Pensionista do INSS, Heloísa Barreto, 65 anos, conta que perdeu o controle das suas finanças ao contratar vários créditos com juros muito altos para quitar contas. “Virou uma bola de neve e cheguei a comprometer 70% da minha renda mensal com o pagamento de dívidas”, diz. Ela não está sozinha. De acordo com dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), de 2021, os idosos fazem parte do extenso rol que reúne 72 milhões de endividados e 30 milhões de superendividados. O superendividamento de aposentados é uma realidade e tem como grande vilão o crédito consignado.

“Além da oferta agressiva, há facilidade em se obter esse crédito, já que as empresas têm a garantia de recebimento. Afinal, o valor da parcela é abocanhado antes mesmo de chegar às mãos do cliente. Os clientes veem nisso uma oportunidade fácil de conseguir dinheiro rápido e esquecem que é preciso pagar depois”, explica Maiara Xavier, especialista em psicologia econômica pela Fipecafi. Heloísa corrobora: “Quando chegava o salário da aposentadoria, ele nem vinha, grande parte ficava para arcar com os consignados”.

Mas como sair dessa encruzilhada e fugir do superendividamento? “É preciso revisar os gastos e tomar o controle do orçamento doméstico”, ensina a coach Vivian Sant'Anna, especialista em planejamento financeiro. 

“Sempre recomendo que as pessoas comecem a fazer seus pagamentos pelas dívidas que possuem as taxas de juros mais altas e que modifiquem seus hábitos de consumo para conseguirem sobreviver pagando suas contas mensais e a parcela do seu empréstimo”.

“É necessário cortar gastos excessivos, priorizar produtos e serviços realmente indispensáveis. Além de se desfazer de variadas fontes de crédito, como cartões e cheque especial, até conseguir organizar o orçamento”, acrescenta Maiara. “Depois, vale avaliar quais são as possibilidades mensais. Só assim é possível fazer algum acordo com as financeiras.”

Vivian também avalia que a primeira oferta nem sempre é a melhor. Além disso, ela recomenda que deve-se sempre negocie a taxa de juros do seu empréstimo.

A especialista sugere que deixar de pagar contas onde só está matando os juros pode ser uma alternativa. “Vale mais a pena juntar uma grana e fazer uma proposta do que ficar somente pagando juros de uma dívida que nunca terá fim”, completa.

Outra opção é analisar se existe algum bem que possa ser penhorado para conseguir um crédito mais barato e direcionar para as dívidas mais caras. “Mas é importante lembrar que, se não pagar, perde o bem. Por isso, antes de tudo, faça uma faxina no orçamento mensal, para que a base esteja firme e não caia em novas ciladas”, alerta.

Um homem idoso negro com notas de dinheiro em uma das mãos. Ele está sentado em uma poltrona e na sua frente tem uma mesa, um caderno de anotações e um notebook. Imagem para ilustrar a matéria sobre superendividamento. Crédito: Dragana Gordic/Shutterstock

11 dicas contra o superendividamento

  1. Relacione, em planilha, todos os ganhos e os gastos, inclusive os menores, e analise onde se encontram os escapes de dinheiro;
  2. Demostre a situação financeira para a família e discuta as prioridades de gastos;
  3. Reflita sobre a necessidade daquele produto ou serviço antes de comprar;
  4. Estabeleça metas e prioridades de consumo, elegendo o que é mais importante. Até porque nem tudo pode ser comprado no mesmo momento;
  5. Procure comprar à vista para não piorar o superendividamento;
  6. No caso de compras a prazo, compare tipos de contrato, taxas de vários bancos e prazos de pagamento;
  7. Fuja de financiamentos usando cheque especial ou cartão de crédito;
  8. Não comprometa mais de 30% de sua renda com dívidas;
  9. Renegocie dívidas para obter taxas de juros menores;
  10. Tente aumentar a renda com outras atividades profissionais;
  11. Seja feliz controlando seu dinheiro sem ser controlado por ele.

O que diz a Cartilha Superendividamento?

A cartilha de superendividamento de pessoas idosas foi criada pela Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, em 2021. Segundo o material, a culpa das grandes dívidas é a ausência de informação adequada sobre o tema. Ou seja, quanto menos conscientização, mais problemas financeros. 

No caso de Heloísa, sua situação perdeu o controle quanto ela recorreu a empréstimos pessoais e consignados em seu nome para ajudar um filho desempregado. “São os maiores casos de endividamento”, pontua Vivian. “Nesses casos, cuidado para o barato não sair caro e lembre-se que, quando você empresta o seu nome, a dívida é sua. E essa é uma excelente porta de entrada para muitas dores de cabeça”, completa.

“Por mais difícil que seja, é preciso dizer não. É preciso respeitar seus limites financeiros e tentar ajudar pensando em alternativas”, orienta Maiara. Ela pondera que, às vezes, muitos familiares que pedem ajuda não sabem da real situação financeira da pessoa. 

“Se continuarmos ajudando, nunca saberão, ficarão sempre achando que realmente temos um ‘extra’ para ajudar. Isso é péssimo para os dois lados. Eles não aprendem a resolver seus próprios problemas e não criam responsabilidade financeira. Quem empresta continua se afundando por medo de dizer não.”

O importante, alertam as especialistas, é ter consciência que a correção abaixo da inflação impacta negativamente no valor da aposentadoria. “Isso significa que, a cada ano, o dinheiro vale menos e seu poder de compra diminui”, sinaliza Maiara. Por isso deve-se viver realmente com aquilo que se ganha e administrar esse dia a dia. “Não é a hora de parar de sonhar. Contudo, é preciso se adequar à realidade existente e priorizar o que se quer, abrindo mão de algumas outras coisas”, finaliza Vivian.


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