Os impactos da aposentadoria no cérebro vão além da rotina alterada. Parar de trabalhar pode provocar mudanças na memória, no humor e nas conexões sociais. Diversos estudos apontam que essa transição, embora esperada e planejada por muitos, pode trazer riscos para a saúde mental e cognitiva. Esses impactos podem acontecer especialmente se não for bem estruturada.
Segundo Ross Andel, professor da Universidade Estadual do Arizona, o cérebro sofre quando perde os estímulos da rotina profissional. “De repente, depois de 50 anos, você perde essa rotina”, afirma. Ele explica que o corpo e a mente se adaptam à nova condição, mas a falta de atividade pode gerar deterioração. “É então que vemos a deterioração como uma resposta natural à inatividade”, complementa.
Declínio cognitivo pode ocorrer nos primeiros anos de aposentadoria
Estudos com milhares de aposentados na Europa revelam padrões claros no que diz respeito aos impactos da aposentadoria no cérebro. A memória verbal, por exemplo, tende a se deteriorar mais rapidamente após a aposentadoria. Um estudo feito na Inglaterra identificou uma queda acentuada nessa habilidade. Já funções como o raciocínio abstrato não sofreram alterações significativas.
Para o professor Guglielmo Weber, da Universidade de Pádua, o afastamento do trabalho reduz os desafios mentais diários. “Há algumas evidências de que a aposentadoria pode ser ruim para a cognição, porque quando você se aposenta, não desafia mais tanto o seu cérebro”, explica.
Outro fator observado é o surgimento de sintomas depressivos após a aposentadoria. Xi Chen, professor associado de saúde pública na Universidade de Yale, relaciona essa fase a sentimentos de inutilidade. Ele alerta que passar de uma "vida profissional ocupada para uma falta de engajamento pode exacerbar sentimentos de inutilidade, humor deprimido, tristeza”, alerta.
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Impactos da aposentadoria no cérebro variam conforme o histórico profissional
A forma como a pessoa se relacionava com o trabalho antes de se aposentar influencia o impacto na mente. Profissionais que ocupavam cargos de alta responsabilidade costumam sofrer mais. Isso acontece porque a identidade pessoal estava fortemente ligada à carreira.
Além disso, estudos mostram que quem se aposenta antes da idade padrão apresenta um declínio mais gradual. Uma hipótese é que essas pessoas exerciam funções menos exigentes cognitivamente. Por isso, sentem uma transição menos brusca ao sair do mercado de trabalho.
Condições adversas, como aposentadoria forçada por doença ou discriminação, também agravam os efeitos negativos. Situações de insegurança financeira na velhice tendem a aumentar o risco de depressão e isolamento.
Segundo Emily Fessler, professora assistente do Weill Cornell Medicine, esses fatores podem intensificar os danos mentais. Já Weber afirma que mulheres têm menor risco de declínio, pois mantêm vínculos sociais com mais frequência após a aposentadoria.
Planejamento é essencial para reduzir os impactos negativos
Especialistas defendem que o planejamento antecipado pode diminuir os impactos da aposentadoria no cérebro. Para Alison Moore, da Universidade da Califórnia, o ideal é desenvolver novos hábitos antes da aposentadoria. “O plano não pode ser: ‘Trabalhei tanto por tanto tempo que vou tirar essas longas férias e depois descobrir o que fazer’”, afirma.
Criar rotinas com estímulos físicos e mentais ajuda a preservar a saúde do cérebro. Atividades como leitura, aulas, exercícios físicos e encontros sociais são boas opções. Moore recomenda começar a planejar esses passos com antecedência. Isso facilita a adaptação e reduz o impacto da mudança.
Socialização e propósito ajudam a manter o cérebro ativo
A perda de vínculos sociais é um dos fatores que mais pesam na saúde mental dos aposentados. David Richter, professor da Freie Universität Berlin, alerta para a importância da interação constante. “Temos provas bastante sólidas de que os primeiros contatos sociais são reduzidos e, em seguida, a cognição começa a declinar”, explica.
Manter uma vida social ativa, com trocas significativas, é essencial. Encontros presenciais ou virtuais, clubes de leitura e grupos de discussão ajudam a manter a mente ativa. Assistir à TV, por outro lado, não oferece o mesmo estímulo.
A busca por um novo propósito também tem efeitos positivos. Trabalhos voluntários, por exemplo, estão associados à redução do envelhecimento biológico. Para Jonathan Schooler, professor da Universidade da Califórnia, a criatividade tem papel importante nesse processo. “Há evidências sólidas de que encontrar significado na vida traz grande satisfação pessoal”, afirma.
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