar como ela e conhecer novos caminhos? O tempo é agora. Então confira os cursos de requalificação disponíveis para membros do Instituto de Longevidade MAG. São mais de 300 cursos gratuitos para a sua atualização profissional. Cadastre-se e reinvente-se também!

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