Durante os últimos 16 anos, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz participou de um estudo global. Cerca de 300 mil pacientes acima de 60 anos fizeram parte da pesquisa. Essa participação foi um gatilho que levou o hospital a criar o seu Centro de Ciência para Longevidade. Ao longo desse período, 25 mil indivíduos ficaram a cargo do Oswaldo Cruz. Na América Latina, Brasil, Chile, Argentina e Colômbia representam o estudo, em um mapa mundial que reúne dados de 30 países.

Para dar suporte à criação do Centro de Ciência para Longevidade, a direção do hospital visa captar R$ 20 milhões ao longo de cinco anos. O investimento será destinado para as operações do projeto, que tem previsão de lançamento para o segundo semestre de 2023.

Neste ano, a meta de investimento é de R$ 4 milhões. Um terço do valor já está em uso, de acordo com a diretora-executiva de educação, pesquisa, inovação e saúde digital do Oswaldo Cruz, Carolina da Costa. Em suas palavras:

“Precisamos fazer captação para remunerar pesquisadores, dar bolsas de estudo e de pesquisa. Queremos criar módulos de educação, ajudar a pilotar soluções que sejam escaláveis, ter identidade própria e talvez até espaço físico, ser um laboratório livre.”

A importância de um Centro de Ciência da Longevidade

Grandes hospitais e empresas têm se interessado pelo envelhecimento em massa e mudança de perfil populacional. Segundo o hospital, em 20 anos, 30% da população brasileira terá mais de 60 anos. Já no resto do mundo, a média prevista é de 20%.

Mas esses dados não são novidade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, pessoas com 60 anos ou mais correspondiam a 14,7% da população. Já 65 anos o u mais, 10,2%.

Segundo a diretora do hospital, diferente da Europa, em que a população primeiro teve uma melhoria nas condições financeiras e depois envelheceu, no Brasil, as pessoas estão ficando velhas antes de terem estabilidade financeira. “Um centro como o nosso é fundamental para oferecer soluções efetivas, acessíveis para ajudarmos o sistema de saúde pública. A saúde suplementar ganha também porque queremos ajudar as empresas, que são as grandes fontes pagadoras da saúde suplementar, a também gerir a população corporativa e trazer soluções”, comenta.

O fator financeiro e a longevidade da população

A estabilidade financeira é um fato com muito peso para a população idosa no país. Segundo o Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi-Brasil) de 2020, 78% das pessoas mais velhas recorrem e dependem unicamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Apenas aqueles que possuem mais poder aquisitivo conseguem pagar planos de saúde privados.
A fachada do Hospital Oswaldo Cruz, que criou o Centro de Ciência para Longevidade. Crédito: Alf Ribeiro/shutterstock

O que diz o estudo global que foi gatilho para a criação do Centro de Ciência para Longevidade

Durante os primeiros quatro anos de pesquisa, pacientes entre 35 e 70 anos foram incluídos no projeto. Segundo o cardiologista Alvaro Avezum, diretor do Centro Internacional de Pesquisa do hospital Oswaldo Cruz, estudos foram realizados para compreender o motivo de alguns adoecerem, outros falecerem e outros permanecerem saudáveis.

Nas pesquisas, a grande força muscular é o fator mais importante para a sobrevida. Já entre os vilões, diabetes e hipertensão ganham a vez. As variações, que podem intensificar os problemas são meio ambiente, iluminação, segurança e até o estado das calçadas, devido aos acidentes que provocam. A escolaridade, por outro lado, ficou em segundo lugar como fator de importância para a longevidade.

De acordo com o cardiologista, nos últimos dois anos, 90% das mortes no Brasil foram causadas por infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Já em segundo lugar no ranking da mortalidade, estão problemas decorrentes da hospitalização.

O especialista conta que não é possível reduzir as mortes. Porém é necessário que existam propostas de melhorias em longevidade. Essas, auxiliadas à políticas públicas que venham a diminuir os fatores de risco para a população.

A hipertensão, por exemplo, é o fator que mais causa eventos e o segundo que mais causa mortes. Além disso, segundo Avezum, 45% da população brasileira é hipertensa. Desse grupo, apenas 60% tomam medicamento. Ainda, entre os que utilizam remédios, somente 12%  têm a pressão arterial sob controle.

Durante o período de 15 meses, um programa realizado na Zona Leste de São Paulo aumentou de 12% para 31% os hipertensos sob controle. Para o cardiologista, isso pode salvar vidas.

Como o Centro de Ciência para Longevidade irá funcionar

A proposta é que o Centro de Ciência para Longevidade compartilhe dados, sem custo, com órgãos do governo e indústrias de diversos setores. Contudo, caso algum parceiro privado queira algum recorte específico, poderá fazer uma contrapartida. Com isso, o hospital poderá trabalhar com possíveis negócios gerados.

Como uma das Entidades de Saúde de Reconhecida Excelência (Esre) do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS) do Ministério da Saúde, o hospital Oswaldo Cruz desempenha um papel importante na área pública. Além disso, colabora em estudos em parceria com o Populational Health Research Institute (PHRI), que realiza o estudo mundial Population Urban and Rural Epidemiology (Pure).

O Centro de Ciência para Longevidade já estabeleceu parcerias estratégicas.  "O Hospital das Clínicas está envolvido em diversas iniciativas relacionadas à longevidade. Enquanto o Insper pode contribuir com políticas públicas e ciência de dados", afirma a diretora. Em fevereiro, esse trio anunciou um consórcio para testar medicina remota e outras tecnologias.


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