O trabalho remoto, com salário em dólar, já é uma realidade para diversos brasileiros. Os Estados Unidos concentram 85% das vagas ocupadas por brasileiros, de acordo com um estudo da plataforma de câmbio voltada para profissionais TechFX.

A pesquisa entrevistou 1.428 desenvolvedores brasileiros que trabalham no exterior. Do grupo,1.220 atuam em empresas americanas. O salário médio anual chega a US$ 110, cerca de R$ 598 mil. Entre os destinos levantados, Canadá, Austrália, Reino Unido, Argentina, Portugal, México e Alemanha também são destinos que contratam desenvolvedores brasileiros.

Esses profissionais são chamados de Global Workers. São conhecidos como trabalhadores que prestam serviço para empresas estrangeiras, morando no país de origem, e recebendo o salário em uma moeda forte. No caso, pode ser salário em dólar ou mesmo em euro.

A grande vantagem dessa modalidade é poder trabalhar com flexibilidade, sem sair de casa (ou do país) e receber o salário em uma moeda forte. Mas como conseguir esse tipo de vaga?

Como conseguir vagas com salário em dólar?

Para entender melhor como conquistar vagas com salário em dólar, primeiro é preciso compreender como essas vagas são ofertadas e quais tipos de profissionais são os mais procurados. Confira abaixo:

Fluência em inglês

O inglês continua sendo um passo essencial para quem almeja uma vaga com salário em dólar. Contudo, não é necessário ter o inglês fluente para ter uma carreira internacional. Atualmente, o mais considerado é o “inglês funcional”. Ou seja, o uso da língua com a intenção e capacidade de se comunicar e transmitir uma mensagem de forma clara. Essa habilidade já é capaz de abrir portas.

Além disso, de acordo com especialistas, cada cargo exige um nível diferente de inglês. Os profissionais que atuam em áreas de liderança ou precisam estar em contato com clientes precisam de nível avançado. Já para quem atua em funções mais operacionais, o nível intermediário já pode ser o suficiente.

Um outro ponto importante a se considerar é que o estudo em inglês, atualmente, é mais democrático e acessível. Além de cursos online com diversas faixas de preço, é possível usar traduções simultâneas, em navegadores como Google Chrome, e até mesmo o ChatGPT como uma ferramenta de estudo e tradução.

Segundo o CEO da TechFX, Eduardo Garay, “em termos de carreira e retorno salarial, aprender inglês pode ser um dos melhores investimentos a se fazer. Cada vez mais, plataformas de AI gratuitas oferecem a possibilidade de aprender e praticar inglês, como uma porta de entrada para o aprendizado”.

Área de atuação

De acordo com o levantamento da TechFX, os profissionais mais procurados são da área de tecnologia. Do total de 1.433 brasileiros, 1.251 profissionais trabalham nesse setor. Ou seja, a área de tecnologia contratou o total de 87,6% dos profissionais.

Outras áreas aparecem em menor número:

  • Produto: 41 pessoas (2,9% do total)

  • Sucesso do cliente: 38 pessoas (2,7% do total)

  • Design: 37 pessoas (2,6% do total)

  • Marketing: 20 pessoas (1,4% do total)

  • Operações: 14 pessoas (1% do total)

  • Recursos humanos: 13 pessoas (0,9% do total)

A pesquisa evidencia que a área de tecnologia tem uma grande demanda e é um mercado em expansão. Porém, não significa que apenas esse setor tenha interesse em global workers. Além disso, de acordo com Gustavo Sèngès, diretor da HireRight no Brasil, autor e mentor de carreiras, em entrevista ao G1, esse tipo de trabalho não é exclusivo para profissionais jovens. O mais importante é a experiência e a capacidade de entrega e adaptação ao modelo.

“Trata-se de um mercado altamente democrático. Já vi e acompanhei contratações de profissionais das mais diversas idades atuando em equipes multiculturais e intergeracionais com total sucesso”, completa Sèngès.

Uma pessoa que recebe salário em dólar contando seu dinheiro recebido. Crédito: Dikushin Dmitry/Shutterstock

Como encontrar vagas internacionais?

Conquistar a primeira oportunidade recebendo salário em dólar exige planejamento e atitude. Segundo especialistas, o primeiro passo é entender o funcionamento do mercado global e então compreender como suas habilidades podem se encaixar nesse cenário.

Também é indispensável preparar um currículo em inglês e treinar para entrevistas. Esse é um dos momentos que ainda está entre os maiores desafios para profissionais brasileiros.

De acordo com Gustavo Sèngès, há três caminhos principais para ingressar nesse mercado:

  • Recrutadores estrangeiros: manter um perfil atualizado e bem estruturado em plataformas como o LinkedIn aumenta as chances de ser encontrado.

  • Networking (ou “netplaying”): cultivar conexões de forma genuína, ajudando e sendo ajudado, amplia as oportunidades. Em muitos casos, a vaga ideal surge dentro do próprio círculo de contatos.

  • Busca ativa por vagas: se candidatar com frequência, ajustar estratégias e aprender com os processos seletivos. Estar presente em plataformas especializadas e treinar entrevistas são etapas fundamentais.

“Entrar nesse mercado é uma jornada que exige estratégia, coragem e resiliência. As carreiras não são lineares, mas sim feitas de tentativas, erros e acertos. Contar com mentorias ou cursos pode acelerar muito esse caminho”, afirma Sèngès.

De modo geral, os profissionais que conquistam vagas em empresas internacionais atendem a dois requisitos básicos: domínio da comunicação em inglês e pelo menos três anos de experiência na área.

Segundo Eduardo Garay, CEO da TechFX, esses dois critérios concentram cerca de 98% das oportunidades no exterior. O LinkedIn segue como a principal vitrine para brasileiros que buscam uma carreira global, sendo responsável por quase 60% das contratações.

Tipos de contratação

Na maioria dos casos, profissionais brasileiros que recebem salário em dólar contratados por empresas estrangeiras atuam como pessoa jurídica (PJ). Nessa modalidade, o profissional tem uma empresa aberta em seu nome e presta serviços, emitindo notas fiscais. Ele também é responsável pelo recolhimento de impostos e contribuições.

Entre os trabalhadores com CNPJ, estão microempreendedores individuais (MEIs) e microempresários (MEs). A principal diferença entre as categorias está no faturamento anual, nas atividades permitidas, no número de funcionários e no regime de tributação.

Como o vínculo com a contratante não configura relação de emprego, o profissional não tem direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como férias e décimo terceiro. Apesar disso, o modelo dá acesso a benefícios previdenciários, como aposentadoria por idade ou invalidez e auxílio-doença. O que acontece desde que as contribuições mensais sejam pagas em dia e os prazos mínimos de carência sejam cumpridos.

Entre as vantagens do formato PJ estão a flexibilidade na jornada de trabalho e uma remuneração geralmente mais alta. Isso contecer porque a empresa internacional não arca com encargos e benefícios previstos na CLT. Por outro lado, o profissional precisa custear despesas com alimentação, transporte e equipamentos, exceto se o contrato prever ajuda de custo.

Employer of Record

Outra possibilidade é a contratação por meio do Employer of Record (EOR). Neste modelo uma empresa intermediadora formaliza o vínculo no Brasil. Nesse caso, o profissional é registrado pela CLT, com direito a benefícios como plano de saúde e férias, mesmo que o salário seja pago pela empresa estrangeira.

O EOR atua como empregador oficial. Ele cuida da folha de pagamento, impostos, benefícios e conformidade com as leis trabalhistas locais. Isso permite que companhias internacionais contratem profissionais brasileiros sem precisar ter uma sede no país.

Existem ainda os autônomos, que trabalham sem CNPJ e prestam serviços diretamente como pessoa física. Nessa situação, o pagamento é feito de forma direta, e cabe ao profissional declarar seus rendimentos e cuidar dos tributos.

Segundo especialistas, a escolha do modelo de contratação costuma partir da empresa contratante. Enquanto organizações globais, como as do setor de tecnologia, tendem a preferir o formato PJ, companhias que estão expandindo operações no Brasil geralmente optam por vínculos via CLT intermediados por empresas terceiras.

Direitos e cuidados legais

Em entrevista ao g1, o advogado Antonio Vasconcellos Junior, sócio-fundador do AVJ Advogados Associados, explicou que, quando um brasileiro presta serviços a uma empresa estrangeira, mas reside no Brasil, a legislação aplicável é a brasileira. Ou seja, a CLT.

Essa regra só muda se a legislação do país contratante oferecer condições mais favoráveis. Um exemplo é a jornada reduzida de seis horas diárias prevista pelas normas de algumas empresas estrangeiras.

O especialista ressalta ainda que profissionais contratados como PJ não possuem os mesmos direitos da CLT, mas podem negociar cláusulas específicas no contrato. Como por exemplo bônus, pausas de descanso e benefícios adicionais.

Antes de aceitar uma vaga internacional, Vasconcellos recomenda que o contrato seja revisado por um especialista. Isso porque, em caso de conflito, a Justiça do Trabalho brasileira pode ser acionada se a contratação ou a transferência tiver ocorrido em território nacional. Por outro lado, não há competência da Justiça brasileira quando o vínculo é firmado diretamente no exterior

O Brasil mantém acordos internacionais de previdência social com alguns países, que permitem o aproveitamento do tempo de contribuição. Ainda assim, não existe um tratado global que unifique direitos trabalhistas. Por isso, Vasconcellos reforça a importância de manter as contribuições previdenciárias em dia.

Ele também destaca a necessidade de investigar a empresa contratante e manter clareza sobre direitos e obrigações. Até porque, receber salário em dólar pode parecer um sonho, mas pode se tornar um pesadelo sem os devidos cuidados.

Declaração de Imposto de Renda para quem recebe salário em dólar

Também em entrevista ao g1, a advogada Thais Ribeiro, do escritório L.O. Baptista Advogados, alerta que profissionais que prestam serviços para empresas estrangeiras devem ficar atentos à tributação no Brasil e à forma correta de declarar o Imposto de Renda (IR), que varia conforme o regime de contratação.

No caso dos autônomos, os valores recebidos devem ser convertidos para reais com base na taxa de câmbio do dia do pagamento, divulgada pelo Banco Central. Esses rendimentos precisam ser informados no carnê-leão, utilizado para apuração mensal do IRPF, cuja alíquota é progressiva e pode chegar a 27,5%.

O imposto deve ser pago até o último dia útil do mês seguinte ao recebimento, e as informações precisam ser reproduzidas na declaração anual. Além disso, é obrigatório contribuir para o INSS como contribuinte individual e, em alguns casos, pagar o ISS (Imposto sobre Serviços) conforme o município.

Se houver tratado de bitributação entre o Brasil e o país da empresa contratante, o profissional pode compensar no Brasil o imposto pago no exterior. Isso desde que o valor seja informado no carnê-leão.

Como declarar o salário em dólar para quem é PJ?

Já para quem atua como Pessoa Jurídica (PJ), a operação é considerada uma exportação de serviços, segundo Veronica Melo de Souza, sócia do escritório Gaia Silva Gaede Advogados. Nesse caso, os pagamentos feitos pela empresa estrangeira são direcionados à PJ aberta no Brasil.

“Neste caso, o imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) é devido normalmente e calculado de acordo com o regime de tributação da Pessoa Jurídica (PJ), que geralmente é o Simples Nacional ou Lucro Presumido”, explica Veronica Melo de Souza.

A advogada Thais Ribeiro complementa. “O trabalhador recebe os valores apenas pela PJ e deve informá-los em sua Declaração de Ajuste Anual como pró-labore, no campo de rendimentos tributáveis, ou como distribuição de lucros e dividendos, no campo de rendimentos isentos, conforme a forma de contabilização”.

No regime CLT, a empresa estrangeira precisa ter CNPJ no Brasil para recolher encargos como FGTS e INSS. Por isso, é incomum que empregadores internacionais contratem diretamente sob carteira assinada. Nesses casos, é comum o uso de empresas intermediárias, que cuidam da folha de pagamento e dos encargos (modelo conhecido como Employer of Record).

Diante da complexidade das regras, os especialistas ouvidos pelo g1 recomendam que profissionais busquem orientação de contadores ou advogados especializados. Assim, é possível garantir o pagamento correto de impostos e contribuições, além de evitar problemas futuros com a Receita Federal.


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