Ficar velho é parte natural da vida. Mas há quem veja esse processo como um problema e desenvolva um excessivo medo de envelhecer – uma condição chamada gerontofobia. Quem recebe este diagnóstico demonstra aversão a tudo que se relaciona ao envelhecimento e busca compulsivamente soluções que possam evitá-lo ou retardá-lo, como procedimentos cirúrgicos e medicamentos.
No Brasil, 90% das pessoas têm medo de ficar mais velhas, mostra uma pesquisa feita pelo Instituto Qualibest, a pedido dos Laboratórios Pfizer, com 989 entrevistados entre 18 e 61 anos. Ainda que esse temor esteja associado a problemas como doenças (citadas por 77%) e solidão (57%), ele demonstra um desentendimento do processo de envelhecimento, segundo Valeska Marinho, coordenadora do Departamento de Psicogeriatria da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
“Envelhecer é uma etapa como as outras, um processo. Não necessariamente está associada a incapacidades”, afirma. “É fundamental reconhecer que, mesmo com idade mais avançada, a pessoa pode se manter ativa e saudável. Existe ainda muito preconceito”, completa.
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Essa falsa visão – como a de uma pessoa com mais de 60 anos de idade em casa, sentada no sofá – permanece principalmente entre os jovens ou quem não convive com pessoas mais velhas, alerta Marinho. “Hoje o idoso é muito diferente, continua trabalhando, se exercita, viaja, tem amigos… Esta imagem precisa estar clara para que haja uma mudança de percepção e sejam evitados preconceitos.”
Esthela Conde, especialista em longevidade e medicina preventiva, reforça a avaliação. “Com o avanço da ciência, a preocupação da medicina com foco maior em prevenção e o surgimento de uma área de estudo específica para isso – a longevidade saudável –, envelhecer deixou de ser algo tão preocupante.”
“A gerontofobia surge quando o medo se torna exagerado, patológico”
Mesmo assim, o temor continua para algumas pessoas. “A gerontofobia surge quando o medo de envelhecer se torna exagerado, patológico”, ressalta Conde. Ela dá sinais quando a pessoa enxerga a proximidade de doenças e até da morte – principalmente entre quem não teve muita convivência com idosos ou que viveu muitas perdas de familiares em processos de doenças incapacitantes”, explica.
Sinal de alerta
A gerontofobia predomina entre mulheres, que costumam sofrer mais com a cobrança social pela aparência de juventude. É mais comum entre 50 e 60 anos, mas há casos de pessoas mais jovens com uma preocupação anormal com a idade, o que acaba por afetar sua autoestima.
“Muitas pacientes minhas com cerca de 40 anos já investiram de forma exagerada em procedimentos e tratamentos estéticos. Tem paciente que evita até fazer exames pelo medo de ‘descobrir’ algo, indo contra a prevenção. Ele começa a se tornar incoerente”, destaca Conde.
E é aí que o sinal de alerta deve ser acionado: quando o medo de envelhecer faz a pessoa buscar um padrão incompatível com a idade, indo contra o que é natural, colocar em risco sua saúde. “Há aspectos psiquiátricos associados a isso, e a situação deve ser abordada com cuidado”, afirma Marinho.
“É preciso ter bem claro que doença e envelhecimento não são sinônimos”
O primeiro passo, dizem as especialistas, é a informação. É preciso entender o que é o envelhecimento, saber que é possível buscar por um processo saudável de amadurecimento e, por meio de uma alimentação equilibrada e da prática de atividades físicas regulares, promover ganhos à saúde mental. “Envelhecer doente realmente não é legal. Mas é preciso ter bem claro que doença e envelhecimento não são sinônimos”, ressalta Conde.
Quem recebe o diagnóstico de gerontofobia precisa de um acompanhamento psicológico para que consiga encarar o envelhecimento de forma natural. Para isso, tanto terapia em grupo quanto individual podem ser grandes aliadas. “Costumo falar que envelhecer deveria ser uma meta para todos”, finaliza Conde.