Um novo estudo mostra que o consumo de álcool pode provocar o envelhecimento do cérebro antes do que se pensava. A pesquisa foi publicada na revista Alcohol: Clinical & Experimental Research e acompanhou adultos jovens com idades entre 22 e 40 anos. Mesmo o uso moderado da substância foi relacionado a mudanças na capacidade de adaptação e na saúde cerebral.
A pesquisa analisou 58 pessoas, muitas das quais começaram a beber na adolescência. Os dados reforçam que o consumo de álcool não afeta apenas a coordenação motora e o comportamento. Ele pode provocar alterações neurológicas que simulam um envelhecimento precoce. A pesquisa utilizou inteligência artificial para analisar exames de imagem cerebral, associando o histórico de consumo à redução da flexibilidade comportamental.
“O mais clássico efeito do álcool no sistema nervoso central é uma alteração que pode ocorrer no cerebelo, o órgão do equilíbrio, que pode levar a uma alteração da coordenação dos movimentos e da fala”, explicou Raphael Ribeiro Spera, neurologista do Hospital Sírio-Libanês.
Crédito: Andy Dean Photography/Shutterstock
Consumo de álcool e perda de flexibilidade cognitiva
Um dos principais achados foi a relação entre o consumo de álcool e a redução da flexibilidade comportamental. Os participantes que bebiam mais tinham mais dificuldade em se adaptar a novas regras em testes cognitivos.
Embora o estudo não prove causa e efeito, a correlação foi clara. Ou seja, quanto maior o consumo, mais avançado o envelhecimento cerebral. No entanto, erros repetitivos nas tarefas foram ligados principalmente ao envelhecimento acelerado, não apenas ao álcool.
Inteligência artificial identifica envelhecimento cerebral precoce ligado ao consumo de álcool
Os cientistas usaram ferramentas de aprendizado de máquina para estimar a idade cerebral com base em exames de ressonância magnética. O objetivo era entender se o consumo de álcool estava associado à dificuldade de adaptação a mudanças. Participantes precisavam realizar tarefas com regras que mudavam ao longo do tempo, exigindo respostas diferentes.
A maioria dos voluntários relatou consumo de álcool leve ou moderado e pouco uso de outras substâncias. No entanto, mesmo nesses casos, houve indícios de que o cérebro aparentava mais idade do que o esperado para a faixa etária.
Segundo os autores, o envelhecimento acelerado do cérebro se relaciona diretamente à inflexibilidade nas respostas durante os testes. Não foi o álcool, por si só, que causou os erros comportamentais, mas o envelhecimento cerebral relacionado a ele. “É interessante porque ele soma um dado na literatura um pouco mais preciso, demonstrando essa relação estatística”, avaliou o neurologista.
Estilo de vida influencia, mas álcool tem papel central
Apesar das descobertas, o estudo apresenta limitações. Não foram considerados fatores como alimentação, atividade física ou sono. Esses elementos também influenciam o envelhecimento do cérebro. Por isso, a relação entre o consumo de álcool e o declínio cognitivo não pode ser vista como causal, mas como associativa.
“Todo estudo que faz esse tipo de análise retrospectiva não consegue estabelecer uma relação de causa e efeito, apesar de poder supor essa relação, porque você não está avaliando outros parâmetros associados”, complementou Ribeiro Spera.
A Organização Mundial da Saúde reforça que não há nível de consumo de álcool considerado seguro. A recomendação atual é evitar o consumo diário e manter, no mínimo, dois dias de abstinência por semana. Pequenas doses já podem aumentar o risco de doenças graves, como câncer e problemas hepáticos. “O uso de álcool não tem nível seguro para o seu consumo”, alertou o especialista.
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