Ações de Diversidade e Inclusão (D&I) estão no topo das discussões em organizações do setor público, privado e do terceiro setor. A diversidade contempla grupos diversos da população que são sub-representados, seja no mercado de trabalho, nos ambientes políticos e outros setores da sociedade. É o caso de mulheres e pessoas pretas e pardas. Elas formam, respectivamente, 51,1% e 56% da população brasileira (IBGE, 2022). 

Entretanto, apesar de 40,1% da população brasileira ter pelo menos 40 anos de idade, pessoas maduras são ignoradas nas ações de Diversidade e Inclusão nas organizações. Com o envelhecimento da população brasileira, esse grupo será a maioria da população em alguns anos. Engraçado que se uma empresa se recusar a contratar alguém por questões de gênero ou de raça terá de enfrentar, além de problemas legais, uma campanha nas mídias. Porém, nada ocorre se esse alguém for rejeitado por ter mais de 40 anos. Esse preconceito contra pessoas maduras chama-se etarismo ou idadismo e está muito presente no setor de tecnologia. 

Diversidade e Inclusão são temas que precisam ser levados a sério 

O preconceito contra pessoas maduras precisa ser entendido além dos custos de contratação acima da média ou de uma suposta defasagem tecnológica. Nesse sentido, pode-se entender esse preconceito acontece através da análise dos vieses inconscientes envolvidos.

Nas empresas de tecnologia, especialmente as startups, jovens fundadores têm preferência por contratar outros jovens que compartilham interesses similares por tecnologia, comportamentos sociais etc. Existe também o viés de estereótipo. Nele, pessoas maduras são percebidas como tendo menos energia que os jovens para atividades de empreendedorismo e inovação. Por outro lado, muitas pessoas maduras sofrem do viés de confirmação, onde repetem fórmulas que deram certo em problemas antigos, para resolver problemas atuais que são novos e desafiadores.

O letramento ou literacia sobre os vieses inconscientes nas organizações e com o público maduro é crucial para se combater o etarismo. A ideia antiga em nossa sociedade de que os maduros deveriam abrir espaço para os mais novos no mercado de trabalho tem sido confrontada com as sucessivas mudanças cada vez mais restritivas nos regimes de aposentadoria dos setores público e privado. 

Enquanto se fala muito do grupo dos “nem-nem jovens”, que nem trabalham nem estudam, pouco se fala da geração dos “nem-nem maduros” com mais de cinquenta anos, que nem conseguem se recolocar no mercado de trabalho nem conseguem se aposentar. Os “nem-nem maduros”, segundo o IPEA, já representavam em 2017 7,3 milhões de brasileiros, dos quais 5,6 milhões eram mulheres (representando a interseccionalidade de machismo com etarismo).

Inclusão de pessoas maduras deve se juntar à mesa de discussão

Considerando-se que o setor de tecnologia no Brasil vai demandar até 800 mil novas vagas até 2025 (Brasscom, 2023), e que os processos de seleção e recrutamento das empresas do setor não conseguem nem de perto atender essa demanda, a inclusão de pessoas maduras deve se juntar à mesa de discussão da inclusão de mulheres e pessoas pretas e pardas nesse setor. 

A inclusão de equipes intergeracionais permitirá uma complementaridade de experiência e resiliência de pessoas maduras com o ímpeto e a adaptabilidade ao novo dos jovens. Equipes de trabalho mais diversas não apenas refletirão mais o que é a nossa sociedade atual, como seriam mais inovadoras por trazerem perspectivas diferentes para a solução de problemas tecnológicos. A tecnologia acompanha o ser humano desde a pré-história e o maduro pode ser você hoje ou amanhã: vamos enfrentar esse desafio?


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