No Brasil, cresce o número de idosos sem aposentadoria que precisam continuar trabalhando para garantir o sustento. Sem acesso à Previdência ou com benefícios abaixo do necessário, muitos enfrentam dificuldades para manter uma vida digna. A tendência levanta alertas sobre a sustentabilidade do sistema e sobre a necessidade de políticas públicas mais inclusivas.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do IBGE, mais de 6 milhões de pessoas acima de 60 anos continuam no mercado de trabalho. Entre elas, uma parcela significativa nunca se aposentou. São trabalhadores informais, autônomos ou pessoas que, mesmo contribuindo por anos, não atingiram os critérios exigidos pela Previdência.

Por que há tantos idosos sem aposentadoria?

A informalidade é um dos principais fatores. Muitos trabalhadores passaram a vida sem carteira assinada, o que dificulta o acesso à aposentadoria. Outros, por mudanças nas regras da Previdência, não conseguiram comprovar tempo suficiente de contribuição.

De acordo com Eduardo Fagnani, professor do Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho e coordenador da rede Plataforma Política e Social, em entrevista à Carta Capital, parte das pessoas que hoje estão na informalidade já não contribui com a Previdência. Por isso, não conseguiriam cumprir as regras de aposentadoria.

"A outra parte, que está no mercado formal, normalmente não fica no emprego continua­mente. Tem períodos que está na formalidade e outros na informalidade, o que torna muito difícil cumprir os 20 anos exigidos de contribuição para o homem e 15 anos para a mulher para ter direito à aposentadoria. As pessoas que têm carteira assinada, por conta da rotatividade e de uma série de outros fatores, passam um bom período no mercado informal ou desempregadas”, comenta.

Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que mais de 20% dos idosos brasileiros não recebem nenhum tipo de aposentadoria. O impacto disso vai além do orçamento doméstico. Muitos idosos sem aposentadoria também sustentam filhos e netos, em um ciclo de dependência financeira que se estende por gerações.

Alternativas emergenciais ainda são insuficientes

Para tentar amenizar a situação, muitos idosos sem aposentadoria recorrem ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). No entanto, ele exige renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo por membro da família, o que limita o acesso.

Outra alternativa tem sido a busca por cursos, microcréditos ou pequenos negócios informais. A aposentadoria tardia ou inexistente tem empurrado idosos para o empreendedorismo por necessidade. Mas, sem apoio estruturado, os resultados são limitados.

Um senhora asiática, trabalhando com o serviço de limpeza. Ela usa avental e luvas, enquanto limpa uma janela e hotel. Imagem para ilustrar a matéria sobre idosos sem aposentadoria. Crédito: Stella_E/Shutterstock

Idosos sem aposentadoria enfrentam preconceito e cansaço

Além das dificuldades financeiras, há o desgaste físico e emocional. Muitos idosos sem aposentadoria enfrentam preconceito ao buscar emprego. Outros não têm mais saúde para trabalhar, mas não têm alternativa.

Contudo, o mercado é hostil aos mais velhos. Dados do Caged mostram que 160 mil vagas foram fechadas para trabalhadores acima de 50 anos em 2024. "Além do etarismo, há uma forte exigência por atualização e qualificação profissional, que eu acho que a gente precisa ter mesmo", afirma Ana Karla Cantarelli, pesquisadora e especialista em desenvolvimento de pessoas.

Caminhos possíveis para um cenário mais justo

Especialistas apontam que é necessário reformular as políticas públicas. Uma das propostas é ampliar o acesso ao BPC, revendo critérios de renda. Outra é incentivar a contribuição à Previdência de trabalhadores autônomos e informais, com menor burocracia.

Há também movimentos defendendo uma "aposentadoria cidadã" . Esse seria um benefício mínimo garantido a todas as pessoas idosas, independentemente do histórico contributivo. Iniciativas locais, como programas de inclusão produtiva e qualificação digital para pessoas com mais de 60 anos, vêm mostrando bons resultados. Mas ainda são pontuais.

A urgência do planejamento financeiro para evitar o colapso na velhice

Enquanto o Estado falha em garantir proteção social, o planejamento financeiro surge como ferramenta essencial para os trabalhadores evitarem se tornar idosos sem aposentadoria. Especialistas alertam que começar a poupar cedo e diversificar renda pode fazer a diferença entre uma velhice digna e a vulnerabilidade extrema.

O desafio é conscientizar as gerações mais jovens, já que 76% dos brasileiros não poupam para aposentadoria segundo o IBGE. Sem essa cultura financeira, o país pode ver milhões de idosos sem recursos básicos nas próximas décadas.


Quer se preparar para o futuro? Baixe gratuitamente o E-book da Previdência Complementar e saiba o melhor caminho para garantir a sua estabilidade financeira.

Leia também:

Trabalho depois dos 60 anos cresce de forma expressiva no Brasil

Encontrar trabalho depois dos 50 anos: um desafio constante no Brasil

Déficit da Previdência Social avança e exige nova reforma para conter escalada de gastos

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: